Não sei se os alunos da Universidade de Coimbra ainda mantêm o espírito saudável de irreverência, ou se se tornaram conformistas. Mas o Reitor da Universidade deu-lhes uma boa oportunidade para desafiarem a autoridade suprema. Espero que muitos deles levem pregos, ou hamburgeres, para almoçarem nos jardins ou nos pátios da Universidade. Ora, se isso acontecer, o que farão as autoridades da Universidade? Proibem os alunos de comer o seu almoço?

Mas a decisão do Senhor Reitor também dá oportunidades de novas ofertas aos restaurantes de Coimbra. Eu começaria a oferecer, com descontos para alunos (pagariam o mesmo que na cantina), “pregos à reitor”, ou – recorrendo ao nome do Senhor Reitor, Amilcar Falcão – “bitoques à Falcão.”

A decisão do Senhor Reitor obedeceu, antes de mais, a um instinto populista, mais próprio de um militante partidário ou mesmo de um dirigente político, do que de um académico de excelência. O Senhor Reitor quer entrar num concurso de popularidade com a Greta Thunberg. Como mostrou o artigo de ontem aqui no Observador, de Henrique Pereira dos Santos, a decisão não obedece a critérios científicos. Numa universidade, a ciência deve prevalecer sempre sobre o populismo. A universidade não é uma associação de militantes políticos.

A decisão do Senhor Reitor também não respeita a liberdade de escolha dos alunos. Haverá alunos, calculo que seja a maioria, que gostam de comer carne de vaca. Poderá haver mesmo alunos que consideram que carne de vaca deve fazer parte da sua dieta alimentar. Estes alunos serão obrigados a almoçar e/ou jantar fora da Universidade. Para muitos, que vivem com bolsas de estudo escassas ou com restrições financeiras, a vida de estudante ficará mais complicada. Serão ainda vítimas de descriminação em relação a outros estudantes com hábitos alimentares diferentes. Em vez de aumentar a liberdade de escolha, o Senhor Reitor diminuiu essa liberdade.

Ao instinto populista, juntou-se assim um tique totalitário. Aliás, os pequenos totalitários gostam de proteger as suas decisões com uma superioridade moral, dada neste caso pela luta contra as alterações climáticas. Não nego a necessidade de cuidar do ambiente, mas não pode ser feito à custa das liberdades individuais. Começam a surgir sinais muito preocupantes de que, mais uma vez, um “combate moral” é usado para limitar liberdades e aumentar o poder de quem decide. Sabemos muito bem como acabaram estas experiências no passado. E também sabemos que no início dessas experiências totalitárias, ninguém sabia como iriam acabar. Foram todas feitas em nome de grandes objectivos universais e morais.

Por fim, com esta decisão, e ao contrário de muitos dos seus ilustres antecessores, o Senhor Reitor não ficará na história da Universidade de Coimbra por feitos académicos ou científicos. Ficará conhecido como o Reitor que acabou com os bifes na universidade. Não deixa de ser estranho para um académico que chegou ao topo da sua carreira. Mas é o que acontece em tempos de populismo. Nem algumas das nossas universidades resistem.

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