Nos últimos tempos temos ouvido variadas vezes que esta crise do Covid-19 está a correr bem. Consigo perceber quem tem esta opinião. Tendo em conta o currículo do actual governo em situações de urgência, todos nós esperávamos o pior. Depois dos incêndios e de Tancos, pensando no estado em que Centeno deixou o SNS, é normal que os portugueses estivessem à espera dum cenário pior do queo de Itália e Espanha.

Felizmente o governo tem mais informação do que tinha o governo italiano quando a crise rebentou e não é tão irresponsável como o governo espanhol que promoveu marchas feministas gigantescas na rua quando o vírus já se estava a espalhar pelo país. Mas sobretudo, o governo não estragou o que a população e a sociedade já estavam a fazer. Quando as escolas começaram a fechar o governo mandou fechar todas, quando as pessoas estavam já todas a fechar-se em casa, o Governo declarou o Estado de Emergência. A verdade é que a sociedade se antecipou ao governo, mas este também não a impediu.

Contudo, é cada vez mais evidente que o Governo navega à vista nesta crise, sem qualquer plano. As soluções vão aparecendo aos soluços, a maior parte das vezes indo atrás daquilo que os corpos sociais já estão a fazer. Quando o governo declarou que podia requisitar os hospitais privados para combater o vírus, já estes se tinham oferecido, quando declarou que podia requisitar indústrias para redirecionar a sua produção para o combate ao vírus, já estas os estavam a fazer e quando criou a telescola já a maior parte das escolas tinham programas para poder acompanhar os seus alunos em casa. Se isto está menos mal, pouco crédito pode ser dado ao Governo por isso.

De facto, temos visto durante esta crise como, tantas vezes, teve o poder local que se substituir ao Governo. Basta pensar nos centros de testes criados no Porto, ou nos centros de acolhimento para sem-abrigos criados por Carlos Carreiras em Cascais, ou como Hélder Silva em Mafra já distribuiu máscaras por todos os seus munícipes. Uma das grande excepções é Lisboa, onde a resposta da Câmara varia entre curta e nula (o que leva alguns lisboetas a pensar se, já que temos um portuense como presidente da Câmara, não poderíamos trocar Medina por Rui Moreira).

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Mas infelizmente nem com todo o esforço popular, social e autárquico é possível dizer que está a correr bem. Não quando sabemos, afirmado por Graças Freitas, que um terço dos mortos são utentes de lares. É ofensivo afirmar que esta crise está a correr bem, quando uma parte especialmente frágil da população está a ser fustigada desta maneira por este vírus. E sim, eu sei que fazem parte de um grupo de risco, mas isso é mais uma razão para serem especialmente protegidos. Infelizmente, diante desta tragédia a directora-geral da DGS nada mais faz do que culpar as instituições que não seguem as indicações!

Ou seja, perante uma doença sobre a qual pouco se sabe (relembre-se que não foi assim há tanto tempo que a própria Graças Freitas afirmou que não se transmitia entre humanos), mas que afecta especialmente os mais velhos, o Governo nada fez para proteger os velhinhos que vivem nos lares. Não há um plano, não há material, não há nada, a não ser indicações! E a directora-geral da DGS tenta explicar que a culpa é das instituições. Ou seja, daquelas instituições que não têm dinheiro, não têm condições, onde os funcionários estão isolados para apoiar os utentes e a quem o Governo nega qualquer apoio. Mas o problema é mesmo as IPSS, que não seguem as “indicações”!

É vergonhoso que o primeiro-ministro diga, sorridente, que isto está a correr bem. Não, não está. O que se passa nos lares é uma vergonha para o país. E é a face visível do abandono a que os nossos idosos estão entregues em Portugal (e ainda terão que explicar o enorme aumento de mortes desde que esta pandemia começou, comparativamente ao ano passado, por outra causas que não o vírus).

No dia 21 de Fevereiro, quando o vírus já estava à porta, a ministra da Saúde dizia que o SNS estava preparado para aplicar a eutanásia, que era uma questão de humanidade, que com certeza que se faria as adaptações necessárias. Aparentemente o Governo é capaz de preparar e fazer adaptações para uma lei que não está em vigor para permitir a morte a pedido. Só não é capaz é de tomar medidas para proteger os mais velhos. Infelizmente, é mesmo caso para dizer: por favor não matem os velhinhos.