François Hollande nasceu há 60 anos e está na política francesa há mais de 40. O Presidente está de férias e vai passar o aniversário fora de Paris, mas os problemas aguardam-no assim que regressar ao Eliseu. Estatísticas de crescimento e emprego abaixo do esperado, agitação interna no PS e a baixa confiança dos franceses no seu mandato ensombram as celebrações desta terça-feira.

Hollande está de férias desde dia 4 de agosto e esta terça-feira, segundo uma vidente previu à edição francesa do jornal Metro em fevereiro, para além de soprar as 60 velas, seria o dia do casamento do Presidente com a sua nova companheira, a atriz Julie Gayet. Bem, esta profecia não se concretizou, até porque Gayet já terá encontrado outra companhia, terminando assim o romance com o socialista, e desta forma, Hollande está a comemorar o aniversário com os quatro filhos no Sul de França e solteiro.

Mas a vida sentimental, não é o maior problema de Hollande. O Presidente prepara o regresso ou rentrée do governo e do Partido Socialista francês com problemas no horizonte:

1. Crescimento e Emprego

Quando subiu ao poder em maio de 2012, Hollande prometeu duas coisas: crescimento e emprego. Nenhuma delas se concretizou até agora e teme-se que as previsões de crescimento e dos índices de inflação para o país, que deverão ser conhecidos na terceira semana de agosto, não augurem nada de bom. Pierre Gattaz, presidente da maior confederação de patrões em França disse em entrevista ao Le Figaro que “não há investimento nem contratações em França”. “A situação económica do país é catastrófica”, afirmou mesmo Gattaz. E por isto, o emprego não está muito melhor. Em junho deste ano havia mais de 3,3 milhões de pessoas desempregadas, mais 0,3% que em maio. Já o plano do governo para contornar esta situação, apelidado Pacto de Responsabilidade e Solidariedade, foi parcialmente reprovado pelo Conselho Constitucional (equivalente ao Tribunal Constitucional em Portugal) no início de agosto, rejeitando a redução de contribuições para quem recebe entre 1 e 1,3 vezes o salário mínimo. Esta medida, segundo o governo, viria estimular o poder de compra dos franceses e assim trazer mais 2,5 mil milhões de euros à economia. Hollande e o seu primeiro-ministro, Manuel Valls, vão apresentar novas medidas a 20 de agosto.

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2. Relação com a Alemanha

Com o crescimento e emprego a cair (e a recessão a espreitar à esquina), Hollande decidiu apelar… à Alemanha. Em entrevista ao Le Monde, Hollande disse no dia 4 de agosto que cabia à Alemanha impulsionar o crescimento nos restantes países da zona euro, devido aos seus excedentes comerciais. O Presidente disse que não espera “nenhuma indulgência” da parte de Merkel, mas sim “um apoio mais firme ao crescimento”. De Berlim, a resposta politicamente correta: “As declarações muito generalistas que vêm de Paris não dão qualquer razão para fazer correcções à nossa política económica“. E nem foi Merkel que disse, foi o seu porta-voz Christiane Wirtz que respondeu a Hollande, referindo ainda que a Alemanha “já é uma locomotiva de crescimento na zona euro”. Os dois líderes encontram-se no final de Agosto no Conselho Europeu e aí se verá se os comentários de Hollande têm influência na chanceler.

3. Problemas do PS

Quando trincar as velas para pedir um desejo, Hollande vei ter na sua lista o apaziguamento do seu governo, com a concretização da reforma administrativa, e a acalmia do seu partido. Para a reforma do território francês, o seu parceiro de coligação, o Partido Radical de Esquerda, encabeçado por Jean-Michel Baylet, já exigiu consenso ou ameaça retirar do governo os seus três ministros – esta não seria a primeira baixa já que com a entrada de Valls como primeiro-ministro em Abril, os Verdes saíram do executivo. Também a situação interna do PS francês não é a mais simpática. A ala mais à esquerda pediu em carta aberta enviada ao primeiro-ministro a “suspensão imediata” do Pacto de Responsabilidade. Marie-Noëlle Lienemann, Emmanuel Maurel e Jérôme Guedj, representantes desta facção, escreveram que contestam absolutamente o pacto por não corresponder ao compromisso assumido por François Hollande quando tomou posse. Para além disto, já se preparam as eleições de 2017 e no partido, há quem sugira novas primárias para escolher o candidato em vez de Hollande repetir o seu mandato. Uma oportunidade para Martine Aubry, presidente da Câmara de Lille e arqui-rival de Hollande, capitalizar o descontentamento geral e preparar o seu caminho para a liderança do partido.

4. Popularidade

Não fosse o facto de ser o Presidente de França menos popular de sempre, o último mês nem teria sido mau para Hollande que viu a sua popularidade aumentar 2% – o que significa que agora 23% dos franceses olham positivamente para o seu Presidente. Mas popularidade não é sinónimo de confiança, já que 73% dos inquiridos não confiam nele para “combater os principais problemas que o país enfrenta”. Manuel Valls, primeiro-ministro está um pouco à sua frente, com 57% dos franceses a desconfiarem dele e a sua ex-companheira, Ségoléne Royal, agora ministra da Ambiente é uma das caras mais queridas dos socialistas, já que apenas 41% dos franceses têm uma má imagem da ex-candidata a presidente da República. Estes números foram recolhidos no início de agosto pelo Observatoire politique. Uma sondagem menos científica, foi a do Le Point, que na sua página perguntava o que é que os franceses ofereceriam a Hollande e grande parte escolheu dar-lhe a reforma do cargo de Presidente. No entanto, nem todos os números são maus e os franceses parecem ter apreciado o desempenho de Hollande nas recente vaga de comemorações bélicas – como os 70 anos do desembarque na Normandia e o centenário da I Guerra Mundial -, já que 55% dos inquiridos disseram que França esteve “bem” ou “muito bem representada”, segundo dados de uma sondagem do Ifop.

5. O regresso de Sarkozy

Sarkozy retirou-se da vida pública e política, mas nunca anda muito longe. As eleições para a liderança do seu partido, a UMP (União por Movimento Popular), são em novembro e não se exclui o reaparecimento do ex-presidente, mesmo depois de ter sido detido e interrogado no início de julho sobre os fundos de uma das suas campanhas eleitorais. Sarkozy escolheu Bali para um período de descanso antes de anunciar publicamente – nos primeiros dias de setembro – se regressa ou não ativamente à política. O Eliseu tem seguido cada movimento do ex-presidente e está consciente do poder que ele ainda exerce sobre os franceses – depois de ter sido detido, Sarkozy veio retratar-se publicamente na televisão e teve 9 milhões de telespectadores a assistir. Hollande e os seus apoiantes estarão divididos entre considerar Sarkozy uma ameaça ou o adversário de sonho para as presidenciais de 2017. Seja como for, é um perigo à espreita.