A coordenadora do BE, Catarina Martins, afirmou na terça-feira, em Coimbra, que Portugal não pode ficar à espera “de uma hipotética solidariedade” europeia, devendo recusar quaisquer sanções, simbólicas ou não, e desvincular-se do Tratado Orçamental.

“O dia de hoje mostrou que Portugal não pode ficar à espera de uma hipotética solidariedade de uns hipotéticos parceiros europeus”, ficando claro que a forma como está feito “o desenho institucional das sanções” não permite solidariedade, apenas imposição e regras que servem “o poder financeiro”, criticou Catarina Martins.

Para a coordenadora bloquista, o Governo deve “acionar todos os mecanismos, desde os mecanismos legais dentro da União Europeia aos mecanismos políticos da afirmação de um projeto próprio, aos mecanismos democráticos do seu país para ouvir o seu povo”.

Segundo Catarina Martins, o que o Governo não deve fazer é “ficar à espera”, na ingenuidade de que “apareça essa solidariedade que não vem”.

“Quantas mais desilusões precisamos”, questionava a dirigente do Bloco de Esquerda, que falava durante na noite de terça-feira, na sessão pública “A Europa e o Brexit”, que decorreu na Oficina Municipal de Teatro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Apontando para o PS, que apoiou o Tratado Orçamental, Catarina Martins enfatizou que este é um tratado que só tem demonstrado “imposição e destruição da Europa”.

“Temos que repensar a forma como nos organizamos”, disse, referindo que tal não quer dizer que se deixe de “estar num espaço europeu, mas não assim”.

Para a líder do BE, é necessário “coragem” para dizer que o Tratado Orçamental, “que é o tratado das sanções, está errado, não devia ter existido e que está na altura de se desvincular dele e, se preciso for, o Governo deve pedir o apoio popular para o fazer”, com um referendo, que é permitido pela Constituição.

Catarina Martins sublinhou que se têm de recusar “quaisquer sanções, simbólicas ou não”, visto que “são sempre um ataque”.

“Não é começar a dizer que se forem simbólicas não faz mal”, realçou, considerando que, se se desistir desse trabalho, será uma humilhação do país.

O único caminho, assevera, é continuar a trabalhar “para recuperar rendimentos” e “não ceder nem um milímetro, nem um passo atrás”.

A sessão em Coimbra contou também com a participação do deputado José Manuel Pureza.

O Conselho de Ministros das Finanças da União Europeia (Ecofin) decidiu, em Bruxelas, que Portugal e Espanha irão ser alvo de sanções por não terem adotado “medidas eficazes” para corrigirem os défices excessivos.

Este tema tem sido motivo de um quente debate político a nível nacional, mas também na Europa, uma vez que a regra de o défice não poder ser mais de 3% já foi quebrada mais de 100 vezes e até agora sem qualquer sanção.

Ficou famosa a resposta do presidente da Comissão Europeia, o luxemburguês Jean-Claude Juncker, quando questionado por que razão a França nunca foi sancionada: “A França é a França”.