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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Carpool Autárquicas com Assunção Cristas. "Terreiro do Paço ganharia muito se pudéssemos voltar a colocar árvores"

Governo só não conseguirá dinheiro para ampliar o metro "se não se empenhar". Cristas quer árvores na Praça do Comércio. E conta como até pensou candidatar-se a Lisboa antes de ser líder do CDS.

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A menos de um mês das eleições, a candidata do CDS a Lisboa está confiante e “animada”. “Otimista”, diz Assunção Cristas. “Acho que vai correr bem”. Mas o que é correr bem? É ter uma votação eleitoral superior à de Paulo Portas, 7%, quando se candidatou a Lisboa? Mais. A animação é tal que a expectativa parece transbordar essa meta. “Sabemos que muitas pessoas que não votam normalmente no CDS vão votar agora”, diz, sublinhando que não se refere, claro, aos votantes habituais do PCP, ou da esquerda, nem tão pouco à abstenção. É ao PSD, ou aos eleitores do PS não militantes, que pisca o olho. Ou seja, ao centro.

Assunção Cristas aceitou entrar no Carpool Autárquicas do Observador no passado dia 7 de setembro, e falou de tudo: da decisão de avançar para Lisboa, mesmo antes de ter sido eleita líder do CDS; dos conselhos — “não muitos” e “só ao início” — que Paulo Portas lhe deu; da lei das rendas, da sua autoria, que “não fez aumentar os despejos, ao contrário do que dizem”; de como o CDS mudou de ideias em relação à taxa turística, que é agora aceite entre o setor; de como o CDS já não quer privatizar a Carris, porque atualmente esse é um cenário “virtual”, dos transportes, da Emel “caça-multas”, e da ação social. A expansão do metro continua a ser a coqueluche da candidata do CDS que explica porque é que, quando era ministra, não defendeu o mesmo: não tutelava a pasta e há quatro anos não havia possibilidade de fazer grandes investimentos. Os tempos são outros e Cristas desafia mesmo o atual ministro do Ambiente a bater-se pelo alargamento do metro em Conselho de Ministros.

A presidente do CDS marcou a viagem de carro com o Observador para uma hora pouco habitual: 8h30 da manhã, nas Docas, quando ainda corria uma brisa fresca da manhã. Chegou pontualmente à hora marcada, sem comitiva, mas arrependida pela hora escolhida. Na véspera tinha estado na TVI num debate com os cinco candidatos à capital, e já tinha chegado tarde a casa. “Quando o despertador tocou custou um bocadinho”, admitiu, mas deixando claro que a famosa “hora CDS” (sempre com uma ou duas horas de atraso) já não é o que era.

Veja aqui a entrevista de Assunção Cristas em vídeo:

Há um ano, desde setembro de 2016, que a presidente do CDS anda pela cidade a “ouvir Lisboa”. Diz que todo o seu conhecimento vem “do terreno” e não das reuniões porque não é vereadora nem deputada municipal, como os restantes candidatos. Garante, contudo, que se não ganhar a câmara fica como vereadora. E uma vereadora o mais assídua quanto possível: “Serei uma vereadora muito ativa, e procurarei estar presente o mais possível, conjugando com os meus afazeres”, diz. Só não ficará até ao final do mandato se “houver a possibilidade de o CDS [e ela própria] ser chamado ao Governo”.

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Foram duas horas de entrevista, entre paragens por problemas técnicos a paragens (longas) por problemas de trânsito. No final, Assunção Cristas foi abordada por um eleitor que garantiu que ia votar nela para “correr com o atual presidente da câmara”. “Viu? Este senhor disse que eu era a alternativa! Yeah!”. Assim mesmo, com interjeição, ponto de exclamação e polegares em riste.

Não perca aqui o best of com os melhores excertos da entrevista:

As 20 novas estações de Metro. “Só não há dinheiro se o Governo não se empenhar”

A líder do CDS não anda de metro regularmente, e longe vão os tempos em que andava de elétrico, de 15, para ir de Belém “a Lisboa”, que é como quem diz, à zona da Baixa. No entanto, Assunção Cristas sabe perfeitamente quanto custa um bilhete de metro — e até sabe quanto custa o passe mensal. Mas para baixar o preço, é preciso primeiro atrair mais utentes, e para isso é preciso primeiro melhorar o serviço e alargar a rede de estações. E só depois disto é que será possível resolver o problema de trânsito em Lisboa, diz. Por isso é que a candidata insiste que o metro é a “coluna vertebral” da sua estratégia para os transportes. Mesmo sabendo que a gestão do Metro, ao contrário da gestão da Carris, está nas mãos do Governo, e não da câmara.

