Enquanto discursava esta sexta-feira, perante os seus militantes, Pedro Passos Coelho desafiou o Partido Socialista a “procurar compromissos políticos antes das eleições” e não apenas quando, e se, formar Governo. O primeiro-ministro português acusou o PS de seguir uma lógica de “orgulhosamente sós” e de não procurar intervir positivamente na discussão política do país.
Começando por admitir que ainda não tinha tido “a oportunidade para ler a Agenda para a Década”, apresentada por António Costa poucas horas antes, Passos Coelho garantiu que tinha percebido a mensagem socialista de que o partido está pronto e empenhado em conseguir “um compromisso de fundo” para recuperar o país. Mas questionou: “Por que razão o PS só reconhece [a importância destes compromissos] para depois das eleições? Por que razão não fomos capazes de conseguir esses entendimentos nos últimos três anos?”.
O primeiro-ministro disse porquê: “O PS tem uma visão maniqueísta da política e de Portugal (…) Os compromissos só são possíveis quando o PS ganha as eleições”, porque quando está na oposição “acha sempre que não há condições”, relembrando que o PSD, quando esteve na oposição, com Manuela Ferreira Leite e Marcelo Rebelo de Sousa, sempre procurou a cooperação política.
Num discurso marcado pelo apelo aos compromissos e ao entendimento com o Partido Socialista, no sentido de enfrentarem “juntos” os desafios do futuro, Pedro Passos Coelho não se esqueceu de sublinhar o legado de “dívidas” e de “empobrecimento” deixado pelos últimos anos de governação socialista e o caminho de recuperação económica que foi feito até aqui.
“No ano em que celebramos os 40 anos da nossa democracia, que melhor homenagem podíamos prestar aos fundadores dessa democracia, do que recuperar a nossa autonomia? (…) Do que sair de um precipício que aqueles que andam com abril na boca nos colocaram?”, afirmou Passos Coelho, recebendo a primeira ovação da noite.
A nacionalização do BPN serviu de mote para as duras críticas dirigidas ao anterior Governo socialista e “aos profetas da desgraça”: “Eu ouço com uma certa surpresa aqueles que criticam a resolução adotada para o banco BES (…) Nós perguntámos: o que era suposto fazer? Aquilo que foi feito com o BPN? (…) Colocar em risco o dinheiro dos contribuintes? Íamos pôr os portugueses a saldarem as dívidas de quem não soube gerir o banco?”.
Pedro Passos Coelho respondeu que não, acusando o PS de agora querer nacionalizar a PT, tal como pretendia fazer com o BES. O líder social-democrata denunciou o facto de a operadora telefónica ter funcionado “como tesouraria do banco [BES]” e de se ter sempre relacionado de forma “muito pouco transparente” com o poder político. Resultado? Sucessivas irregularidades que os socialistas “não apenas consentiram, como também alinharam com elas”.
Nesse sentido, o primeiro-ministro reforçou a ideia de que “o dinheiro dos contribuintes não pode servir para pagar os privilégios de alguns (…) Nós [Governo] pusemos fim a esses abusos aos portugueses perpetrados nos últimos 10 anos”, pelos mesmos que agora esperam “que as pessoas tenham fraca memória” e que se deixem levar pelas “aventuras” prometidas pelo Partido Socialista.