Já tudo terá sido dito sobre o comportamento peculiar do sr. Joe Berardo numa audição parlamentar. Há uma dimensão, todavia, que talvez valha a pena re-visitar e enfatizar. Trata-se de sublinhar que o comportamento do sr. Berardo não revela apenas uma idiossincrasia pessoal. Exprime uma visão do mundo que em regra está associada ao tribalismo — o qual, por sua vez, está em regra associado ao subdesenvolvimento, ao despotismo, ao abuso, e à pobreza.
O “desplante” do sr. Berardo revelou sem dúvida um total desrespeito, mesmo desprezo, pelo Parlamento, pelas leis do país, pelos Portugueses (e, já agora, também pelos mais elementares códigos de vestuário). Tudo isso é verdade e tudo isso é inadmissível. Mas o “desplante” com que revelou esse desprezo exprime uma característica mais funda: a sua total incapacidade para conceber a ideia de padrões gerais e imparciais de comportamento, independentes e acima de cada indivíduo ou grupo de indivíduos — e dos seus propósitos particulares.
A esta ignorância ou indiferença perante regras gerais e imparciais de conduta, Adam Smith atribuiu uma das chaves da pobreza das nações. As culturas que ignoram o conceito de regras imparciais só conhecem o interesse de grupos particulares — nós contra eles, os nossos contra os outros. “Os nossos” podem ser vários: a família, o clã, a tribo, o bairro, um grupo religioso, um grupo político, uma empresa, um grupo étnico, uma ‘mafia’, uma corte de favoritos dos poderes políticos de plantão.
Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.