Os Estados Unidos estão a ponderar enviar armamento de defesa e equipamento para as tropas ucranianas, dando assim apoio ao Governo de Kiev para fazer frente aos ataques levados a cabo pelos rebeldes pró-Rússia no leste da Ucrânia, e que – Washington insiste – têm o auxílio de Moscovo. A CNN escreve que essa ajuda poderá incluir sistemas antiaéreos, anti-morteiros e antitanques.
A notícia tinha sido avançada pelo New York Times, no domingo, que escreveu que o comandante militar da NATO, o general Philip M. Breedlove, e outros elementos do exército norte-americano eram favoráveis a essa medida. Segundo o mesmo jornal, o presidente Barack Obama não tinha ainda tomado uma decisão sobre o assunto.
A CNN escreve esta segunda-feira que o Governo norte-americano está a avaliar uma possível resposta da Rússia a um cenário em que os EUA apoiam militarmente Kiev. E o New York Times enumera as mudanças de posição em curso: o secretário de Estado, John Kerry, que na quinta estará na capital ucraniana, está preparado para discutir o “apoio letal”; Susan E. Rice, conselheira de segurança nacional, opôs-se sempre a que essa questão estivesse em cima da mesa, mas está disposta a reconsiderar a sua visão.
Numa entrevista ao canal de televisão na semana passada, Obama afastou a hipótese de fornecer apoio letal à Ucrânia, insistindo na continuação da política de impor sanções económicas à Rússia. “Não penso que seria inteligente para os Estados Unidos ou para o mundo a existência de um conflito militar entre os EUA e a Rússia”, disse. Mais recentemente, durante a visita oficial à Índia, o presidente norte-americano parece ter começado a mudar de ideias. “Estou a analisar as opções disponíveis – e que não envolvam uma confrontação militar – para resolvermos este assunto”, disse.
Esta segunda-feira, um grupo de antigos oficiais da NATO e do exército norte-americano divulgou um relatório no qual aconselha Obama a aumentar o apoio às tropas ucranianas, advertindo a administração que a incapacidade de evitar incursões no leste da Ucrânia leva ao fortalecimento da Rússia, segundo a CNN. “Se os EUA e a NATO não apoiarem devidamente a Ucrânia, Moscovo acabará por concluir que a estratégia que aplicou no último ano pode ser aplicada noutros locais”, pode ler-se no estudo, que faz referência a possíveis incursões russas na Estónia e Letónia.
Rebeldes querem 100 mil homens
No sábado, as negociações sobre a paz entre o Governo de Kiev e os rebeldes pró-Rússia realizadas em Minsk, capital da Bielorrússia, terminaram sem um acordo para cessar-fogo. E os confrontos continuaram no leste da Ucrânia. No fim de semana, houve mais de 20 mortes devido ao conflito, de acordo com Kiev. Rebeldes e forças governamentais lutam agora pela cidade de Debaltseve, situada entre Donetsk e Lugansk.
O líder separatista da auto-proclamada república popular de Donetsk, Alexander Zakharchenko, apelou esta segunda-feira a uma mobilização urgente com o objetivo de reunir 100 mil homens nos próximos dez dias. “O exército conjunto das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk devia ter 100 mil homens”, disse.
O analista da BBC David Stern tem dúvidas sobre a possibilidade de esta mobilização se concretizar, uma vez que os territórios nas mãos dos rebeldes perderam população nos últimos meses. Stern considera que o apelo de Zakharchenko pode tratar-se de um exercício de retórica, para igualar os planos de mobilização da Ucrânia, que tenciona reunir 200 mil homens no ano de 2015. Ou pode indicar, como temem alguns em Kiev, uma preparação do terreno para a invasão eminente da Rússia. Mais de 5000 pessoas morreram e 1,2 milhões ficaram desalojadas desde que os confrontos no leste da Ucrânia começaram, em abril de 2014.