Se a gestão do Metro está nas mãos do governo, não é estranho que a coluna vertebral das suas propostas seja uma coisa que não depende diretamente de si?
Não vejo que possa ser de outra maneira. Não partimos daquilo que está ou não está nas mãos da câmara para resolver os problemas. Partimos do estudo da realidade da cidade de Lisboa. Quando sabemos que 360 mil automóveis vêm de fora de Lisboa, sabemos que obviamente esta é uma questão que não pode ser resolvida apenas ao nível do município. Mesmo se quiséssemos não teríamos instrumentos para isso.

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O que leva a crer que o Governo vai aceitar um projeto desta dimensão?
Estamos a falar da possibilidade de planear com princípio, meio e fim, um trabalho para dez a treze anos. Projetámos para 2030 porque tem a ver com a estratégia europeia de energia clima. Esta nossa proposta permite reduzir em 30% as emissões de CO2 com transportes da cidade de Lisboa.

É um projeto apetecível para fundos comunitários?
Precisamente. Também entra na lógica da estratégia para as
smart cities. Há aqui uma dinâmica de enquadrar o projeto nas estratégias europeias. Além de que verificamos qual tem sido o ritmo de crescimento das estações de metro em Lisboa, e tem sido ao ritmo de 1,3 por ano. Aquilo que estamos a propor é passar para 1,5. Mas sabendo exatamente para onde vai crescer e porque é que vai crescer, por isso é que eu falava da prioridade para a zona ocidental, que é de onde vem o maior fluxo de automóveis neste momento.

Uma das críticas que o atual ministro do Ambiente fez ao projeto de alargamento do metro foi de que o anterior Governo não gastou um tostão de fundos comunitários na expansão do metro de Lisboa e Porto, porquê então agora? Porque não o defendeu antes?
Porque não era da minha competência, e naturalmente tinha de me focar nas coisas que estavam na minha dependência e deixar para os titulares dessa pasta tratarem disso. Essa crítica não tem fundamento. Naquela altura, estávamos numa situação em que o investimento em muitas áreas parou devido ao resgate financeiro. É muito estranho os ministros socialistas fazerem esses comentários porque esquecem-se que foram eles que levaram o país ao buraco da bancarrota. O ministro do Ambiente devia ser o primeiro a defender esta proposta, porque do ponto de vista ambiental é muito positiva. Espero que a defenda no Conselho de Ministros.

Agora António Costa veio lançar o repto para um pacto de regime sobre obras públicas e sobre fundos comunitários. O CDS alinhou rapidamente nesse repto. Porquê?
O CDS fez uma coisa muito simples, que foi dizer ao primeiro-ministro que se calhar anda um pouco distraído, porque ao longo destas duas sessões legislativas o CDS já apresentou muitos projetos no âmbito da concretização de um consenso, que ficou vertido no Plano Estratégico dos Transportes e Infraestruturas, e cujas obras ainda não foram feitos. Portanto o primeiro desafio ao Governo é para concretizar e executar o que está planeado e assente num consenso.

A questão do alargamento do Metro vem à baila em vários momentos da entrevista: ora no início, quando puxamos o assunto, por ser uma das propostas mais arrojadas da campanha; ora a meio, quando passamos pela Avenida da República e o carro do Observador é engolido pelo trânsito das 9h da manhã; ou quando Assunção Cristas diz que “ajudaria mais se o presidente da câmara fosse de cor diferente do Governo“. Porque, diz, “mais importante do que saber quem é que manda no metro [o Governo, neste caso], é saber quem é que pode influenciar de forma decisiva”. “E se o presidente da câmara for de cor diferente tem mais poder de reivindicação”, defende, chegando mesmo a sugerir que há um “ajuste de contas que qualquer dia ainda tem de ser feito” entre o Metro e a câmara, porque o metro começou por ser um instrumento municipal, depois foi nacionalizado e a câmara “nunca foi indemnizada, nunca teve nenhum direito de passagem ou nenhuma contrapartida pelo uso do subsolo”.

