Sou filha, neta, bisneta, sobrinha… dessa gente a quem as élites lisboetas chamavam ratinhos, depois patos bravos, depois empresários de vão de escada, depois os patrões mais estúpidos do mundo ou, vá lá, menos cultos da Europa.

É verdade que não tinham estudado. Alguns aliás só fizeram a quarta classe quando precisaram de tirar a carta de condução. Toda esta gente nasceu pobre, num interior longe de tudo mas com uma determinação de viver melhor que chocava com as teses que os cultos, os que sabiam fazer empresas embora não as fizessem, tinham para os libertar, para os fazer evoluir e, diziam, para lhes dar consciência de classe.

Indiferentes a tanto propósito de libertação e de conscencialização, eles fizeram-se à vida. Muitos criaram as tais empresas de vão de escada. Nada disto hoje seria possível. E não porque as empresas de vão de escada tenham dado lugar a grandes empresas mas tão só porque as empresas para sobreviver precisam agora que os seus proprietários frequentem os gabinetes dos directores de serviço, dos presidentes das comissões e das autarquias, dos ministros… Que conheçam A e B. Não por acaso nesse mesmo país donde vieram os antigos empresários de vão de escada tornar-se funcionário da autarquia é agora a saída profissional mais ambicionada.

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