destaque

Apesar do empate com o Vitória no Estádio D. Afonso Henriques, o Benfica veio a beneficiar do empate do Futebol Clube do Porto no Restelo, e sagrou-se bicampeão nacional. Uma façanha que é tanto mais de exaltar, se se recordar que a última vez em que os encarnados conseguiram levar o título para casa em duas temporadas de seguida, foi na longínqua época de1983/1984, então sob o comando de Sven-Göran Eriksson.

A época não foi de todo fácil para Jorge Jesus, o grande obreiro do título do Benfica esta temporada. Logo à partida, porque se viu privado de Oblak, Garay, Siqueira, Matic (que saiu em janeiro da época passada), André Gomes, Enzo Pérez (este, em janeiro último), Markovic e Rodrigo, ao todo, oito habituais titulares de 2013/2014. Foi preciso criatividade (ou um “milagre”?) para fazer de Jardel um Garay, de Eliseu um Siqueira, de Pizzi um “8” à Enzo ou de Jonas, que vinha de uma época em branco no Valência, um Cardozo, mas Jesus conseguiu-o.

Nem sempre com a “nota artística” que tanto apregoou no passado, mas conseguiu-o. À parte os “colinhos” e dos “mantos” que de que, acusam-no os adversários, terá beneficiado; à parte o facto de o Porto ter, muito provavelmente, o plantel mais forte da última década; à parte o desempenho na Champions League ter sido uma desilusão, o Benfica conseguiu ser líder isolado desde a 10ª jornada.

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A luta pelo último lugar que dá acesso à Liga Europa continua ao rubro. Se à entrada para a 34ª jornada havia quatro equipas com o sonho de chegar ao 6º lugar, na derradeira só Paços de Ferreira, Belenenses e Nacional (este último só lá chegará se vencer esta noite o Boavista, o Paços perder no domingo e o Belém não vencer) o podem conseguir. A equipa de Paulo Ferreira, que venceu a Académica na Mata Real, tem mais dois pontos que o Belenenses, mas terá que ir vencer à Choupana no próximo domingo. Se perder, e o Nacional vencer hoje no Bessa, e tendo o Nacional vencido na primeira volta em casa do Paços de Ferreira, a vantagem é da equipa de Manuel Machado.

O Belenenses, que ganhou um precioso ponto, no Restelo, ao Porto, vai jogar com o já despromovido Gil Vicente, em Barcelos. Se para o Paços de Ferreira a Europa é uma memória recente, dado que, em 2013/2014, por lá andou com Costinha, o Belenenses (é importante elogiar o trabalho de continuidade que Jorge Simão vem fazendo desde a saída de Lito Vidigal) foi pela última vez à Taça UEFA em 2007, com… Jorge Jesus. Façam as vossas apostas.

desilusão

O Gil Vicente tem melhor plantel que o Arouca, que a Académica, que o Moreirense, e, até, que o Boavista. Mas a verdade é que, com a derrota em casa do Penafiel, último classificado, vai jogar em 2015/2016 na Segunda Liga, algo que não acontecia desde a despromoção no seguimento do “Caso Mateus”, em 2006.

“Mota é careca, mas é um treinador da nova vaga”. Assim o descreveu António Fiúza, o presidente do Gil Vicente, quando José Mota veio substituir, logo à 4ª jornada, João de Deus. De lá para cá, Mota perdeu 15 jogos, empatou 11, e só venceu quatro, o que é francamente pouco para um Jean-Luc Godard, futebolisticamente falando, de Paredes.

Um plantel que tem o espectacular Adriano Facchini na baliza, que tem o jovem cabo-verdiano Pecks (de quem se diz que está debaixo de olho do Man. City) ou o experiente Cadú na defesa, que tem João Vilela a capitanear desde o meio-campo e se deu ao luxo de despedir César Peixoto, um plantel que tem os velozes Diogo Viana, Caetano ou Yazalde lá na frente, não pode, nunca, ficar em penúltimo lugar – e ainda pode ser último, mas dificilmente o Penafiel pontuará no Dragão.

A culpa não é de João de Deus nem do planeamento que este fez da época. Aliás, o bom trabalho de João de Deus está à vista nos resultados que o Sporting B vem conseguindo na Segunda Liga. O “galo” é todo de José Mota.

frase

“Dou os parabéns a todos os que contribuíram para que o Benfica fosse campeão.” A ironia de Julen Lopetegui no final da partida no Restelo não dignifica, nem a vitória do Benfica, e, menos ainda, a derrota do Futebol Clube do Porto. É o tipo de comentário que – e “perdoando-lhe” o facto de ter sido proferido na flash interview de um jogo que acabou por ser uma tremenda frustração – não pode e não deve repetir-se. E, mais, só é do apreço de adeptos “extremistas” – e há-os em todos os clubes, como bem se viu no Marquês –, pelo que deve ser repudiada por quem vê o desporto como uma competição, de paixões, sim, acicatadas, claro que sim, mas não como um ringue, verbal, ou, tantas vezes, físico.

É verdade que o Benfica foi beneficiado em várias partidas. Não há que ter receio de empregar o termo: beneficiado. Como o Porto o foi. Como o Sporting o foi. Tal como o Juventude de Évora ou o Eléctrico de Ponte de Sôr. A arbitragem é falível. Como um avançado que falha um golo no derradeiro sopro do jogo é falível. Como um treinador que aposta num jogador que até treinou bem durante a semana, mas que, no jogo, não rendeu o que dele se esperava, é falível. Se o Futebol Clube do Porto se tivesse sagrado campeão, seria um campeão justo. O bicampeonato do Benfica é justo. Foi um dos campeonatos mais renhidos das últimas décadas, e, a bem da verdade, nem Benfica nem Porto demonstraram um domínio avassalador como em títulos anteriores.

Lopetegui poderá não gostar de Jesus, que tantas vezes lhe trocou o nome, provocando-o – o “Lotopegui”, dito repetidamente, não foi um deslize insignificante, e, menos ainda, um mero descuido de Jesus: foi uma provocação. O que Lopetegui não pode é “agarrar-se” ao seu lugar no Porto com comentários incendiários. Até porque não precisa. É que mesmo não tendo conquistado nada com o melhor plantel da Liga, fez várias partidas a lembrar o Barça de Guardiola, “descobriu” um Rúben Neves que, com outro que não ele, e por muito valor que tenha, nunca chegaria com 17 anos à titularidade, “reinventou” Quaresma com doses bem administradas de banco, e catapultou Óliver para níveis de competitividade (o talento já lá estava!) que nem Simeone adivinharia que o médio espanhol tinha. Era desnecessário, Julen.

resultados

Paços Ferreira 3-2 Académica

V. Setúbal 2-1 Arouca

V. Guimarães 0-0 Benfica

Sporting 4-1 SC Braga

Moreirense 1-1 Estoril Praia

Penafiel 2-1 Gil Vicente

Belenenses 1-1 FC Porto

Marítimo 4-0 Rio Ave

* o Boavista-Nacional (20h) apenas se disputada esta segunda-feira.