"Há um ajuste de contas que qualquer dia ainda tem de ser feito entre o Metro e a câmara, porque o Metro começou por ser um instrumento municipal, depois foi nacionalizado e a câmara nunca foi indemnizada"

Privatizar a Carris? “Não se coloca essa questão”

O percurso tinha começado nas Docas, em Alcântara, seguindo pela Avenida de Ceuta rumo à Praça de Espanha, depois Avenida de Berna e Avenida da República: o trânsito era evidente, apesar de ser princípio de setembro e, como notou Assunção Cristas, as aulas ainda não terem começado. Por falar em aulas, “a seguir ao Carpool tenho de ir ao regresso às aulas com os meus filhos“, contou, listando os afazeres que tinha para aquele mesmo dia.

Na Avenida da República, o trânsito está no auge e Cristas não desperdiça a oportunidade de apontar o dedo aos defeitos daquela zona — obra de Fernando Medina — que ficou “melhor de aspeto”, mas que “deixou de ser funcional”. “O tempo que se demorava a passar esta zona não tem nada a ver com o tempo que se demora agora. No outro dia uma moradora dizia-me que para ir da João XXI até à Praça de Espanha demorava cinco minutos e agora demora 45 minutos”, diz, para a seguir apontar coisas “estranhas” como o facto de as ciclovias estarem dispostas lado a lado com o estacionamento dos carros, ou de uma ambulância não poder passar nas laterais da Avenida.

Acha que é só uma questão de falta de planeamento? É que a ideia seria diminuir o fluxo de carros nesta zona.
A questão funcional é muito importante. Sabemos que o objetivo na base desta obra, e de outras, é retirar automóveis. O problema é que é muito desrespeitoso retirar automóveis quando não há alternativas: não há metro a funcionar bem na cidade de Lisboa e a chegar a mais sítios, assim como não há autocarros a funcionar bem. Tem de se começar a casa pelas fundações e não pelo telhado. Os autocarros têm uma taxa de ocupação de 16%, o que significa que há aqui muito trabalho a fazer para conjugar melhor a oferta e a procura. Muitas vezes nas horas de ponta estão a abarrotar, vêm cheios, os elétricos às vezes param e nem recolhem as pessoas porque não têm como, mas há outras horas em que estão vazios. É preciso ajustar a frota, é preciso que as pessoas saibam em cada momento com o que podem contar e isso tem falhado muitíssimo.

Privatizava a Carris?
Neste momento nem sequer é uma questão que se possa colocar. Porque depois do que aconteceu, e gosto de pensar em cenários reais não em cenários virtuais, nem sequer haverá mercado interessado em olhar para a Carris, depois da reversão das concessões que foram feitas. E as concessões foram feitas, mais do que por causa de uma componente ideológica, porque o Governo não tinha dinheiro para fazer investimentos. E entendeu que os privados podiam fazer esses investimentos.

E como pensa resolver o problema da falta de estacionamento? A Emel é o bicho-papão dos moradores de Lisboa…
Achamos que os moradores têm de ser bem tratados, e têm de sentir que são acarinhados na sua cidade. Ainda no outro dia falava com uma pessoa que me dizia que depois de meses a demorar uma hora a estacionar ao pé de casa mudou-se para Cascais. A Emel de facto serve para ordenar o estacionamento mas não deve servir para caçar dinheiro aos lisboetas. A Emel só quer arrecadar mais dinheiro, é um caça-multas…

Para financiar a Carris?
Também, e isso não resolve a questão do estacionamento em muitos bairros. Porque não fiscaliza muitas vezes as zonas que são só para residentes. Entendemos é que é preciso mais estacionamento e um estatuto de benefício para os residentes. Chamamos-lhe Lisboa Parque e significa que as pessoas terão direito a 50% de desconto em todas as tarifas Emel, os primeiros 20 minutos gratuitos para fazer recados, e duas zonas grátis de estacionamento.

Propor esse tipo de descontos na Emel não é uma proposta demasiado eleitoralista?
É uma coisa que só não foi feita até agora porque a Emel tem sido uma forma de arrecadação de verbas por parte da câmara, mas se formos a olhar para o orçamento da câmara, o orçamento tem vindo sempre a crescer, até porque tem recebido mais receitas fruto do dinamismo que a cidade está a conhecer nomeadamente ao nível do imobiliário, reabilitação urbana e turismo. A verdade é que tem sido esse o objetivo primário da Emel, e não pode ser.

