O bloco europeu deixou-se fragilizar através de uma aposta, estratégica e desmedida, na transformação verde menorizando, sempre, aquilo deveria ser uma transição equilibrada entre os vértices da economia, ambiente e o quadro social. Esta opção da UE trouxe para a rua milhares de agricultores por esta europa fora, o que obrigou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, a iniciar um “dialogo estratégico” por forma encontrar um caminho, que até há bem poucos dias era ignorado, para melhorar as condições do rendimento aos agricultores e a sustentabilidade do setor.

Começa a surgir o tempo da sociedade, em especial para os atores políticos europeus, perceberem que o setor agroalimentar é insubstituível.

Sem agricultores não há alimentação e, naturalmente, não existira qualquer economia possível. E é tão simples de perceber! Enquanto a ciência não arranjar forma de as pessoas viverem sem se alimentar, a vida depende do setor agroalimentar. Apenas e tão só!

Portugal não é exceção neste continuo desprezo por todos aqueles que diariamente cultivam a terra, apostam na pecuária e produzem alimentos.

Os agricultores nacionais, sejam do Norte ou do Sul, sejam pequenos, médios ou grandes, disseram sempre presente quando foi necessário. Lembro que tivemos uma conjuntura adversa (covid, secas extremas, quebras na cadeia de abastecimento, guerras, inflação a níveis inimagináveis), que obrigou o setor a um enorme esforço coletivo, a ser mais resiliente e encontrar soluções para garantir, diariamente, comida nas prateleiras dos supermercados.

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Estes acontecimentos inesperados mostraram muitas fragilidades nas nossas políticas públicas e na forma deficiente como temos olhado para a segurança alimentar nacional. Ficou claro que a agricultura precisava e merecia mais estabilidade e simplificação nos instrumentos públicos, uma maior previsibilidade nos calendários das candidaturas e pagamentos e uma melhoria nos mecanismos de apoio ao rendimento.

Infelizmente, após todo este processo e que devia ter sido uma aprendizagem, o que foi entregue aos agricultores foi um quadro financeiro com menos dotação que o anterior, medidas que colocaram em causa manutenção do rendimento, uma enorme instabilidade nas candidaturas, aumento da burocracia, atrasos e imprevisibilidade nos pagamentos dos apoios.

Foi com este cenário que tivemos uma campanha dificílima em 2023, com um processo de candidaturas aos instrumentos PEPAC de uma complexidade anormal que obrigou a uma enorme demora no sistema e originou um calamitoso atraso no calendário dos necessários e esperados pagamentos aos agricultores.

Quando se pensava que o pior tinha passado somos confrontados com um corte de 35% e 25% nos valores atribuídos dos ecorregimes da agricultura biológica e produção integrada, respetivamente.

É tempo de fazer uma profunda reflexão sobre o papel fundamental da agricultura na sociedade.

É preciso dizer bem alto que a culpa da poluição no mundo não é dos produtores pecuários, que criam animas para nossa alimentação.

É preciso esclarecer que a falta de água é culpa de não existirem infraestruturas de armazenamento suficientes e não porque os agricultores utilizam demasiada água para produzir alimentos, que são vida.

É necessário anunciar que os agricultores têm vindo, dia após dia, a mudar a sua forma de produzir de modo a acompanhar as melhores praticas ambientais e adaptar medidas para o uso eficiente da água.

O setor agroalimentar será sempre a solução e nunca um problema. Agricultura é vida!

Por enquanto este é ainda um Pais que despreza o prado, mas exige comida no prato.