A provisão criada para proteger os clientes de retalho do Banco Espírito Santo (BES) não era garantida apenas pela Tranquilidade, mas também pelas próprias ações do Espírito Santo Financial Group (ESFG) no BES, revelou esta terça-feira o presidente da KPMG Portugal na comissão parlamentar de inquérito aos atos de gestão do banco.

Sikandar Sattar explicou que a participação da ESFG no banco correspondia à data (maio de 2014) ao ativo mais valioso da holding financeira do GES. A provisão de 700 milhões de euros, que foi constituída na ESFG para salvaguardar o valor patrimonial do BES, servia para reembolsar o papel comercial das empresas do grupo vendido a clientes do BES. Caso a seguradora não fosse suficiente ou se os 700 milhões de euros não chegassem, a ESFG poderia vender uma parte da participação de 25% no banco, explicou,

A versão avançada por Sikander Sattar difere da explicação dada na comissão parlamentar de inquérito pelo governador do Banco de Portugal. Carlos Costa identificou apenas a Tranquilidade como a garantia prestada pela ESFG em relação ao compromisso de reembolsar até 700 milhões de euros da dívida do GES colocada em clientes de retalho do BES.

Na altura, Carlos Costa remeteu a responsabilidade pelo valor atribuído à seguradora à KPMG, a auditora que validou a avaliação realizada pelo BESI (Banco Espírito Santo de Investimento). No dia seguinte, o presidente do Instituto de Seguros de Portugal questionou na mesma comissão esta avaliação. Para José Almaça, a Tranquilidade nunca poderia valer 700 milhões de euros. Se lhe tivessem perguntado teria dito isso mesmo, mas o ISP não foi informado da constituição deste penhor.

A Tranquilidade acabou por ser vendida por pouco mais de 200 milhões de euros, com a maior fatia deste encaixe a ser utilizado para repor os níveis de solvência da seguradora afetados por investimentos realizados no Grupo Espírito Santo.

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