Descontos na Emel é eleitoralista? "Os moradores têm de ser bem tratados, e têm de sentir que são acarinhados na sua cidade"

Habitação. “Não houve aumento dos despejos” com a lei das rendas

Assunção Cristas era ministra da Agricultura, Ambiente e Ordenamento do Território quando, debaixo da sua tutela, foi aprovada, em 2012, a lei das rendas, que liberalizou as rendas antigas tornando-se rapidamente uma das medidas mais contestadas do Governo de Passos Coelho no setor da habitação. Quando o atual Governo, apoiado pelos partidos da esquerda, aprovou alterações àquela lei, o próprio Presidente da República, quando promulgou as alterações, notou que estavam agora acautelados “propósitos sociais em causa”, embora tenha notado também uma maior “restrição” à liberdade contratual. Assunção Cristas, que há umas semanas chegou a ser vaiada num bairro social em Chelas, rejeitou que o facto de ser autora da polémica lei a persiga de alguma forma.

Foi vaiada recentemente num bairro social, em Chelas. O que é que lhe disseram?
Não, tinha muita gente à minha espera. Um senhor claramente afeto a outro partido é que veio dizer umas coisas, mas conhecemos os métodos.

Disse o quê?
Disse que o CDS era fascista.

A questão da lei das rendas não a persegue, sobretudo junto da população mais idosa?
Não. Tenho falado com muita gente e há sobretudo questões sobre contratos a prazo em que as pessoas se queixam. Mas isso não diz respeito à lei das rendas, apesar de haver um discurso oficial das esquerdas que cola tudo o que tenha a ver com habitação à lei das rendas. Mas tenho costas largas e a consciência de que os dramas que diziam ir acontecer, de idosos que iam ser postos na rua, tenho a consciência de que isso não é verdade, não aconteceu. Foi uma reforma que se fez com muita tranquilidade.

O Presidente da República, que é insuspeito, disse inclusive, quando promulgou as recentes alterações àquela lei, que as alterações pressupunham uma maior preocupação social. Como é que interpreta esta observação?
A lei das rendas estava inscrita no memorando da troika para ser revista no prazo de 6 meses, e nós fizemo-lo com toda a cautela para proteger as situações de maior fragilidade social, ou seja os mais idosos, com mais de 65 anos, e as situações de carência económica. O que foi dito foi que, ao fim de cinco anos, estas situações que não tenham transitado para o regime normal deviam ter um subsídio de renda. Este Governo chegou e não quis pagar o subsídio de renda: achou que eram os senhorios que deviam continuar a fazer política social e, portanto, prolongou o período de transição, mantendo uma espécie de congelamento de rendas.

T4 com renda de 1350 nos terrenos da antiga Feira Popular é acessível? "Não é baratíssimo mas comprar um T4 na Avenida da República não custa menos do que um milhão de euros"

Para Assunção Cristas, o que correu mal na aplicação da lei das rendas foi o facto de o atual Governo não ter tido “vontade política” de continuar pagar o subsídio de renda. “Se o tivesse feito, a preocupação social estaria acautelada”. Em vez disso, diz, o Governo fez outras opções, como baixar o IVA da restauração. Estamos a falar dos problemas da habitação quando passamos pelos antigos terrenos da Feira Popular — onde a candidata do CDS promete construir mil apartamentos com preço de renda 30 a 50% abaixo do preço de mercado. O que é que isto significa na prática? Algo entre 500 a 1350 euros, dependendo de ser um T0 ou um T4.

Um T4 a 1350 euros é uma renda acessível?
O que digo é que as rendas vão de 500 euros a 1350.

Estou a falar do preço mais elevado, para um T4.
É uma projeção. Sabe quanto custa um T4 aqui na Avenida da República se o quiser comprar? Não custa menos de um milhão de euros. E quero que pessoas que não têm um milhão de euros e que precisam de uma casa maior, porque têm filhos, possam vir morar para esta zona da cidade, que sempre foi de habitação. Se vir quanto custa um empréstimo de um milhão vê que estamos a falar de valores muito mais baixos. Não é baratíssimo, mas temos de ter a ambição de ter pessoas a viver aqui que não podem dar um milhão de euros por uma casa mas podem pagar uma renda mais moderada.

