Para quem está nas direitas, o nosso país passa por um momento bem complicado. O PS ocupa o Estado, o BE radicaliza a sociedade e o PCP “educa” – ou melhor deseduca – os nossos jovens nos liceus.

As notícias e reportagens dos últimos dias sobre a quantidade de jotas socialistas contratados para trabalhar no Estado foram impressionantes. O PS ocupa o Estado, incluindo as autarquias onde está no poder, com pais e filhos, tios e sobrinhos, primos e primas, maridos e mulheres, namorados e namoradas. A filiação no PS é mais eficaz para arranjar um emprego do que um curso superior numa boa universidade. Eu ainda sou daqueles que acredita que o estudo e as boas notas são a melhor forma de começar uma carreira profissional de sucesso. Aprendi isso com os meus pais e avós – e ensinei isso aos meus filhos. Infelizmente, o PS demonstra como estou errado.

Eis a vida de um socialista de sucesso. Entra na Juventude Socialista e aprende logo que a reunião certa é mais importante do que uma boa nota num exame. Trabalhar para os padrinhos políticos leva-o mais longe do que estudar e ler livros. Os que fazem o que deve ser feito chegam antes dos 30 anos a gabinetes de ministros e de secretários de Estado. Os mais eficazes são promovidos para lugares de chefia no Estado. Espera-os uma missão fundamental. Quando – e se – o PS regressar à oposição, compete-lhes boicotar os governos de direita. Gradualmente, o Estado português substitui os funcionários públicos competentes por militantes socialistas. Sobretudo no que interessa para exercer o poder e controlar os cidadãos: a segurança social e a máquina fiscal. Quem controla os impostos, as contribuições sociais e os impostos, tem um enorme poder sobre os portugueses.

Simultaneamente, o Bloco de Esquerda trabalha com zelo e método para radicalizar a sociedade. O Bloco lidera os ataques à noção tradicional de família, à história e à identidade nacionais, com a promoção de agendas sociais radicais e até de conflitos raciais. Apesar de alguma oposição de socialistas, mais conservadores em privado do que publicamente nas matérias de costumes, o PS aceita a agenda radical social do BE, em troca de favores na economia e no combate à corrupção. O Bloco está agora empenhado em legislar contra o enriquecimento ilícito, mas por que razão nunca impôs essa condição para aprovar os orçamentos durante os quatro anos da geringonça? Será que nessa altura o enriquecimento ilícito não era importante?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A conquista do Estado pelo PS, apesar dos fracassos monumentais de governos socialistas desde o início do século, de mãos dadas com a radicalização bloquista, é facilitada pelo nível miserável da educação pública no nosso país. Os meus três filhos estudaram no ensino público, vi os programas e contaram-me o que ouviam nas aulas de história e de estudos sociais. O ensino público está a transformar-se na promoção de uma agenda ideológica marxista, que ataca o passado de Portugal, que em alguns casos defende a antiga União Soviética e critica os Estados Unidos, que diaboliza o capitalismo, elogiando o período revolucionário de 1975. As teses Marxistas do nosso ensino oficial devem-se em grande medida à influência dos sindicatos comunistas na política de educação. As forças sindicais de um partido com 300 mil votos são nefastas para a educação de milhões de jovens portugueses.

Esta “educação” continua depois em muitas universidades, sobretudo nas Ciências Sociais. Veja-se o resultado. A maioria dos nossos debates públicos são de uma pobreza extrema e de uma ignorância assustadora. A falta de educação de grande parte da nossa classe política (sim, também incluo o Chega), manifesta-se todos os dias nas nossas televisões. Alguns dos nossos políticos e intelectuais costumam queixar-se das redes sociais. Tenho muitas vezes a impressão que todo o Portugal se transformou numa enorme rede social.

No meio de tudo isto, há muitos portugueses que resistem. Com tudo a correr bem entre 2015 e 2019 (o mundo pré-pandemia, lembram-se?), o PS não conseguiu sequer que 2 milhões de eleitores votassem em António Costa (votaram, mais precisamente, 1 milhão e 900 mil). Foi o governo que recebeu o menor número de votos desde 1987. O Bloco teve cerca de meio milhão de votos e o PCP um pouco mais de 300 mil. Ou seja, estes três partidos querem construir um poder absoluto sobre a sociedade portuguesa com os votos de cerca de 27% da população. Nas sondagens desde então, o PS está sempre abaixo da maioria absoluta, o BE não chega aos 10% e o PCP tem mais ou menos 5%.

O número de abstencionistas deve situar-se entre 3 e 4 milhões, mais do dobro dos que votaram no PS, no Bloco e no PCP. Parece-me óbvio que aqueles que não votaram no PS ou nas esquerdas, em 2019, dificilmente o vão fazer no futuro. Bem sei que os nossos especialistas em sondagens nos dizem que é muito difícil convencer os abstencionistas a votar. Mas devemos recusar essa condenação da nossa democracia. Um país onde mais de metade dos eleitores não vota tem uma democracia doente.

É à oposição que compete tentar curar a doença da nossa democracia. O que estão a fazer os partidos das direitas, os velhos e os novos, para entender os abstencionistas? Por que não votam? Quando deixaram de votar? Desistiram da democracia ou estão apenas insatisfeitos com a política? O que querem, o que pensam, o que defendem? Como é que se pode trazê-los de volta à política? Se os partidos de direita não estão a tentar compreender os abstencionistas, não estão a fazer nada. Está na altura de começarem a trabalhar a sério. Só se pode derrotar as esquerdas com os que deixaram de votar. É difícil? É seguramente. Mais uma razão para começarem a trabalhar a sério e rapidamente.