A peça “Radiografia de um nevoeiro imperturbável”, a partir de “Príncipe Bão”, de António Augusto, que se estreia na quinta-feira, em Lisboa, aborda o “Rei D. Sebastião na sua intimidade”, disse à Lusa o seu encenador, Daniel Gorjão. “Radiografia de um nevoeiro imperturbável” estará em cena na sala estúdio do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, até 7 de dezembro, numa coprodução com o Teatro do Vão, e é uma criação de Daniel Gorjão, que também assina a direção artística.

A peça “é a história de amor de D. Sebastião por um pajem, Luís da Silva”, disse Gorjão, que salientou que reflete questões como “o peso de ter de combater, ir fazer a guerra em África e não o deixarem amar quem gostava, o que o faz entrar em desvario”. O encenador defendeu a existência de “um paralelismo da peça com a atualidade, pois aborda a questão da posição de uma pessoa que está no poder e sofre pressões de vários lados, como D. Sebastião sofreu por parte da nobreza e do clero”.

“D. Sebastião dá ordens sob essas pressões, sem saber o que está fazer, mas acreditando que está a fazer o melhor”, acrescentou. Toda esta ação dramatúrgica passa-se num cenário “muito depurado, constituído apenas por um enorme espelho e uma linha de água”.

A escolha cénica e cenográfica “remete para que o público se veja, enquanto assista reflita-se a si próprio, para nos encaramos como aquilo que somos, que é uma das mensagens da peça, além de permitir ver a peça de diferentes ângulos” Uma das mensagens, referiu o encenador, é “natureza de cada um de nós, algo com o qual não podemos lutar, e isso ouve-se na peça, através do Luís da Silva, que afirma, ‘a natureza de cada um é cousa que não se muda facilmente, não podemos mudar aquilo que somos’, e é isso que devemos assumir”. “Somos como somos, e não há volta a dar”, afirmou Daniel Gorjão.

“As personagens usam trajos urbanos de grande contemporaneidade, sem remeter para a época, mas usando a linguagem barroca. Há assim uma atitude contemporânea”, realçou. O elenco é constituído por João Duarte Costa, na personagem D. Sebastião, Miguel Raposo, pajem, Teresa Tavares, Cátia Terrinca, a louca, e também André Patrício, João Villas-Boas e ainda seis pessoas da cidade de Lisboa, escolhidas depois de audições. São elas Ana Rita Rosa, André Delgado, Fernanda Azougado, Filipe Freitas, Inês Cruz e João Reis.

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