O secretário de Estado do Ambiente disse nesta quarta-feira que as areias acumuladas nos portos portugueses serão a solução para repor a deriva litoral de sedimentos e, deste modo, combater a erosão na costa portuguesa. Em declarações à agência Lusa, à margem de uma visita, na Figueira da Foz, a obras de proteção costeira, Paulo Lemos afirmou que “dados preliminares” do grupo de trabalho nomeado pelo Governo para apresentar soluções para o litoral apontam para a utilização de areias acumuladas nos portos.

“Se conseguíssemos que as dragagens dos portos ajudassem a repor o trânsito sedimentar, quer colocando diretamente na praia, quer colocando em batimétricas [no mar, a diferentes profundidades] que permita depois o retorno, conseguíamos, de certa maneira, retomar o equilíbrio [da deriva]”, afirmou Paulo Lemos.

A solução será idêntica à ocorrida este verão na Costa da Caparica, cujas praias foram alvo de reenchimento com areia proveniente do canal do porto de Lisboa, ou na Figueira da Foz, onde estão decorreram dragagens do canal interior do porto com deposição em alto mar, a sul. No entanto, o secretário de Estado avisou que a solução só será efetiva a médio prazo. “Não estou a dizer que para o ano isso vai acontecer, mas num prazo relativo conseguíamos que o trânsito sedimentar que foi quebrado nos rios e ao longo da costa pelas obras de proteção fosse retomado”, frisou.

Já um sistema de “bypass” [sistema que permite a transferência de areias de uma lado para o outro, por exemplo por debaixo do leito de um rio], solução preconizada, na Figueira da Foz, pelo movimento de cidadãos SOS Cabedelo, por outras organizações nacionais ligadas ao surf e por investigadores da área, “pode ser uma solução, está em avaliação”, sustentou Paulo Lemos.

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Paulo Lemos disse ainda que o projeto da autarquia da Figueira da Foz em reclamar para o domínio municipal parte do areal, pertencente atualmente ao domínio privado do Estado, sob jurisdição do ministério do Ambiente, já foi apresentado à Agência Portuguesa do Ambiente. “Estamos a avaliar essa possibilidade”, reconheceu.

Questionado sobre se a areia proveniente da deriva litoral, que se acumula em praias como São Jacinto (Aveiro) ou na Figueira da Foz – o maior areal urbano da Europa, que retém , anualmente, cerca de 230 mil metros cúbicos de sedimentos – pode também constituir solução, Paulo Lemos admitiu como possível um cenário dessa natureza.

“Ir buscar areia a esses depósitos também poderá ser uma solução, se virmos que a deriva, per si, não ajuda. Mas o que nos diz é que a areia que se acumula nos portos poderá ser suficiente para essa situação e como os portos necessitam de dragagens é uma questão de conjugar essas duas intervenções”, afirmou o governante.

No entanto, acrescentou que as conclusões finais do Grupo de Trabalho Litoral ainda não são conhecidas e o relatório só deverá ser entregue ao ministro do Ambiente no final do mês de outubro, sendo de prever, no início de novembro, uma “avaliação política” do documento por parte de Jorge Moreira da Silva.