Os jovens podem aspirar a um futuro promissor, sendo certo que oportunidades compatíveis com um nível de vida médio só as conseguem encontrar além-fronteiras, onde as competências profissionais e sociais, as habilidades e o mérito são considerados nos critérios de acesso à vaga tão desejada. Lá, vence o capaz, o empreendedor, o criativo, o inovador, o social!

É certo que todos procuramos aprender ao longo da vida, ser felizes e estar realizados, mas não podemos ignorar que para tudo isso acontecer tem de haver um propósito. E este é o cerne da questão.

Qual é o propósito dos jovens portugueses?

O seu propósito não é muito diferente do propósito dos europeus, americanos ou asiáticos. Eles querem estabilidade financeira, trabalhar em empresas com modelos de trabalho misto (presencial e não presencial), com uma política de formação de quadros e um plano de carreira, sem que, com tudo isso, percam o bem-estar e a sua felicidade. Eles são mais desprendidos materialmente que a geração dos seus pais, mas profissionalmente valorizam coisas até então nunca ponderadas, como a flexibilidade de horário e o trabalho remoto. E como eles estão certíssimos.

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Nós saímos de uma crise de saúde mundial com repercussões diretas na saúde mental e física, onde quase todos tivemos e vivemos perdas irreparáveis de ente queridos, e nessa medida somos sobreviventes. Mas é ainda cedo, demasiado cedo, para percebermos as reais consequência e danos que esta provocou. E por ora já só queremos viver e estar de bem com a vida e com todos os entes queridos.

Importa saber se Portugal quer conservar os seus jovens, que são os quadros melhores e mais bem formados e com as graduações mais elevadas de sempre. Porque se o quiser fazer, o futuro das novas gerações tem de estar no centro da agenda política e ser objeto de preocupação de todos os partidos, da direita à esquerda.

Desapontada, até agora nada vi acontecer.

Em termos profissionais, o direcionamento das novas gerações não é o mercado nacional, porque muitos deles são poliglotas, mas antes o mundo onde podem procurar oportunidades que cá não lhes surgem. Outros há que encontraram, através da Internet e do trabalho remoto, a oportunidade de trabalhar em qualquer parte do mundo a partir de Portugal.

Como podemos inverter esta tendência de fuga das novas gerações para o estrangeiro?

Antes de tudo, os jovens têm de querer cá ficar. E não querer partir. Mas para isso acontecer tem de ser cativados e não ser reféns.

É evidente que os jovens estão desconectados da política, porque muito antes a política se desconectou deles. Como se pode pedir aos jovens para participem civicamente se não se sentem representados nos partidos e na política? Se durante toda a sua existência, e até atingirem a maioridade, nenhum dos políticos do seu bairro, da sua cidade, do seu país lhe enviou um Insta, um Snapchat ou um WhatsApp. Afinal o que querem dele agora? O que pensaram para ele? O desligamento é apenas uma consequência.

Os políticos portugueses não chegam aos jovens porque não estão onde eles estão, não falam dos seus problemas, nem a sua linguagem e nada nos seus discursos lhes é próximo. Curiosamente, os jovens, até estão atentos à realidade do seu país, mas não há medidas que os abranja, os ordenados são baixos porque não há uma política salarial, não há incentivos fiscais para quem inicia carreira, nem, por exemplo, uma feira para jovens empreendedores com financiamentos parciais. Ou outra coisa qualquer. Ora, como não acontece nada, os jovens portugueses partem. E, em contraponto, internacionalmente existem oportunidades. Algumas delas, para captarem novos residentes dispostos a fixarem-se durante alguns anos, oferecem benefícios que permitem aos jovens equacionarem serem emigrantes.

A sociedade portuguesa precisa de fazer uma profunda reflexão e repensar como estamos a tratar os jovens, porque ainda vamos a tempo de corrigir o que está mal. E os políticos têm de agir agora para recuperarmos as nossas famílias, as nossas tradições, o nosso País.

Esta nova geração tem uma sensibilidade e atenção ao outro, um sentido de justiça apurado, uma noção do seu valor que querem ver reconhecido, e são alheios às opções dos outros. Para eles o mundo é uma conexão digital. E tanto podem seguir a sua formação na faculdade, como tirar um ano sabático para viajar e aprenderem mais sobre o mais importante da vida.

É preciso ouvi-los, saber o que, na sua perspetiva, está a correr mal. Que problemas sociais os preocupam? Como olham para a vida pública? Que dificuldades sentem? E porque não se sentem representados e ouvidos? Perceber porque temas como as alterações climáticas, a transição digital e a igualdade e mobilidade social, entre outros, constituem as suas maiores preocupações. E saber o que se propõem fazer, ou gostavam que fosse feito, para alterar o estado de coisas.

É preciso mostrar às novas gerações que a política e os partidos se fazem de pessoas como eles.

Ai Portugal, cativa os jovens e fá-los sentirem-se parte do todo.