Do ponto de vista formal, as autoridades russas cumprem a Constituição do país e organizam eleições dentro dos prazos previstos, mas, na realidade, não se cansam de a espezinhar ao impedir que a oposição nelas participe.

Quando falo em oposição, claro que não tenho em vista os partidos Comunista, Liberal-Democrático e Rússia Justa, que não passam de mera decoração para “turista ver” no Parlamento Russo.

No próximo dia 13 de Setembro realizam-se eleições em 11 regiões da Federação da Rússia. O Partido da Liberdade Popular (PARNAS) reuniu à sua volta uma coligação de forças democráticas e, a fim de concentrar esforços, decidiu participar em apenas algumas eleições regionais – mas as comissões eleitorais recorrem a todo o tipo de subterfúgio para não permitir à oposição chegar aos boletins de voto.

O PARNAS tem entre os seus fundadores Boris Nemtsov, político assassinado em circunstâncias desconhecidas e, na coligação democrática, além de Mikhail Kassianov, antigo primeiro-ministro russo, está Alexei Navalny, conhecido por denunciar casos de corrupção na elite russa.

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Uma das razões alegadas para impedir a oposição de participar nas eleições é que os membros da coligação falsificaram assinaturas a fim de conseguirem o número suficiente de apoiantes para as suas listas, mas, no distrito de Kaluga, os autores de assinaturas que tinham sido consideradas “falsas” pela comissão eleitoral foram confirmar a sua veracidade. De nada valeu.

Apenas Iegor Savin conseguiu registar-se num círculo uninominal em Berdsk, pequena cidade siberiana.

O politólogo russo Stanislav Belkovski avança uma explicação bem plausível para o receio do Presidente russo, e da sua corte, face a qualquer eleição legítima e transparente: “Putin acabou completamente com a imitação de democracia que existia com o anterior Presidente”.

Isto porque a experiência democrática, em Setembro de 2013, em Moscovo não foi nada agradável para o Kremlin. Nas eleições para presidente da Câmara de Moscovo, Alexei Navalny, conseguiu 27,24 % dos votos, o que não estava nos planos do Presidente Putin.

Ao não permitir a participação da oposição democrática na vida política, o dirigente russo tenta impedir o aparecimento de qualquer foco de contestação à sua política. Isto é particularmente importante quando o preço dos combustíveis nos mercados internacionais desce, a moeda nacional russa desvaloriza-se e a situação económica se agrava na Rússia.

O Presidente russo parece estar cada vez mais consciente de que, se pouco conseguiu fazer para a modernização do seu país quando o barril de petróleo estava a mais de cem dólares, ainda menos irá fazer agora, quando o preço desse combustível desceu mais de 50%.

Numa situação destas, é mais fácil acusar demagogicamente o Ocidente e a sua “quinta coluna” da oposição de todos os males da Rússia do que resolver os graves problemas que o país enfrenta.

E a popularidade de 86% de Vladimir Putin pode não ser eterna. Por isso, mais vale prevenir do que remediar.