Mais crescimento, especialmente impulsionado pela tecnologia, por uma nova política europeia energética e por um aumento da natalidade, é a receita de Pascal Lamy, ex-director-geral da Organização Mundial de Comércio e ex-comissário europeu, para potenciar a economia em mais 1% do que que está previsto para a União Europeia nos próximos anos. Objectivo comum para manter os 28 juntos? O exemplo da civilizaçao da globalização.

Lamy esteve esta terça-feira na Fundação Calouste Gulbenkian para falar dos desafios da União Europeia e disse que na sua opinião são fundamentalmente três: crescimento, governação e pertença. O crescimento é mesmo o desafio “essencial” para a União Europeia, segundo o francês que apontou o aumento da natalidade, a reconquista da liderança tecnológica e uma nova política energética como os principais motores da retoma económica.

“O défice de crescimento está nas previsões se considerarmos que a Europa só vai crescer 1,5% nos próximos anos, os EUA vão duplicar esse crescimento e os países emergentes vão quadriplicá-lo. Isto quer dizer que a Europa está na cauda e há razões estruturais e conjunturais para isto” afirmou. O ex-comissário europeu do Comércio não prevê para já a criação de eurobonds, mas diz que tem de se voltar a encontrar o equilibrio entre disciplina orçamental e solidariedade que “fez o sucesso das fases em que a Europa avançou”.

Um dos maiores desafios para além do crescimento é, segundo Lamy, o sentimento de pertença à União que tem vindo a desaparecer nos cidadãos europeus. Para isto, contribuiu um “sistema institucional europeu ao querer criar capelinhas”, tornando-se “barroco e ilegível” para os cidadãos. O também presidente do think thank Notre Europe, ao qual também pertence António Vitorino, sublinhou que por isto mesmo, a próxima Comissão Europeia liderada por Juncker deve funcionar de outra forma. Devemos reconhecer que 28 comissários é um dispositivo difícil de pôr em andamento, não há competências para alimentar 28 cargos” referiu, sugerindo que a Comissão deve ter um círculo mais restrito de vice-presidências e que terá de ter mais “controlo político” do que teve no passado.

A sua sugestão para retomar este sentido de pertença vai no sentido de que os europeus realizem em conjunto a “civilização da globalização” — já que mesmo agora, aos olhos dos não europeus, a União tem “um equilíbrio muito específico pela manutenção das liberdades individuais e pela sua coesão social”. “O modelo europeu continua a ser desejável” garantiu o ex-diretor-geral da OMC.

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