Num momento em que parece cada vez mais difícil desatar o nó entre gregos e os restantes parceiros europeus, chegam notícias importantes da Alemanha: em Hamburgo, nas eleições regionais alemãs, o partido liderado pela Chanceler (CDU) sofreu a maior derrota de sempre naquela cidade-estado. Em sentido inverso, o partido anti-euro Alternativa para Alemanha (AfD) – que defende a expulsão da União Europeia de economias em crise como a Grécia – conseguiu, pela primeira vez, eleger deputados num parlamento regional do Estado oeste da Alemanha. Aumenta a pressão interna sobre Angela Merkel?

Criado apenas em 2013, o partido liderado por Bernd Lucke tem somado vitória atrás de vitória: em agosto de 2014, alcançou uma votação de 10% nas eleições regionais no estado da Saxónia, no leste da Alemanha; um mês depois, foi a vez de conseguir resultados históricos no Estado de Turíngia (10,6%) e em Brandemburgo (12,2%).

Agora, com 6,1% dos votos e oito deputados eleitos em Hamburgo, os eurocéticos parecem estar a conseguir capitalizar o descontentamento de alguns alemães que acreditam estar condenados a pagar as contas dos países em crise de desenvolvimento e a serem o sustento da Europa.

Mais: apesar de a AfD estar a conseguir roubar votos a todas as forças do espetro político alemão, as fileiras da CDU estão alimentar e muito o partido de centro-direita, como demonstram os dados da ARD/Infratest Dimap.

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AfD

Fonte: ARD/Infratest Dimap

Ao mesmo ritmo que os eurocéticos crescem, os partidos que formam a grande coligação que governa a Alemanha (CDU e CSU-SPD) são castigados nas urnas. Os sociais-democratas, que lideram Hamburgo desde o final da Segunda Guerra Mundial, perderam a maioria absoluta e sofreram uma queda de 2,7 pontos percentuais em relação a 2011. Já os democratas-cristãos de Angela Merkel batem recordes negativos desde 2011: há quatro anos alcançaram 20,5% dos votos, metade do que tinham somado em 2008 (42,6%). Na altura, foi o pior resultado de sempre daquele partido em Hamburgo, só ultrapassado agora, com 15,9% e apenas 20 deputados eleitos.

Este gráfico ilustra a queda de 2,7 pontos percentuais no caso dos sociais-democratas e de seis pontos percentuais para os democratas-cristãos.

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Fonte: ARD/Infratest Dimap

Perante este cenário, a pergunta que se coloca neste momento é se Angela Merkel terá ou não a tentação de endurecer a posição alemã nas negociações com a Grécia, de forma a segurar o eleitorado insatisfeito. Se o fizer, poderá ganhar tempo para estancar as feridas internas, mas terá sempre de responder perante os parceiros europeus que pedem mais abertura e maior flexibilidade nas negociações.

Por outro lado, a Alemanha não está sozinha na decisão de não satisfazer as pretensões dos gregos – Finlândia, Holanda, Eslováquia, mas também Espanha e Portugal, estão entre os países que exigem mão de ferro com a Grécia e que recusam a reestruturação da dívida pública grega, uma das bandeiras do Governo liderado por Tsipras. Ou seja, se a Chanceler, apoiada pelos outros parceiros europeus, decidir endurecer o discurso, os gregos poderão ficar mais isolados na mesa das negociações.