Outra das propostas de que se fala é a baixa do IRS para os senhorios que façam contratos de arrendamento de longa duração. O CDS tem proposto, em sede de Orçamento do Estado, uma baixa dos atuais 28% para 25% — e a proposta tem sido chumbada pelo PS. Agora, o candidato do PS à câmara (e atual presidente da câmara) Fernando Medina, propõe uma baixa de 28% para 10%. Não é curioso ser o PS mais do que o CDS a propor uma maior baixa de impostos? Cristas desvaloriza, até porque se o “PS não aprovou os 25% vai aprovar a redução até 10%? Vamos ver”.

Taxa turística. “Houve uma flexibilização da posição do CDS porque o setor do turismo aceitou a taxa”

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Terreiro do Paço é sinónimo de turismo. O carro do Observador passa por aquela zona nobre de Lisboa apetecível aos turistas e Assunção Cristas lembra que uma das coisas que tenciona fazer é tornar aquele histórico terreiro menos “inóspito” para lisboetas e turistas, dizendo ter um projeto para a colocação de árvores e, consequentemente, de sombras, naquele local — tal como houve em tempos.

E explica a ideia, com detalhe:
“A nossa candidata à Assembleia Municipal é a professora Cristina Castelo Branco, que é arquiteta paisagista. E uma das coisas que defende para aqui, porque orientou um doutoramento nesse sentido: as árvores conseguem baixar até 9 graus de temperatura. Acontece que no Terreiro do Paço, que é um local muito de passagem, temos uma escala enorme. Hoje já começa a ser um local onde as pessoas param, sobretudo nas escadas, para comer uma sanduíche, por exemplo, mas esta praça ganharia muito se pudéssemos voltar a colocar árvores bem podadas, que são sombras, e que no fundo ajudariam a tornar a praça com uma escala mais humana e com espaços de lazer. Deixaria de ser uma praça de passagem e passaria a ser uma praça para se estar e conviver com mais qualidade. Tanto nos dias de calor, onde este piso reflete e é muito quente, como no inverno, que é muito inóspita, com chuva e com vento”.

O Terreiro do Paço já teve árvores, que depois foram retiradas. Quando se fez esta intervenção o tema foi muito discutido, mas acho que o Terreiro do Paço ganharia muito com a possibilidade de termos aqui uma sombrinha.

O turismo é, de resto, um tema do qual não foge mas que não é a sua prioridade. Sobre a polémica questão do alojamento local, e da necessidade ou não de limitar aquele tipo de residências para turistas, a candidata do CDS defende apenas que “pode ser ponderada” a criação de quotas mínimas de habitação nos centros históricos e zonas turísticas, mas antes disso diz que é mais importante a câmara ter “políticas ativas de habitação”. Fernando Medina, de resto, tem atualmente uma proposta semelhante para limitar o alojamento local: em vez de criar quotas mínimas para habitação, propõe criar quotas máximas de alojamento local nos bairros históricos. Semelhante? Cristas desvaloriza: “Não conheço o detalhe da proposta de Fernando Medina, e a nossa proposta está apenas colocada como uma hipótese ao nível do Plano Diretor Municipal. Se for necessário teremos de ir para aí, mas há muitos instrumentos que podem ser utilizados pela câmara”, diz.

O anterior ministro da Economia, António Pires de Lima, do CDS, foi um dos rostos mais críticos da ideia de António Costa de criar uma taxa turística, chamando-lhe as “taxas e taxinhas” de António Costa, mas agora o CDS concorda com ela. Houve uma mudança de posição?
Houve uma flexibilização de posição por uma razão muito simples: nessa altura, quando Pires de Lima criticava, era preciso dar um impulso à economia do nosso país, e era preciso dar um impulso também à área do turismo. Hoje há muito turismo em Lisboa mas as pessoas esquecem-se de que nem sempre foi assim.

Mas estamos a falar de um período de tempo muito curto.
Sim, mas a verdade é que esse boom aconteceu. E não foi por acaso, foi porque houve políticas consistentes, inteligentes e sofisticadas ao nível da promoção do turismo.

