Uma tentativa da Polícia Militar brasileira de retomar a posse de um edifício ocupado por sem-abrigo originou, esta terça-feira de manhã, confrontos violentos no centro de São Paulo, com lojas saqueadas, um autocarro incendiado e várias pessoas detidas.

O comandante da Polícia Militar Glauco Silva de Carvalho informou que, no cumprimento de uma ordem judicial, tentaram negociar a saída dos sem-abrigo do antigo edifício do Hotel Aquarius na Avenida São João, no centro de São Paulo, durante duas horas sem sucesso, noticia a Folha de São Paulo. Altura em que tomaram o edifício, expulsando os ocupantes. O edifício de 20 andares, abandonado há 10 anos, estava ocupado há mais de seis meses por 200 famílias, num total de 800 pessoas, ligadas a movimentos de luta por moradias, refere o site ZH Notícias.

A juíza Maria Fernanda Belli, da 25ª Vara Cível do Foro Central, determinou a reintegração de posse do prédio, a pedido da empresa proprietária do imóvel, a Aquarius Hotel Limitada, comunicou a Secretaria de Segurança Pública. Mas Ivaneti Araújo, coordenadora do Movimento Sem-teto do Centro, acusou o proprietário de não cumprir o acordo: deveriam ser disponibilizados 40 camiões e 120 carregadores, segundo o site ZH Notícias. Esta era já a terceira tentativa de reintegração do edifício, tendo as duas anteriores sido abortadas porque o número de camiões e carregadores era insuficiente.

A polícia atirou bombas de gás lacrimogénio e balas de borracha, os sem-abrigo atiraram móveis e outros objetos. Os conflitos continuaram, com um grupo de manifestantes de caras tapadas a atacar a polícia e um autocarro incendiado junto ao Teatro Municipal, mas que podem não ter sido causados inteiramente pelos sem-abrigo – outras pessoas podem ter-se aproveitado do momento para causarem distúrbios. O resultado foi 70 detidos, principalmente sem-abrigo, e três feridos, dois dos quais polícias. Os confrontos e as tentativas de saque nas lojas do centro da cidade brasileira levaram ao encerramento de vários estabelecimentos e ao bloqueio do trânsito durante toda a manhã.

Este foi apenas uma das várias reintegrações que estão planeadas. Mais de mil famílias pobres e sem moradia poderão ser despejadas mediante o cumprimento das ordens de reintegração de posse, refere Ivaneti Araújo, na página do movimento Frente de Luta por Moradia. A ativista acusa o Poder Público (judiciário, executivo e legislativo) de não ter em consideração as necessidades destas famílias, incluindo o direito universal a uma moradia. Os edifícios ocupados estão abandonados há vários anos e sem função social. Ivaneti Araújo defende que os sem-abrigo devolvem a função social aos edifícios, como tal, e perante a lei, tem direito a ocupá-los.

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