Este artigo regista uma grande irritação com a TAP. Estou no aeroporto em Londres e o voo está uma hora e meia atrasado. Deveria sair às 18.30 e parte às 20.00. Vivo e trabalho há oito anos no estrangeiro (Bruxelas e Londres) e infelizmente os atrasos da TAP tornaram-se um hábito. Não são recentes, como dizem os seus responsáveis. Têm pelo menos oito anos, embora seja verdade que a situação, em vez de melhorar, tem piorado. O que é extraordinário.

Quando perguntamos as razões do atraso, recebemos as respostas mais espantosas. Umas vezes é “o tempo” (ou não fosse uma companhia portuguesa). Mas o “tempo” não explica os atrasos durante o Verão. Outras vezes são as greves, ou “dos controladores aéreos” (habitualmente, os franceses), ou do “pessoal de terra”. Esta resposta também não convence: há muito mais atrasos do que greves (mesmo incluindo as francesas). A terceira explicação é a mais hilariante de todas: “o avião chegou atrasado da viagem anterior.” Ou seja, perguntamos por que razão estão atrasados, e respondem ‘estamos atrasados porque andamos sempre atrasados.’

Faço sempre os possíveis para viajar na TAP. Para quem vive no estrangeiro, sabe entrar num avião português e com portugueses; mas a TAP não merece, lamento dizê-lo. Por causa da TAP, já cheguei atrasado a reuniões (e falhei algumas). Já falhei compromissos sociais e, o que mais me custa, deixo pessoas de quem muito gosto à minha espera. É muito triste ser obrigado a voar noutras companhias para evitar atrasos. Se servisse os meus clientes, como a TAP me serve a mim, estaria desempregado e a minha empresa já não existiria. Gozo do privilégio de escrever no “Observador” e posso exprimir a minha irritação. Mas tenho a certeza que há milhares de portugueses que partilham o que sinto neste momento. Viajo com eles e vejo o que sentem. A TAP não merece a fidelidade desses portugueses.

Mas há ainda mais duas consequências negativas. O nosso governo aposta, e muito bem, no turismo. E Portugal é um país fantástico para passar férias (na minha opinião, é o melhor da Europa). Não há um único estrangeiro com que fale que não tenha adorado as suas férias em Portugal. Para muitos dos turistas, a TAP é o primeiro contacto que têm com o nosso país. Quantos terão desistido de voltar por causa dos atrasos da TAP? Não faz sentido um governo apostar na promoção do turismo e depois permitir que a companhia nacional esteja sempre atrasada.

Em segundo lugar, numa altura em que o governo procura privatizar a TAP, os atrasos são inexplicáveis. Julgaria que quando se quer vender alguma coisa, teria que se ser exemplarmente competente. A TAP é o contrário. Está à procura de comprador e piora o seu serviço. Ainda não ouvi alguém assumir responsabilidades. Não há responsáveis? São só o “tempo”, as “greves”, o “pessoal de terra” e as “avarias”?

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