As críticas que se fazem hoje ao boom do turismo e à fala de regulação não devem também ser apontadas ao anterior secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes, do CDS?
Não, de todo. Trabalhamos num contexto em que era preciso atrair atividade económica e turismo para Lisboa, e todos pediam isso. O turismo passou momentos muito maus, agora é que está florescente. Nessa altura, quando começámos a ter os primeiros bons sinais de crescimento do turismo, achámos que estar a colocar um entrave podia ter sido complicado. E o setor todo era contra a aplicação desta taxa porque entendia que podia pôr o setor em causa.

Mas agora não é.
Agora não é, e é por isso que a nossa posição se flexibilizou. Não concordo é que a taxa turística esteja a servir para fechar o Palácio da Ajuda, que no projeto do anterior Governo era pago com dinheiros de todos porque é um monumento nacional. Mas este é também um efeito perverso da proximidade política de Fernando Medina e António Costa. António Costa chegou [ao Governo] e resolveu achar que 4 milhões era bom que fosse a câmara a pagar e disse a Fernando Medina: “Oh Fernando, arranja aí 4 milhões da taxa turística que dão-me jeito aqui para o Palácio da Ajuda”. E o que antes ia ser feito com dinheiros nacionais hoje é feito com dinheiro da taxa turística.

Então mas admite que António Costa tinha razão e que a ideia de criar uma taxa turística foi boa.
Se percebemos que ninguém reclama neste momento a capacidade de absorver a taxa turística, a questão é saber qual é a melhor forma de aplicar a receita desta taxa. Mais turismo implica mais gestão urbana, e nós não temos turistas a mais mas temos certamente gestão urbana a menos. O governo fez a sua parte ao criar os impulsos para que houvesse mais turismo em Lisboa, mas a câmara não fez a sua parte. Não tratou da higiene urbana, dos transportes, etc. O desafio é saber como aplicar a taxa turística.

Admite aumentá-la?
Não vejo razão para aumentar, vejo razão para a aplicar bem.

Criação de quotas mínimas de habitação nas zonas turísticas para limitar alojamento local "pode ser ponderado como hipótese no âmbito do Plano Diretor Municipal"

CDS e pós-eleições. “Se ficar como vereadora procurarei estar presente o mais possível”

Assunção Cristas aparece animada e com um sorriso no rosto sempre que fala de Lisboa. Diz que os seus dias são “intensos”, mas que não gostaria se fosse de outra maneira. “Só sei trabalhar assim, quando não tenho coisas arranjo-as, não há espaços vazios”, diz, definindo esse lema de entrega máxima como o seu lema de vida. Há um ano que está em modo “campanha”, visto que foi em setembro de 2016 que anunciou que seria candidata a Lisboa, numa altura em que o PSD estava muito longe de tomar a sua decisão. E isto levanta outras questões, enquanto presidente do CDS, nacional, que está há um ano mais focada numa só cidade, neste caso a capital.

Não descura do acompanhamento nacional enquanto presidente do CDS?
Não. Ando por todo o país e não me poupo a esforços. Vivo em Lisboa, tenho essa facilidade. Mas sou eleita pelo distrito de Leiria e sei o que é andar de um lado para o outro. Segunda-feira, por exemplo, estive em Pedrógão, sexta-feira na Agrosemana em Braga, no domingo fui a Ponte de Lima e no entretanto tive várias ações em Lisboa.

E não ouve queixas dos militantes base do CDS que não são de Lisboa?
Não oiço queixas, embora todos eles gostem que eu vá mais vezes, mas isso é um bom sinal. Tenho procurado ir a todo o lado, não sempre que sou solicitada, mas muitas vezes. O que sinto de todos é um grande apoio a esta candidatura. Isto foi algo muito trabalhado e discutido no partido, não foi uma decisão individual, apesar de a disponibilidade ter sido individual, claro. Mas tem havido muita compreensão.

Sobre o processo de negociações falhadas com o ex-parceiro de coligação, Cristas limita-se a dizer que “são águas passadas” e que não tem mais nada a acrescentar sobre isso. Numa entrevista ao Público, em março, chegou a admitir que quando falou com Pedro Passos Coelho sobre a hipótese de o PSD apoiar a sua candidatura vários obstáculos se levantaram: primeiro, Passos admitia que havia o risco de haver eleições legislativas antes das autárquicas, depois havia a questão do Porto. A hipótese de o PSD apoiar Cristas a Lisboa se o CDS retirasse o apoio a Rui Moreira no Porto, apoiando antes um candidato do centro-direita, chegou a estar em cima da mesa.

