Amedy Coulibaly, o homem que tomou de assalto um supermercado judaico em Porte de Vincennes, na zona este de Paris, na sexta-feira e matou quatro pessoas – viria também a ser morto pela polícia -, justificou as suas ações com as intervenções militares francesas no Mali e na Síria. Com quatro cadáveres no chão, Coulibaly envolveu-se numa troca de argumentos com alguns reféns e, também, com os negociadores da polícia: se os franceses deixassem os muçulmanos “tranquilos”, os terroristas também não atacariam o país, defendeu. A companheira de Coulibaly, Hayat Boumedienne, continua a monte e as autoridades estão à sua procura, embora ainda não seja claro qual o seu envolvimento no ataque.

Segundo o procurador de Paris relatou após o fim deste ataque, Coulibaly terá entrado no supermercado por volta das 13 horas locais e disparado logo uma rajada de tiros que vitimou mortalmente quatro pessoas. As autoridades francesas fizeram mesmo questão de relevar que nenhum refém foi morto durante a tomada do supermercado por parte da polícia. Para esta conclusão contribuíram os relatos do próprio terrorista, que falou com a BFMTV durante o ataque, mas também as autópsias, que segundo as autoridades, indicam que “nenhum refém foi morto durante o assalto da polícia”.

O que se seguiu, então, à entrada de Amedy Coulibaly no supermercado foram quatro horas de conversas com os restantes reféns – haveria no estabelecimento ainda com vida dois homens, duas mulheres e um bebé de oito meses – e negociadores da polícia. A cadeia de rádio e televisão RTL obteve uma gravação do interior do supermercado e destas conversas, denotando que o atacante manteve sempre os argumentos tradicionalmente utilizados pelos jihadistas. Nas gravações ouve-se Coulibaly a dizer que as autoridades francesas fazem a opinião pública acreditar que “os muçulmanos são terroristas”, mas ele diz que nasceu em França e que se os franceses não “atacassem noutros sítios”, ele não estaria ali.

“Em primeiro lugar, são vocês que elegem os vossos governos e os vossos governos nunca vos esconderam que fazem a guerra no Mali e noutros sítios. Em segundo lugar, são vocês que os financiam com os vossos impostos, portanto estão de acordo”, argumentou Amedy Coulibaly com os reféns do supermercado.

Coulibaly acusa os reféns de financiarem as ações do governo quando pagam os seus impostos. Um refém responde e diz que paga os seus impostos para que “se façam escolas e e estradas”, mas em jeito de ameaça, o terrorista afirma que se os franceses se unissem contra as suas intervenções militares no Mali ou na Síria como fizeram para o Charlie Hebdo e deixassem os muçulmanos em paz, ele também deixaria as pessoas em paz.

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Para além destes argumentos, o terrorista disse ainda às autoridades que haveria “um banho de sangue” no supermercado caso as autoridades avançassem sobre os atacantes do Charlie Hebdo que estavam cercados em Dammartin-en-Goële (Seine-et-Marne). Durante o período de negociações com a polícia, que terá começado às 15 horas locais, a RTL reporta que o homem se manteve sempre “muito calmo”. Coulibaly disse ainda às autoridades que era o autor do tiroteio que vitimou uma polícia na quinta-feira e que era afiliado com o Estado Islâmico.

UNSPECIFIED - JANUARY 09:  Pictured in this handout provided by the Direction Centrale de la Police Judiciaire on January 9, 2015 is suspect Hayat Boumeddiene, aged 26, known associate of Amedy Coulibaly who is wanted in connection with the shooting of a French policewoman yesterday and suspected as being involved in the ongoing hostage situation at a Kosher store in the Porte de Vincennes area of Paris. France continues at the highest level of security alert following the attack at the satirical weekly Charlie Hebdo in which twelve people were killed on Wednesday. On January 8 French police published photos of two brothers, Said Kouachi and Cherif Kouachi, wanted as suspects over the massacre at the magazine. (Photo by Direction centrale de la Police judiciaire via Getty Images)

Amedy Coulibaly e Hayat Boumeddiene

Os laços entre Coulibaly e os irmãos Kouachi já foram estabelecidos, pois os três terroristas participaram na tentativa de fuga de Smaïn Aït Ali Belkacem, autor de uma vaga de atentados nos anos 90 nos comboios suburbanos de Paris. Coulibaly esteve preso três anos. A polícia está agora à procura da sua companheira Hayat Boumedienne, embora ainda não tenha esclarecido qual a sua ligação a este ataque – chegou a pensar-se que a mulher de 26 anos estaria dentro do supermercado com Coulibaly. O que já é conhecido é que Hayat mantinha uma ligação próxima Izzana Hamyd, mulher de Chérif Kouachi. Em 2014, as duas mulheres terão falado mais de 500 vezes ao telefone. Izzana está em custódia policial desde quarta-feira.