Dia 30 de Janeiro os portugueses terão a oportunidade de eleger novos representantes para a Assembleia da República, levando à constituição de um governo que, esperamos, governará o país no quadriénio 2022-2026. Subindo ao poder em 2015, em circunstâncias já de si particulares dando a mão a partidos da esquerda mais extremada, depois de ter perdido eleições que devia ter ganho, o PS apresenta-se novamente a votos para nova legislatura, com o propósito de obter uma “maioria reforçada” à qual nem tem a coragem de chamar absoluta. E importa relembrar alguns episódios que marcam as últimas governações do PS.

A resposta miserável à tragédia de Pedrogão Grande; o caso Tancos; a morte de Ihor Homeniuk às mãos do SEF e o ensurdecedor silêncio que se seguiu; a impunidade de Eduardo Cabrita no muito triste episódio do acidente na A6; a incoerência e incapacidade de planeamento e ação nos festejos da conquista do campeonato pelo Sporting; a simplesmente vergonhosa partilha de dados de protestantes contra o regime de Putin com as autoridades russas por parte do ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, que paralelamente não teve problemas em usar meios institucionais para fazer campanha própria para as autárquicas; as constantes ligações de vários membros do PS a Luís Filipe Vieira, um dos maiores devedores à banca portuguesa; o polémico artigo 6 da Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital, que determina que o “Estado apoia a criação de estruturas de verificação de factos por órgãos de comunicação social devidamente registados e incentiva a atribuição de selos de qualidade por entidades fidedignas dotadas do estatuto de utilidade pública”, Alô, Orwell?; os tristes episódios geograficamente mais localizados, como o gasto de meio milhão de euros numa associação de figo-da-Índia em Castelo Branco, os subsídios de deslocação para Guimarães, no valor de mil euros por mês, a Sónia Fertuzinhos (cabeça de lista por Braga em 2019), que vivia em Lisboa com o Ministro Vieira da Silva, ou o vídeo promocional de elogio ao combate à pandemia, em que o PS usa militantes e dirigentes para se fazerem passar por “Cidadãos comuns”; e, claro, como não esquecer o fabuloso episódio na Junta de Freguesia de Arroios. No meio de tudo isto, o mais normal é até constatar que grande parte da campanha do PS para as autárquicas foi sob a narrativa de que só o PS seria capaz de gerir bem os fundos do PRR, um pouco por todo o país. Felizmente, os resultados não foram os mais positivos para os lados do Largo do Rato.

Depois, há o fabuloso caso da TAP, em que se vê um governo a estourar milhares de milhões de euros a fundo perdido numa companhia que, em mais de 70 anos de existência, sempre se revelou mais como uma fonte de prejuízo do que propriamente de lucro, contrariamente a outras companhias de bandeira estatais. Melhor ainda, Pedro Nuno Santos desafia os críticos a dizerem onde investiriam os 3,2 mil milhões de euros. O ministro pergunta mesmo: “Quer que o Estado pegue em 3,2 mil milhões de euros e invista numa fábrica de baterias, por exemplo?“. Não, senhor Ministro. Quero que o Estado pegue em 3.2 mil milhões de euros para reforçar a educação, os transportes e a justiça, bem como promover a reforma do SNS de forma a garantir, efectivamente, o acesso universal a cuidados de saúde. Mais sugestões havia a fazer mas este já seria um bom começo.

A juntar a tudo isto, o PS pura e simplesmente não conseguiu pôr Portugal a crescer. Não capitalizou o boom do turismo, consequência do excelente trabalho do Turismo de Portugal e do dinamismo económico a nível global no período 2016-2019, para a construção de um tecido empresarial forte e sustentável em Portugal, levando a que o país continuasse a depender quase em exclusivo deste sector. Não soube reforçar áreas chave como transportes, saúde, justiça ou educação. Falhou cabalmente na gestão da pandemia, ao não usar toda a capacidade de saúde instalada no país, permitindo que se registassem congestionamentos nos hospitais públicos enquanto privados continuavam com camas disponíveis, num acto de cegueira ideológica absolutamente indesculpável. Não soube dar um país que fosse atrativo para a geração mais qualificada de sempre, obrigando muitos dos seus talentos a emigrar em busca de vencimentos condizentes com o seu real valor e colocou Portugal como um dos países mais pobres da União Europeia. António Costa reconhece isto e diz que “não é aceitável o nível salarial que temos em Portugal”. Finalmente estamos de acordo, senhor Primeiro Ministro. Pena que seis anos à frente do país não lhe tenham sido suficientes para emendar este problema.

No dia 30, os portugueses têm uma escolha a fazer. Votar no PS é olhar para o escrito supra e dizer “sim, é isto que eu quero para o meu país”. É a descrença de que podemos ser, de facto, um país de referência pela qualidade de vida que oferece aos seus cidadãos em vez de ver países da Europa de Leste a ultrapassarem-nos em vários índices de desenvolvimento e produtividade. Votar no PS é, acima de tudo, manifestar a vontade em perpetuar uma mediocridade que assola Portugal há vários anos, contrastando com o brutal potencial que acredito haver no nosso país.

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