Uma cadeia de supermercados russa colocou à venda uma “tábua de cozinha/calendário” onde se pode ver um casal de macacos acompanhado do filho com a cara do Presidente norte-americano Barack Obama. Alguns dias depois, retirou esse produto da venda e pediu desculpa pelo sucedido: “Pela primeira vez deparámo-nos com esta situação, por isso o pessoal não estava pronto para isso. Para excluir a repetição sob qualquer forma, em todos os supermercados da rede estamos a dar instruções”.

Mas o facto é que ele esteve à venda vários dias e só foi retirado depois de uma notícia num jornal online e do protesto do porta-voz da Embaixada dos Estados Unidos na capital russa.

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Isto poderia ser visto como um caso isolado de racismo na Rússia, mas, infelizmente, não é assim. Outros exemplos podem ser rapidamente encontrados, nomeadamente o lançamento de bananas para os relvados dos estádios de futebol quando jogam atletas africanos ou latino-americanos. Que o digam Roberto Carlos, Hulk e outros!

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O problema é que na Rússia a xenofobia é cultivada e incentivada por órgãos de informação e até por conhecidos políticos. Tanto mais nos últimos tempos, quando a política externa russa se torna cada vez mais musculada.

Aquando da ocupação da Crimeia e da invasão da Ucrânia pelas tropas russas, em algumas ruas de cidades russas foram afixados cartazes com motivos claramente racistas em relação ao Presidente norte-americano, mas nenhum dos autores foi castigado em conformidade com as numerosas leis existentes na Rússia contra o extremismo, etc.

Estas últimas servem para perseguir os adversários políticos e os órgãos de informação que ousam criticar a política do Presidente Putin. Que o diga o canal televisivo independente “Dozh”, que se viu invadida por funcionários da Procuradoria da Rússia à procura de “materiais extremistas”.

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Banana Obama, não te engasgues!

Em Setembro de 2013, Irina Rodnina, tricampeã do mundo de patinagem artística e deputada do Parlamento Russo, publicou na sua conta do Twitter uma fotomontagem no mesmo tema. Quando rebentou o escândalo, justificou-se que a tinha recebido dos Estados Unidos, mas, como a justificação não foi muito convincente, acusou hackers de terem atacado a sua conta e publicado a dita fotomontagem racista. Os seus colegas parlamentares justificaram com a “liberdade de expressão”.

Os ataques racistas contra Obama, o aparecimento de palavras depreciativas como “americos” (americanos idiotas e estúpidos) são fruto da propaganda anti-americana realizada pelo Kremlin.

Os norte-americanos são acusados de todos os males deste mundo. Tanto daqueles erros que muitos deles já reconhecem como a guerra no Iraque ou a má avaliação das consequências da chamada “primavera árabe”, como daqueles que têm outros autores, como é o caso da ocupação da Crimeia e da guerra no Leste da Ucrânia. Eles, juntamente com os europeus, são também acusados de estarem na origem da degradação da economia e das condições de vida dos russos.

Ou seja, o Kremlin recorre à velha técnica do “apanha que é ladrão!”. Pelos vistos, parece que foram os americanos e europeus que “roubaram” os 1,05 triliões de dólares que, segundo dados da Global Financial Integrity (GFI), saíram ilegalmente da Rússia entre 2004 e 2013.

Ou serão também culpados de o número de pobres, segundo o Serviço Federal de Estatística da Rússia, ter aumentado, em menos de um ano, de 18 para 20 milhões? Ou de as sanções e contra-sanções russas contra meio mundo terem prejudicado os próprios cidadãos?

Mesmo que os americanos fossem culpados por todos os males deste mundo, não fica bem a qualquer país civilizado recorrer ao racismo nos seus ataques. Os russos dizem, “é abaixo do rodapé”, o que em português significa: “é abaixo de cão!”

P.S. Geórgia acusa helicóptero russo de violar o seu espaço aéreo. Mais um erro de cálculo, desta vez dos georgianos, ou algo está mal com os aparelhos de orientação russa.