Mais uma tarde quente no Passeio Marítimo de Algés. Esteve menos gente que no primeiro dia para sentir o vento fresco a levantar pó, mas já chegou o verão e isso notou-se outra vez no trajar, sobretudo o nórdico, para quem a roupa pesa demais quando o álcool aquece. Com o cair da noite apareceu uma magnífica lua cheia, e houve até quem se aproveitasse disso para pedir ao público que uivasse. Mas já lá vamos. Hoje começamos pelo fim.

 

Buraka Som Sistema (00h25)

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A banda da Amadora esteve no Alive em 2012, e já na altura o Palco Heineken foi pequeno demais para tamanho espetáculo. Foi impossível chegar perto da tenda, tal era a multidão. Este ano foi-lhes finalmente reservado o palco grande e as honras de cabeça de cartaz, e o espaço continuou a ser pouco.

Os Buraka Som Sistema já são uma megabanda. E não têm problemas com isso. Jogaram em casa num festival eclético, mas sabiam que tinham os fãs e a qualidade para ganhar a noite mesmo aos nomes mais sonantes. E foi isso que fizeram, batendo a concorrência em todos os aspetos.

Todo o público dançou, numa mistura que foi o reflexo do crescimento dos Buraka Som Sistema. A maturidade também se nota no modo como hoje já refazem as suas músicas para gerir a intensidade dos sons, dando tempos de respiração ao público, que reagiu bem ao recém-lançado álbum (“Buraka”) e confirma que entende, vive e vibra com essa sonoridade.

Foram muitos os apelos a Lisboa num concerto em que Kalaf se resguardou mais que o habitual, deixando a liderança para Riot e Blaya. Já se sabe que o som num festival com vários palcos não pode ser o que melhor serve os Buraka, mas mesmo assim pareceu quase sempre abaixo do que seria necessário.

O concerto terminou com o “Wegue”, ou pelo menos assim parecia. É o hino maior da banda. Mas o regresso ao palco surpreendeu, um terço do público já ia a caminho de outras andanças – melhor para os que ficaram, porque o que se seguiu foi mesmo um show para iniciados. Mais quinze minutos de música a abrir, Buraka sem filtro de festival e em comunhão absoluta com uma plateia que também não parou. Os reis da segunda noite foram mesmo os Buraka Som Sistema.

Voltemos ao início. Os Buraka são uma megabanda de festival, a primeira portuguesa com dimensão verdadeiramente internacional. E isto precisamente porque não são uma banda portuguesa. E nós celebrámos com eles, dançando.

Mas houve mais para ver e ouvir neste segundo dia do NOS Alive. Vamos aos nossos destaques.

O ambiente esteve estranho durante a atuação dos Parquet Courts (20h05) no palco Heineken. Assistimos a uma banda de punk rock que se manteve praticamente imóvel, e no geral a concordância com o público foi absoluta: tudo parado, ninguém desarmou, nem uns nem outros. O quarteto de Brooklyn lançou o álbum de estreia em 2011 numa edição limitada em formato cassete. Talvez tenha sido apenas isso a que se assistiu ao final da tarde, a música de cassete.

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Pouco depois (20h30) no Palco NOS entraram em cena os MGMT. Formaram-se há uma dezena de anos no Connecticut (EUA) mas têm apenas três álbuns editados. E não será exagero dizer que continuam a viver à sombra do LP de estreia, “Oracular Spectacular” (2007), isso notou-se durante o espetáculo desta noite. A entrada prometia, quadro de fundo psicadélico para condizer com a música e uma “voz off” grave a anunciar o evento. Eles entram, e começam com uma balada. Certo. À segunda lá metem toda a gente a mexer com “Time to Pretend”, e o mesmo só se voltou a sentir verdadeiramente com “Kids” e “Electric Feel”, precisamente três canções do álbum de estreia. Os MGMT foram mornos e simpáticos, e apenas isso.

O palco “alternativo” foi pequeno para o londrino Sam Smith (21h20). Artista competente e comunicativo, mostrou-se surpreendido com a receção. Cantou uma cover de “Do I Wanna Know?” dos Arctic Monkeys, e encantou com “La La La” e “Money on my Mind”. Sam Smith ainda é novo, tem muito para dar e é certo que vai voltar.

Uma hora mais tarde (22h25), os The Black Keys entraram num palco principal carregado de projetores, e abriram a cerimónia com a luz de “Dead and Done” (do álbum “El Camino”, 2011). Eram um dos nomes grandes da noite, mas não fizeram mais que um espetáculo justo, muito à conta das novas músicas do álbum “Turn Blue” (oitavo de originais) que ninguém conhece – nem no Spotify se encontra – ou pouco aprecia. Fizeram pausas grandes entre as músicas, e não foram interativos. Limitaram-se a cumprir com o blues rock que os caracteriza, mas nada mais que isso.

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À hora marcada (22h45) os portugueses We Trust ainda estavam a afinar instrumentos e microfones no palco Heineken. Na plateia, umas 50 pessoas, bem contadas. Foi quase um espetáculo para amigos o que se assistiu ali, pelo menos nos momentos iniciais. Estiveram 12 elementos em palco, uma autêntica orquestra que apresentou algumas músicas novas (o tema “Believe” foi logo o segundo), foram puxando pelo pouco público, que queria era ouvir aquela música do vídeo com água em câmara lenta. Notámos o som muito alto, mas talvez tenha sido efeito da dispersão pelo espaço vazio. Comparando com o espetáculo no festival de Paredes de Coura em 2011, os We Trust são uma banda a crescer, nota-se o esforço e o investimento. Com bons músicos e boa presença em palco, André Tentúgal perguntou algumas vezes “estão todos bem?”, e manteve-se bem disposto e comunicador. A dada altura, pede a todos para uivar. “Já repararam na Lua? Vamos lá, todos uivamos de vez em quando”. E ouviu-se. As canções mais conhecidas ficaram para o fim. “Once at a Time”, e depois, e ao contrário do que cada vez mais se assiste, André pede a todos para porem os telemóveis no ar, manda desligar as luzes, e lá tocam a música que tem aquele vídeo com água e saltos gravado em câmara lenta.

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A lua estava cheia e nós também ficámos cheios de saber que se faz boa música pop em Portugal. Pena não haver quase ninguém na assistência. À saída percebemos que pararam a meio caminho entre os palcos, no Clubbing: Diplo estava ao comando.

Seguiram-se as Au Revoir Simone (00h). Já são bastante conhecidas entre nós, a casa estava cheia e parecia expectante. As três alinhadas lado a lado e de frente para o público, tinham a música na ponta dos dedos. Batidas pré-gravadas, caixas de ritmos e teclados, assim se fez a pop macia e algo desafinada de um trio que se valeu da sua presença em palco. Comunicativas e expressivas, abriram com “Graviton” e fecharam com “Somebody Who”, dois dos melhores temas do último “Move In Spectrums” (2013). É certo que se trata de um festival, mas esperávamos mais.

Os SBTRKT (01h30) e os Caribou (03h00) foram dois repetentes no evento e fecharam a noite no palco Heineken. Os “Subtract” foram lentos, pré-gravados e muito cénicos (à direita no palco estava um cão? insuflável gigante), música bem feita e com recurso a maquinaria pesada. O canadiano Daniel Snaith (Caribou) trouxe companhia, o que se ouviu foi eletrónica produzida por uma banda de quatro elementos. Foi justo.

Partilhámos outros momentos no Twitter com a hashtag #ObsFEST. Mais logo há mais Alive, terceiro e último dia.