Uma vitória de Rui Moreira vai contar como uma vitória do CDS?
Todas as candidaturas em que o CDS está envolvido como candidato ou apoiando a candidatura — e temos pessoas na lista de Rui Moreira –, certamente que sentimos que contribuímos para essa vitória. Mas sabemos muito bem o que é uma candidatura partidária e uma candidatura encabeçada por independentes. Aliás, o CDS tem 14 casos em que apoia independentes.

Nunca equacionou não apoiar Moreira, desde que foi ao congresso do CDS em março defender o apoio naquela candidatura?
Foi falado antes do congresso, com as estruturas locais, e com o próprio Rui Moreira, e o que foi para nós muito claro desde o início foi que se Rui Moreira se voltasse a candidatar o apoiaríamos outra vez. Não havia nenhuma razoa para retirar o apoio uma vez que as coisas correram bem. Devemos é reforçar o apoio.

"Temos pessoas que não votavam por hábito no CDS mas que se reveem nesta candidatura"

Mas isso são “águas passadas”. Assunção Cristas admite que “com certeza seria mais fácil” vencer em Lisboa se contasse com o apoio do PSD, porque “se os votos se dividem por mais candidaturas certamente que a tarefa é mais difícil”. Mas a candidata do CDS promete empenho máximo para compensar: “Dou tudo o que posso dar de mim própria, mas este é o nosso contexto e é esta oportunidade que quero levar por diante”. Quanto ao facto de este não-entendimento em Lisboa poder vir a inviabilizar coligações futuras, Cristas considera que não será por aí que PSD e CDS não voltam juntos para o Governo. Mas em coligação pós-eleitoral: “Os dois partidos quando governaram, governaram depois de resultados separados, e que foram bons, portanto penso que esse é um caminho mais natural para os dois partidos”.

Assunção Cristas diz que a sua meta é a eleição para a presidência da câmara, mas nas entrelinhas admite que já será um resultado muito bom se ficar acima dos 7% conseguidos por Paulo Portas quando se candidatou à câmara da capital. Líder eleita em março de 2016, se dobrar o resultado do histórico líder centrista, isso servirá como capital de força dentro do partido. Mas Cristas não quer falar de números nem de sondagens, limita-se a dizer que está “otimista”. Não sendo eleita, ficará como vereadora na oposição.

O resultado de Paulo Portas quando foi candidato a Lisboa foi 7%. É uma meta para a qual olha com atenção? Tira ilações nacionais em função do resultado?
Estou convencida de que vamos ter um muito bom resultado. Construímos um programa muito sólido com base no que ouvimos em Lisboa, temos pessoas que não votavam por hábito no CDS mas que se reveem nesta candidatura, e isso é muito positivo. Tem havido uma grande capacidade de atração. E acho que vai correr bem.

O que é correr bem?
Quando digo correr bem quero dizer que trabalho intensamente para ser presidente da câmara. Esse é o meu objetivo.

Mas se tiver um resultado superior ao de Paulo Portas, isso já é correr bem?
Sei de onde é que partimos: de um resultado de 7% de Paulo Portas ou de 5,9% de Maria José Nogueira Pinto. É um esforço muito grande que temos de fazer para crescer. Mas estou otimista e motivada. Estou preparada.

No caso de não vencer, já disse que fica como vereadora. Mas durante quanto tempo? Admite sair para as legislativas de 2019?
Ficarei vereadora, cumprindo o meu mandato na oposição. Se o CDS nas próximas eleições legislativas estiver em condições de ir para o Governo com certeza que as pessoas não se ofendem se eu deixar de ser vereadora da oposição para ir assumir funções num Governo. Agora, obviamente que se for presidente da câmara de Lisboa exercerei o meu mandato até ao final, e é para isso que estou a trabalhar.

Disse há uns tempos que Teresa Leal Coelho tinha a possibilidade de conhecer melhor os dossiês, na medida em que foi vereadora da oposição nos últimos quatro anos. Ainda acha que a candidata do PSD conhece mal os dossiês?
Dos cinco candidatos, eu sou a única outsider: Fernando Medina é presidente da câmara, João Ferreira e Teresa Leal Coelho foram vereadores durante quatro anos, Ricardo Robles deputado da Assembleia Municipal durante quatro anos, portanto, sou a única que vem de novo. O meu conhecimento vem do terreno, não vem das reuniões onde não participei certamente porque não era eleita.

