Empate? Qual quê. Ninguém joga para isso. Para não ser pior que o outro nem dar uma chance ao risco de tentar ser melhor. “Não me parece que seja equipa que entre nos jogos para empatar”, anteviu quem, há anos e anos, andava jovem, magricela e sem cabelos brancos a traduzir o que um inglês ordenava. Em 1994/95 era isto, uma ponte a aproximar Bobby Robson do Sporting. Dá-se um pulo de 20 anos e José Mourinho continua a falar inglês. Mas agora, na mão, segura a pá que escavou o buraco de distância entre o Chelsea e os leões.
Por muito que “não [soubesse] o significado da palavra favorito num jogo de futebol”, era claro: o Chelsea tinha mais armas. Mesmo que Mourinho olhasse para as do Sporting e visse potencial para lhe “proporcionarem um jogo difícil”. Na primeira parte aconteceu o contrário. Foi notório. E não demorou a sê-lo: logo aos dois minutos, Diego Costa, o touro que só sabe viver enraivecido, teve um momento a três — ele, a bola e Rui Patrício, sozinhos, após fugir a um Maurício que tentou, mas não conseguiu, deixá-lo em fora de jogo.
Aí Patrício defendeu, como um joker a quem o Sporting recorria. Seria a primeira de cinco vezes (já lá vamos). Aos 7’, um cruzamento de Jonathan Silva fez com que as mãos de Thibaut Courtois sentissem a bola. Coisa rara. Mas raro não era ver diferenças: como os homens vestidos de amarelo encurralavam os de verde, como pressionavam um leão quando ele recebia uma bola de costas para a baliza, ou como ganhavam um, dois e três duelos quando eram desafiados por um jogador do Sporting. Era assim que Ivanovic engolia Nani e que Matic, Fàbregas e Oscar montavam cercos a Adrien e João Mário.
Depois, a atacarem, tinham mais uma ou duas mudanças na caixa de velocidades. O alemão Schurrle, aos 15’, deu a bola em Oscar e pediu que o médio a devolvesse. ‘Sim’, disse o brasileiro, que deixou o germânico isolado na área e só com Rui Patrício à frente. Optou por fintá-lo, mas o guardião não se deixou cair na relva e conseguiu dar uma palmada na bola que Schurrle remataria. Era a segunda aparição do joker. Seis minutos depois, Naby Sarr atrapalhou-se. Após roubar uma bola no meio campo, o francês não soube o que fazer com ela e deu tempo a que o Chelsea a reclamasse — e ligasse o modo ‘contra ataque’.
Fàbregas passou, Hazard disparou, correu, esperou e, perto da área, cruzou a bola rasteira para Schurrle, que vinha embalado, rematou de cabeça para as mãos de Patrício. Antes, porém, já os leões tinham ameaçado. E desta vez a sério: um outro cruzamento de Jonathan Silva levou a bola até à cabeça de Slimani, que a rematou contra a relva e deixou que Courtois a defendesse. O Sporting reagia. Mas, depois, Nani, esperançado de que a bola passasse por entre três adversários, falhou um passe que daria outro ‘contra’ do Chelsea que Schurrle fechou com um remate ao lado da baliza.
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Os blues avisavam, uma e outra vez, enquanto Schurrle, Oscar e Diego Costa apareciam nas costas de Sarr e Maurício como se tivessem convites ilimitados. Mas seria com a bola parada que chegariam os problemas. Aos 34’, um livre lateral pediu a Cèsc Fàbregas para cruzar a bola. O espanhol olhou para o segundo poste, enviou para lá a bola e a cabeça de Nemanja Matic mandou-a passar por cima de Rui Patrício. Golo, 1-0 e a resistência ruía — e logo com o golo de um ex-Benfica, o terceiro da noite, após David Luiz e Manduca marcarem pelo PSG e APOEL (contra o Barcelona e o Ajax).
Agora sim, a palavra era reação. Pouco tempo havia, mas antes do intervalo os leões ainda remataram duas vezes: a primeira por Slimani, após reclamar um cruzamento de João Mário ao invés de deixar a bola para Adrien, e a segunda por William Carvalho, que a 30 metros da baliza mandou a bola ir ter com Courtois. Chegava o intervalo e, com ele, 15 minutos para traçar um novo caminho.
