O Partido dos Trabalhadores (PT) e o seu líder, Lula da Silva, já beneficiaram de mais apoio do que aquele que tiveram no passado mas continuam a ter boa imprensa fora do Brasil, em Portugal concretamente. Há dias atrás, o Professor Boaventura Sousa Santos, assinando como Director do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, dirigiu aos «democratas brasileiros» uma mensagem acerca da eventual candidatura de Lula às eleições presidenciais do corrente ano.

De permeio, como se ainda estivéssemos no tempo da União Soviética, acusou o «imperialismo norte-americano» de manobras contra Lula. Não assinala, porém, a «diplomacia paralela» conduzida durante a governação PT pelo recém-falecido Professor Marco Aurélio Garcia e continuada por Lula depois de o PT ter perdido o poder. Dias depois, o Professor Arriscado Nunes, também de CES de Coimbra, acusou os juízes brasileiros de fazerem «pós-justiça» – seja lá o que isso signifique – no sentido de impedirem Lula de se candidatar de novo a Presidente…

Esta incessante mobilização dentro e fora do Brasil omite, porém, três coisas fundamentais. A primeira é que, segundo tudo quanto é possível saber acerca de Lula e do PT, inclusive nas suas relações com Sócrates e o seu governo, nenhum deles escapa à legítima suspeita que levou tantos dirigentes «pêtistas» (e dos outros partidos!) à cadeia por corrupção financeira e político-partidária, desde o chamado «Mensalão» até ao «Lava-Jacto»! A verdade é que é difícil acreditar que Lula, com a sua longa experiência, ignorasse o que se passava no Brasil e nas próprias fileiras do PT

Seja como fôr, o segundo facto omitido pela esmagadora maioria dos apoiantes da recandidatura de Lula é que grande parte dos políticos dos múltiplos partidos que têm vindo a ser incriminados por corrupção em sucessivos processos participaram do princípio ao fim na governação «pêtista» com Lula e depois com Dilma. O mais notório de todos eles é, obviamente, o mais votado partido brasileiro, o PMDB, cujo líder era nem mais nem menos do que o antigo vice de Dilma e actual presidente da República, Michel Temer!

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O chamado «presidencialismo de coalizão» em que se continua a viver no Brasil e onde o PT, embora conquistando a presidência em 2002, esteve sempre mas sim abaixo de 20% do voto popular, é a primeira receita para a corrupção e para a ausência de uma política nacional coerente. Assim viveram felizes os «coligados» dos últimos 15 anos enquanto houve recursos para pagar as clientelas e, sobretudo, os inimigos que actualmente se estão a revelar! Todos os eleitores minimamente informados sabem que, apesar das incompletas reformas prometidas para mais tarde, os resultados partidários para a Câmara de Deputados e para o Senado pouco ou nada terão que ver com os resultados da eleição presidencial prevista para Outubro de 2018!

Pior do que isso, o presidente que vier a ser eleito e o partido dele não terão votos suficientes para passar a legislação relevante como também não disporão dos recursos que Lula e Dilma chegaram a ter para comprar as fidelidades de apoiantes e adversários! Ora, o que significa isso? Muito simplesmente que, mesmo no caso de o judiciário deixar Lula participar na eleição presidencial e na improbabilidade de ele ganhar a presidência, tudo o resto ficaria na mesma, independentemente do que pensem ou desejem a «direita» e a «esquerda»…

Com uma diferença decisiva: nessas circunstâncias, seriam muito poucos os partidos disponíveis para garantir a continuação do «presidencialismo de coalizão» tal como foi praticado pelos presidentes do PT. Com sorte, sendo eleito, Lula contaria apenas com os pequenos partidos à sua «esquerda», os quais não terão votos suficientes para aprovar a legislação relevante. Seria pois, a muito curto-prazo, o impasse do sistema político, administrativo e financeiro do Estado federal e dos próprios governos estaduais!

No limite do que se lê e ouve dizer, seria melhor que Lula se abstivesse de lutar pela comparência eleitoral, deixasse o PT reconstituir-se depois de ter perdido o poder, captasse o apoio de pequenos partidos «satélites» como o PCdoB ou o PSOL, constituindo uma plataforma oposicionista coerente a um presidente politicamente reformista e economicamente liberal… Só que ainda não se está a ver quem!

As apostas de fora do xadrez habitual são obviamente tentadoras, como o televisivo Luciano Huck, que se diz patrocinado por Fernando Henrique Cardoso, mas demasiado arriscadas para a dimensão do problema. Em contrapartida, candidatos eternos como Ciro Gomes, que já fez parte de inúmeras coalizões, ficam abaixo do risco mínimo… O Brasil está muito longe de ter saído do impasse e tanto Lula como o velho PT, em cuja «diferença» se quis acreditar, só acrescentam dificuldades à busca de uma solução viável e positiva.