Agora não importa saber se o senhor conhecido pela alcunha de “Mustafá” é o hipotético dirigente, como o nome poderia indiciar, de uma célula sportinguista do califado. Nem me interessa escabulhar na enjoativa sucessão de notícias sobre a detenção do Dr. Bruno de Carvalho para interrogatório, mau grado o homem já seja culpado antes de ser acusado. Não, não me interessa estar aqui a discutir as complexidades e atrasos da justiça portuguesa, nem a ininteligibilidade social das penas aplicadas, nem a necessidade de se permitir prisão preventiva sem acusação.
Interessar-me-ia mais discutir a cobertura mediática que se faz sempre que alguém supostamente “importante” é preso, com a resultante elevação de estatuto pela própria detenção, cada vez com maior impertinência jornalística, sem respeito pelas suas famílias, pelos encarcerados e pelo público em geral. Tem de haver limites nos locais, momentos, perguntas – algumas de uma estultícia exuberante – e nas pessoas a quem elas são dirigidas. O que pode um pai dizer, à porta da cadeia improvisada, sobre a detenção do SEU FILHO?
Chegámos a um estado de coisas em que se faz o essencial do julgamento antes de começarem as audiências, aplicam-se as penas nos cafés, entre a leitura das últimas de desporto, modas – que pirosa que ela ia — e casamentos, e, no meio disto tudo, ainda há a possibilidade de transformar o hipotético culpado em vilão ou vítima consoante o gosto de cada um.
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