O poder local foi, sem dúvida, um dos maiores sucessos da Democracia de Abril.

Esse sucesso afere-se pelo grau de desenvolvimento e acesso das populações a um conjunto de direitos e serviços essenciais que o regime anterior lhes negou, onde se inscreve o saneamento básico, equipamentos e infraestruturas rodoviárias que potenciaram investimentos multiplicadores.

Os autarcas foram os grandes obreiros dessa enorme transformação de Portugal.

À fase do hardware sucedeu-se a fase do software, ou seja, a dimensão qualitativa das políticas locais exerce-se hoje cada vez mais na área educativa, habitacional, social e na expansão económica e empresarial, visando a captação e fixação de emprego e empresas.

Com o sucessivo aumento de competências em áreas determinantes para a qualidade de vida das pessoas, equidade e sustentabilidade dos territórios, aumenta igualmente o nível de exigência e capacidade para quem exerce funções autárquicas.

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A uma nova geração de políticas autárquicas, a busca de uma sociedade mais verde, mais justa e mais digital, entendo que deve corresponder um perfil de autarca compatível com esse novo horizonte em perspectiva.

Vem esta reflexão a propósito das próximas eleições autárquicas, onde alguns partidos buscam candidatos como se estivessem a fazer castings ou captação para reality shows.

Cada vez mais devemos buscar candidatos com perfil, percurso, preparação e experiência decisória para enfrentarem com elevada responsabilidade a prossecução do superior interesse coletivo em tempos de especial complexidade.

Com efeito, a próxima década precisa de autarcas particularmente bem preparados para exercerem novas competências decorrentes da abrangente reforma da descentralização de competências e para lidarem com as inúmeras oportunidades que decorrem da Agenda 2030 e do Plano Nacional de Recuperação e Resiliência.

Precisamos, ainda, de homens e mulheres autarcas com visão estratégica, que não se esgotem na conjuntura e que, sobretudo, não deixem as pessoas reféns dos seus atavismos, porque obedecem a lógicas ideológicas imobilistas que impedem os territórios de avançar.

Os cidadãos estão cada vez mais exigentes e querem sobretudo respostas efetivas, soluções para os seus problemas e já não aceitam meras devoluções de culpa.

O autarca que fica na memória das pessoas é o autarca fazedor, que é força agregadora e que promove a alma coletiva do seu território.

Afinal, a política é o espaço das ideias que sonham e que nos fazem avançar e o futuro inscreve-se profundamente no presente.

A política não deve ser esteio dos que são mera força de bloqueio ou falam em tom histriónico, criando divisões entre as pessoas (os bons e maus portugueses), como se a razão se medisse pelos decibéis.

Nestas eleições é vital fazer as escolhas certas, porque se a Democracia habita no poder local, essa habitação precisa de ser edificada pelos/as melhores e em auscultação e diálogo permanente com as populações que servem.