O CDS chega a eleições internas depois de uma autêntica derrocada nas legislativas de Outubro. O partido obteve a pior percentagem de sempre (4,25%) e igualou o segundo pior resultado em termos de número de deputados (5, quando em 1987 elegeu 4).

Nestas eleições em que o CDS procura definir o seu futuro, apresentam-se 5 candidatos a suceder a Assunção Cristas: João Almeida, Filipe Lobo D’Ávila, Francisco Rodrigues dos Santos, Abel Matos Santos e Carlos Meira.

Diria que o cenário não é particularmente animador para o único partido fundador da Democracia nascido das cinzas do antigo regime.

Antagonizado logo à nascença pelo movimento revolucionário, a vida do CDS nunca foi propriamente fácil. Afirmando-se de centro por força das circunstâncias, foi se mantendo como bastião último daqueles que se identificavam como não sendo de esquerda, até que finalmente, quando passou a ser aceitável ser de direita, se tornou o baluarte daqueles que se afirmavam como tal.

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A assunção da sua ideologia nunca o impediu, porém, de se confundir no eleitorado em função daquilo que lhe poderia eventualmente trazer mais ganhos políticos. Na eterna busca pela sua persona eleitoral, alternadamente o CDS conseguiu ser o partido dos reformados e pensionistas, dos polícias, dos agricultores, dos pescadores, dos feirantes, dos militares e de outras tantas corporações e grupos sociais e profissionais.

Pese embora este percurso sinuoso, o CDS nunca deixou de ser o que sempre havia sido… um partido de Direita.

Falo da Direita na sua essência aristocrática, nobre, latifundiária, tauromáquica, abastada, devota, conservadora nos costumes, distante do povo votante e na qual poucos se poderiam dar ao luxo de esclarecidamente se rever.

No entanto, nas últimas eleições legislativas, “A Direita”, como sempre a conhecemos, acabou.

O surgimento da Iniciativa Liberal e do Chega (cada um à sua maneira) dinamitou por completo aquele espaço político. Recordo que estamos a falar de dois partidos que, para já, só têm 1 deputado cada.

Se a Iniciativa Liberal, que originalmente em Portugal diz-se despudoradamente liberal na economia e nos costumes, começa a arrebanhar os possuidores de farta riqueza para o seu eleitorado (vindos do CDS mas também do PSD), o Chega foi buscar votos ao povo ignorante ou mal informado, desiludido com a elite política e que agora concebe a ideia de votar num partido de Direita, provavelmente esquecendo-se que o é porque “diz o que as pessoas querem ouvir”.

O que sobra para o CDS? Sobrará eventualmente a elite que, apesar de endinheirada (o que a poderia levar para a IL), é conservadora nos costumes e vê como retrocesso as medidas tomadas nesse campo pelos Governos PS nos últimos 15 anos.

Talvez Francisco Rodrigues dos Santos já ande a pensar nisto há algum tempo, o que explicaria o seu conservadorismo desassazonado apostado, por exemplo, na defesa da criminalização do aborto e da educação nas escolas para abstinência sexual.

E isso é suficiente (repare o leitor como não usei a palavra “chega” para evitar trocadilhos)? É evidente que não. Pior que isso só fazer de Chega II, ideia que provavelmente geraria sorrisos em Abel Matos Santos, mas que, além de travestir (outra vez) o partido, significaria dar a escolher entre a cópia e o original. De entre os dois, bem sabemos o que normalmente as pessoas preferem…

O partido não estará certamente preparado para isto mas, correndo o risco de uma precoce antevisão (sem estar a ler nas cartas ou na bola de cristal), eventualmente a médio prazo o CDS caminhará para a indiferença do eleitorado se nada de substancial se alterar naquela que parece ser a ordem natural das coisas no que toca à política.

Veremos o que lhe espera.