O Bloco de Esquerda é um partido criado no final do milénio passado e que durante vinte longos anos cresceu de forma consistente. Formado por meia-dúzia de marxistas irrelevantes e àvidos de palco, trouxe para Portugal conceitos que nos Estados Unidos e resto da Europa já tinham mais de quarenta anos. Apesar de ter uma ideologia geriátrica e anacrónica, conseguiu cativar uma elite superficial ansiosa de uma identidade própria, através de marcas que foram crescendo em todo o mundo: feminino exacerbado, ambientalismo radical e ativismo LGBT.

A fórmula política foi clara desde o início: dizer mal de tudo e de todos, atacar de forma populista e inconsequente as políticas governativas do PSD e do PS, com um palco sempre crescente na televisão. Esta estratégia foi tendo os seus frutos ao longo dos anos e o crescimento da votação teve o seu auge nas legislativas de 2015, conseguiu manter-se em 2019, mas no início deste ano foi a hecatombe. Esta é facilmente explicável por ter perdido a capacidade populista de dizer mal, ao ser o suporte do partido socialista. Passar a ser um partido do sistema foi um preço demasiado alto a pagar e, em vez de aproveitar o nascimento do movimento woke, o Bloco estava demasiado ocupado a levar o Governo socialista às cavalitas. Mas  o início da nova maioria absoluta e as escolhas erradas do partido levaram-no de volta à insignificância de há vinte anos atrás. Por isso, o que se prevê é que o Bloco volte àquilo em que sempre foi perito: populismo esganiçado e barulhento nos noticiários das oito horas. Evidentemente, desta vez cai na esparrela quem quiser – e for tolo.

Pensemos agora um pouco no legado do Bloco de Esquerda nestes vinte anos. Construiu pequenas celebridades que se distinguem pela irrelevância prática e esterilidade de ideias, desde Louçã a Rosas, de Daniel Oliveira a Rui Tavares. Qual o futuro deste partido, além das irmãs Mortágua a gritarem algo sem importância no noticiário à hora de jantar?

Agora façamos um exercício mais arrojado e olhemos a imagem no espelho do Bloco, a “nova” direita: o Chega, no seu populismo, e o Iniciativa Liberal, na sua ideologia anacrónica. Será que daqui a vinte anos alguém estará a fazer uma análise semelhante ou não durarão tanto tempo?

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