Os papéis inverteram-se e a tensão provocada pela agitação dos mercados também mudou de lugar na Assembleia da República. À esquerda já se ensaiam explicações para o agravamento dos juros da dívida portuguesa registado esta semana – a que se seguiu à apresentação do Orçamento do Estado – e as primeiras foram testadas na manhã desta sexta-feira, durante o debate quinzenal no Parlamento.

Catarina Martins, pelo Bloco de Esquerda, encontrou uma explicação que parece ter agradado ao PS, tanto que foi quase imediatamente partilhada pelo secretário nacional e porta-voz do PS para as relações internacionais na sua página de Facebook. Mas vamos até ao princípio.

Quinta-feira à noite, o ministro das Finanças alemão atirou uma frase que fez estalar a polémica, aconselhando Portugal a “prestar muita atenção ao que se passa e não continuar a perturbar os mercados, dando a impressão que quer recuar no caminho percorrido até aqui. Isso sim seria muito perigoso para Portugal”. No debate quinzenal, Catarina Martins fez referência a esta declaração e deu-lhe a sua interpretação.

Quando a banca alemã está em apuros, a Alemanha aponta o dedo aos países periféricos.”

Porfírio Silva, o porta-voz do PS para questões internacionais, aproveitava a deixa nas redes sociais para resumir o que ouvira no debate. “Catarina Martins: O ministro das finanças alemão tenta esconder a crise do Deutsche Bank apontando o dedo a Portugal. Pena é que a direita portuguesa se cole a essa manobra. E o PM responde: não se pode repetir a manobra de 2011, quando uma crise dos mercados financeiros foi transformada numa crise das dívidas soberanas”.

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É que no debate, António Costa também não fugiu ao assunto, dizendo mesmo que “ninguém ignora que os mercados estão particularmente agitados com o sistema financeiro de vários países europeus e isso coloca pressão sobre economias mais frágeis como a portuguesa. Estamos atentos. Tudo faremos para prevenir riscos e reforçar a confiança porque é um capital fundamental”. Mas o primeiro-ministro e líder do PS também aproveitou para atirar à União Bancária.

Porventura, a agitação nos mercados tem a ver com uma União Bancária mal explicada, incompleta, mal assumida que pode ter consequências significativas para todos nós”.

Por agora a estratégia da esquerda passa por atirar para as instâncias europeias a responsabilidade por qualquer instabilidade nos mercados, sacudindo o fantasma do passado e aquele limite máximo que o próprio ministro das finanças, Teixeira dos Santos, colocou como o valor que lançaria o país no pedido de ajuda externa: 7% de juros da dívida a dez anos.