As remunerações da função pública são o objecto preferido da demagogia e do populismo. Todos os comentadores se mostram chocados por haver quem peça melhores condições. No caso, por os sindicatos da função pública terem dito da impossibilidade de os funcionários conseguirem atingir o topo da carreira. Estes comentários apareceram na sequência do governo ter reduzido a subida de escalões para 8 anos/pontos.

Eu percebo que nas redes a coisa seja apetecível, agora que José Miguel Júdice ou mesmo Miguel Pinheiro enveredem pelo mantra de que nem todos chegam a general parece-me, no mínimo, pouco sério. Nenhum cabo chega a general. Um general (topo da carreira militar) ganha 5 225,35€. Um cabo no início de carreira ganha 1 228,09€ e no “topo” 1 491,25€. Ou seja, depois de subir vários níveis e passarem umas décadas pode vir a ganhar mais 200€. É isto o topo. Também um técnico superior (um funcionário com uma licenciatura ou mestrado) ganha “de entrada” 1 122,84 € e no “topo” 3 561,11 €. Ou seja, 2000€ “limpos”, o vencimento de um pedreiro comum. Mas, para lá chegar, se tiver sempre a classificação de Bom, deverá esperar 104 anos:

Nós sabemos que a esperança de vida tem aumentado, mas 104 anos a trabalhar parece-me um pouquinho exagerado.

Já um assistente técnico tem a vida mais facilitada, começa só com 869,84€, mas consegue chegar ao “topo” em apenas 64 anos:

E nessa altura, se viver em Lisboa, já conseguirá sair de casa dos pais e arrendar o T1 com que sempre sonhou, isto se não comer, naturalmente.

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