E Marco Silva terá pegado no mapa e delineado o rumo pretendido. Enquanto berrava. Porque os jogadores do Sporting acordaram, irrequietos e com energia a duplicar. Aí viram-se as armas de que José Mourinho falava. Quando a bola voltou a rolar passou-se a ver Adrien e João Mário convertidos em ladrões de bolas, Nani e Carrillo em homens de pressão constante e William mais rápido a fazer a bola mexer. Juntos começaram a pressionar o Chelsea, a chatear a saída de bola dos ingleses e a não mais se encolherem à espera do que o adversário optasse por fazer.
Foi resultando. Logo aos 48’, uma bomba lançada por Nani rebentou pouco ao lado do poste da baliza inglesa e os dez minutos seguintes viram a bola a estar quase sempre em companhia leonina — e perto da grande área do Chelsea.
A reação continuaria. Mas, pelo meio, o joker voltou a sair do baralho quando, aos 55’, Patrício tapou a auto-estrada que a equipa abrira a Oscar e defendeu o remate do brasileiro. Após este solavanco, um remate de Adrien fez a bola passar por cima da baliza e, aos 57’, só uma falta de Ivanovic parou um Carrillo que sprintava rumo à baliza do Chelsea.
Os ingleses, via-se, também abrandavam. À moda de Mourinho, que sempre preferiu meter uma almofada debaixo de uma vantagem a procurar aumentá-la com golos. Mas o Sporting a isso forçava. Estava mais ativo, perigoso e, sobretudo, com esperança de era possível fazer mal ao Chelsea. Nani, com fintas, dribles e correrias por si só, dava nas vistas. E aos 82’ e 87’, experimentou o pé direito e o canhoto para disparar dois rematas que fizeram a bola passar a centímetros dos postes. Afinal, era dele que vinha a experiência dos 57 jogos já feitos na Liga dos Campeões — quase tantos como os 62 que o Sporting cumpria esta noite, mas também ele aquém dos 100 que John Terry, o capitão blue, celebrava em Alvalade.
Pelo meio, outro joker. O quarto Rui Patrício voltava a dar uma vida à equipa, ao sair disparado da baliza, aos 84’, para, com o pé esquerdo, corta uma bola que parecia ser de Diego Costa. Depois seria Fredy Montero, o pequenote colombiano que amuou em dezembro de 2013 com os golos, a cabecear uma bola que passou bem perto do poste esquerdo da baliza de Courtois. Assim foi a segunda parte — o Sporting a pressionar, a ser ousado, a ter a bola e a tornar curta a viagem até à baliza do Chelsea, enquanto os blues se guardavam para os contra ataques que sabiam ser letais para os centrais leoninos.

Não chegou para vencer, mas as paradas de Rui Patrício valeram-lhe um aperto de mão de José Mourinho no final do encontro. Julian Finney/Getty Images
Tinham tudo para ser. Mas não o foram. Graças às mãos e pés de Rui Patrício, que foi defendendo um 1-0 e impedindo que a esperança fugisse da cabeça de quem, à sua frente, tinha de atacar a baliza contrária. E fê-lo ainda uma quinta vez, quando, já com o tempo a dar um desconto ao jogo (93’), saiu da baliza e tapou um remate de Mohamed Salah. Era o último joker. Os adeptos, os do Sporting, nunca pararam de gritar. E não se calaram quando o árbitro apitou e, com aplausos, reconheceram as paradas de um homem e o esforço da equipa que se multiplicou até ao fim.
Não seriam os únicos. Assim que o árbitro apitou três vezes, José Mourinho, entrou no relvado, fixou o rumo e só parou quando alcançou Rui Patrício, a quem esticou a mão para o cumprimentar. Aqui não é preciso tradução — o treinador do Chelsea acabava de felicitar o guardião que tantos remates impediu de se transformarem em golos. Justificava-se. “Não vou repetir as palavras, pois haveria muitos ‘pis‘ [som de palavrões censurados na televisão]. De uma forma sarcástica, disse-lhe que me queria estragar a noite”, desvendou Mourinho, após o jogo. Mas as façanhas de Patrício não foram suficientes. O Sporting perdeu, continuou assim com um ponto e está agora no último lugar do grupo, face ao empate (1-1) que o Maribor conseguiu em Gelsenkirchen, frente ao Schalke 04. É para lá que viajará daqui a duas semanas.