Se ficar como vereadora será uma vereadora assídua?
Serei uma vereadora muito ativa, e procurarei estar presente o mais possível, conjugando com os meus afazeres, e conciliando com a presidência do CDS.

Os conselhos de Portas e a decisão. “Pensei candidatar-me a Lisboa antes de ser líder do CDS”

O tema “Paulo Portas” é outro dos que não gosta muito de falar. Há ano e meio que se fixou na liderança do CDS e quer fazer o seu caminho sem sombras, mas não resistimos à pergunta sobre se ouviu conselhos do antigo líder do CDS sobre a decisão de avançar ou não para uma candidatura a Lisboa. Assunção Cristas admite que sim, mas “muito no início”, e sem “parecer vinculativo”. Não quer dedicar muitas palavras ao tema. Explica apenas que a hipótese de se candidatar surgiu numa altura em que ainda Paulo Portas era líder do partido.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

A viagem já vai longa, com alguns percalços técnicos no caminho e com a candidata do CDS cheia de vontade de mostrar mais zonas da cidade — dos bairros históricos “esquecidos” de Marvila à fronteira com Algés, onde o metro devia chegar. A conversa poderia ser interminável, e passa até por outros concelhos, como Loures, onde perguntamos se afinal não conhecia o candidato André Ventura, que o CDS apoiava mas que decidiu retirar o apoio depois de o social-democrata ter feito declarações polémicas (e consideradas racistas) sobre a comunidade cigana. “Tinha-o cumprimentado uma vez. Não conhecia todo o pensamento do candidato”, diz, explicando que as coligações autárquicas fazem-se muitas vezes sem nomes à cabeça — essa decisão cabe depois às estruturas. “Geralmente acertam-se as coligações e depois cada partido indica o nome, e essa é uma decisão que costuma ser tomada localmente”, explica, demarcando-se.

Paulo Portas deu-lhe conselhos para esta candidatura?
Falei com ele uma ou outra vez ainda quando estava a pensar se fazia sentido ou não avançar. Fui trocando impressões com ele.

E ele incentivou-a a avançar?
Sim, incentivou…

Mas não era um parecer vinculativo?
Não, não era um parecer vinculativo. Parecer vinculativo era do partido, da estrutura dirigente.

Mas o que lhe disse Paulo Portas ao certo?
Com franqueza não me recordo. Foram conversas muito no início, teorizando sobre a matéria… Porque esta história é assim: esta hipótese foi colocada antes de Paulo Portas sair e antes de eu ser líder do CDS, num jantar de Natal da concelhia do CDS de Lisboa, para aí no dia 10 ou 15 de dezembro. Nesse jantar o João Gonçalves Pereira estava sentado ao meu lado e diz-me assim: “Oh Assunção, temos de começar a pensar nas autárquicas de 2017, o que é que tu achas da câmara de Lisboa?” E a coisa começou assim, mas depois ficou entre parêntesis. Paulo Portas disse que saía a 28 de dezembro, depois iniciou-se o processo de substituição, o congresso em março, e, nessa altura, disse ao João Gonçalves Pereira que gostava muito mas que agora não podia ser só uma decisão minha, teria de ser visto com todo o partido, com a sensibilidade nacional. Depois, no congresso do CDS, disse que em Lisboa queríamos uma candidatura forte, mas ficou assim porque não queria vincular nada nem ninguém. Depois disso, começámos a conversar entre nós e senti que o partido apoiava, então avançamos. Mas a abordagem começou um pouco antes e ainda sem eu imaginar que ficaria como líder do CDS.

Estacionamos o carro do Observador junto ao Padrão dos Descobrimentos, em Belém, e, apesar do cansaço do trajeto (que foi longo) e da conversa, Assunção Cristas está pronta para fazer fotografias, para conversar com quem passa, e ainda para ir com os filhos comprar material escolar antes do almoço. Antes disso, uma última pergunta:

Pergunta rápida para resposta rápida. Diga-me uma coisa que Fernando Medina tenha feito bem em Lisboa.
[Pausa] É muito difícil de dizer… Fez coisas bonitas, mas não foram bem feitas, portanto tenho muita dificuldade em nomear uma…

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