Alexandre Lukachenko quer ser reeleito pela quinta vez Presidente da Bielorrússia nas eleições do próximo mês de Outubro manobrando entre o Ocidente e a Rússia e dando sinais de mudanças que não deverão ocorrer.

O dirigente bielorrusso ainda não perdeu a esperança de se legitimar aos olhos da União Europeia e dos Estados Unidos. Na noite do sábado passado, libertou da prisão todos os presos políticos, incluído Nikolai Statkevitch, um dos candidatos da oposição ao cargo de Presidente do país em 2010.

Esta decisão de Lukachenko surpreendeu muitos porque, ainda recentemente, ele afirmara que não podia perdoar-lhes porque os opositores não tinham reconhecido a sua culpa durante os julgamentos. Porém, rapidamente mudou de ideias porque essa é a principal exigência apresentada pelo Ocidente para que  possa considerar legítimo o próximo escrutínio presidencial.

Washington saudou esse passo do dirigente ucraniano. John Kirby, porta-voz da Casa Branca, declarou: “a libertação destes seis presos políticos é um acontecimento positivo para o povo bielorrusso e um passo importante para a normalização das relações com os Estados Unidos”.

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Alguns politólogos viram nisto um sinal de uma séria viragem na política externa do ditador bielorrusso. Olga Karatch, dirigente da organização cívica “Nach Dom” (Nossa Casa), considera que “Lukachenko é como a casa de madeira de um conto popular: ele vira agora a parte da frente para o Ocidente e as restantes partes do corpo para a Rússia”.

Isto parece ter mais um fundamento nos ataques verbais à Rússia. Ao comentar a concepção do “mundo russo” – projecto, elaborado por ideólogos nacionalistas ligados ao Kremlin, de uma comunidade universal que reuniria todos aqueles que se consideram ligados à Rússia, à sua língua e cultura -, Lukachenko disse aos jornalistas: “Não compreendo o que é isso do ‘mundo russo’, e vocês muito menos, e o nosso povo ainda menos compreende o que é o ‘mundo russo’. Então pode-se falar do mundo bielorrusso, ucraniano. Isso é uma contraposição de mundos? Por isso trata-se  de uma tese inventada, estúpida”.

“Nós devemos viver nos nossos apartamentos. A Rússia é nosso irmão. E até digo frequentemente que é o irmão mais velho. Mas então que se comportem como irmãos mais velhos. Se o mais novo tem dificuldades, é preciso apoiá-lo. Nós vivemos numa casa comum, mas cada um num apartamento”, acrescentou.

Porém, Lukachenko mais não faz do que tentar conseguir que o seu regime se prolongue tentado “mamar em duas tetas”. Antes das eleições de 2010, a Bielorrússia conseguiu empréstimos com bons juros da Rússia, China, FMI e Venezuela. Além disso, Minsk conseguiu de Moscovo preços especiais para os fornecimentos de gás e petróleo russos. O líder bielorrusso canalizou esses meios não para a modernização da economia, mas para o aumento de salários e pensões com vista a comprar votos, missão que realizou com êxito. A palavra de ordem era: “Por uma forte e florescente Bielorrússia”.

Agora que a economia russa atravessa um mau momento, o rublo se desvaloriza rapidamente e daí não se podem esperar grandes empréstimos, Lukachenko tenta ganhar as boas graças do Ocidente e avança uma nova palavra de ordem para as eleições: “Pelo futuro da Bielorrússia independente!”.  Aqui, a palavra independente é dirigida ao Kremlin.

Ninguém duvida que Lukachenko irá ganhar as eleições com esmagadora maioria, e até poderá fazer isso sem batota, isto porque a oposição está profundamente dividida.  Nikolai Statkevitch já apelou ao boicote do escrutínio e a candidata da oposição, Tatiana Korotkevitch, é uma política ainda pouco conhecida para enfrentar aquele que não esconde a sua admiração por ditadores como Hitler os Estaline.

Depois da vitória, a oposição deverá ser alvo de represálias “se levantar algumas ondas”, mas o regime de Alexandre Lukachenko continuará inabalável se ele conseguir manobrar entre a Rússia e o Ocidente como tem feito até agora. E, por enquanto, o Kremlin pode continuar a dizer de Lukachenko o que o Presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt terá dito ditador da Nicarágua:  “Somoza may be a son of a bitch, but he’s our son of a bitch”.