Dez dias depois de ter sido dada como desaparecida, uma mulher de 61 anos encontrou o cadáver de Déborah Fernández-Cervera numa valeta em Pontevedra — um cidade a cerca de 40 minutos de carro de Samil, em Vigo, onde a jovem tinha sido vista pela última vez e a uma hora da localidade onde Diana Quer foi encontrada morta, Rianxo. Primeiro, a mulher que a descobriu pensou que fosse uma boneca insuflável. Depois percebeu que não. Déborah estava despida, tapada por vegetação. O corpo estava num avançado estado de decomposição. O rosto, desfigurado, apresentava sinais de violência.

Déborah, estudante de desenho na Universidade de Vigo, tinha ido correr com a prima na tarde de 30 de abril de 2002 para uma avenida da praia de Samil, em Vigo — uma rua muito movimentada. Por volta das 20h30 da tarde, despediu-se e seguiu em direção a casa. A 800 metros da sua morada, ainda falou com duas amigas que encontrou. Foram as últimas pessoas que viram a jovem com vida.

“Queremos saber se foi morta por El Chicle”. O pedido da família para reabrir o caso surge agora, 16 anos depois, após a Guardia Civil espanhola ter anunciado que iria “reavaliar” outros casos, “especialmente de agressão sexual”, para descobrir se José Enrique Abuín Gey, conhecido por El Chicle — o autor do desaparecimento, sequestro e assassínio de Diana Quer — estaria envolvido. A irmã de Déborah, Rosa Fernández-Cervera, em declarações ao jornal Faro de Vigo, argumenta que o caso do desaparecimento da irmã se enquadra no perfil: “Era morena, bonita e jovem. Era como Diana”.

O caso foi arquivado em 2010 por falta de provas. A cena do crime dificultou a investigação: era uma “montagem”, revelou a irmã de Déborah ao El Español. O autor introduziu falsas provas na cena do crime para desviar a atenção das autoridades: um preservativo usado, a embalagem e um lenço de papel. Os resultados da autópsia vieram a revelar que Déborah só morreu dois ou três dias depois de ter sido sequestrada. Depois do assassinato, o corpo da jovem foi guardado num lugar frio e escuro que as autoridades desconfiaram ter sido um congelador. Também permitiram concluir que não houve agressão sexual — uma certeza que ainda não se tem no caso de Diana Quer.

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Se for confirmado que El Chicle é o autor da morte de Déborah, a jovem passa a ser mais uma a integrar a lista de vítimas deste assassino. Déborah junta-se a Vanesa, a própria cunhada de El Chicle que foi violada e ameaçada com uma faca por ele e que contou agora os episódios que viveu. Junta-se também a Beatriz (nome fictício), que conseguiu escapar às mãos de El Chicle quando este a tentou enfiar na bagageira do carro. Beatriz foi salva por dois jovens e tornou-se uma peça chave para a investigação do desaparecimento de Diana Quer.

[Veja aqui os oito momentos-chave da investigação ao desaparecimento da Diana Quer]

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Este último caso foi o mais mediático de todos os conhecidos até agora. Diana Quer esteve desaparecida 496 dias — desde agosto de 2016, quando tinha 18 anos, até aos últimos dias de 2017, quando o caso ficou resolvido. Durante a investigação, El Chicle foi apontado como suspeito mas conseguiu distrair as autoridades. Ainda assim, não resultou: o assassino viria a confessar, já no segundo interrogatório, que depois de ter visto Diana sozinha na rua, tentou violá-la e estrangulou-a depois de a jovem ter resistido.

O cadáver da jovem madrilena foi encontrado no último dia do ano, amarrado a blocos de cimento, no fundo de um poço num edifício industrial abandonado em Rianxo, na Corunha, Espanha. Por estar submerso, o corpo estava em boas condições e permitiu concluir que Diana foi mesmo estrangulada. Ainda assim, continuam respostas por dar.

“Morena, vem aqui”. A história dos 496 dias do desaparecimento de Diana Quer