A culpa é das regras da FIFA, que não deixam um jogador voltar a dar pontapés na bola pela seleção se já o tiver feito menos de 72 horas antes. Fernando Santos sabia-o. E, por isso, avisou na passada sexta-feira que esta semana teria de convocar mais nomes para, a 31 de março, estarem na equipa com que Portugal defrontaria Cabo Verde. Esta lista interessava, sobretudo porque, se para o jogo frente à Sérvia, a 29, o selecionador chamara os nomes do costume, então guardaria as novidades para a outra fornada de convocados. Foi o que vez, pois decidiu pegar no telefone e ligar apenas a homens que jogam à bola na liga portuguesa.

Foram 11 ao todo e chegavam para compor uma seleção, pois Fernando Santos até um guarda-redes convocou e foi buscá-lo à baliza do Moreirense. Chama-se Marafona, tem 27 anos e esta é apenas o segundo ano que cumpre na primeira liga — antes só aparecera por esses lados em 2010/2011, com o Marítimo. Formado no Varzim, clube com o qual passou quatro épocas até apanhar um avião para a Madeira, o guardião vai com 38 golos sofridos em 30 partidas feitas esta temporada.

Guarda-redes: Marafona (Moreirense)

Defesas: André Almeida (Benfica), André Pinto (Sporting de Braga) e Tiago Pinto (Rio Ave).

Médios: Adrien Silva (Sporting), Danilo Pereira (Marítimo), André André (Vitória de Guimarães) e Pizzi (Benfica).

Avançados: Lucas João (Nacional da Madeira), Ukra (Rio Ave) e Rui Fonte (Belenenses).

Para a defesa o selecionador chamou alguém que até já está habituado a isto. André Almeida, homem que tanto joga à esquerda como à direita no Benfica, e até pode ajudar a trinco, já esteve no Mundial do Brasil (alinhou no empate a dois golos com os EUA). Mas André Pinto, não. O central do Sporting de Braga, de 25 anos e 1,94m de altura, tem feito um par coeso com Aderlan Santos (os minhotos, com 17 golos sofridos, são a terceira melhor defesa do campeonato), e tem provado que os dois anos na Grécia, com o Panathinaikos (entre 2012 e 2014), lhe fizeram bem.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A outra novidade é Tiago Pinto, o filho canhoto de João Pinto, hoje diretor da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que em novembro era visto pelos olhos de Pedro Martins, seu treinador no Rio Ave, como “um dos mais fortes laterais-esquerdos, senão o melhor, do futebol português neste momento”. Já vai com 27 anos, uma série de lesões complicadas no caminho e parece estar com genica atacante para atacar a lateral esquerda do campo — no sábado, por exemplo, conseguiu a expulsão de Luisão, capitão do Benfica, com uma arrancada.

“Decidimos chamar apenas jogadores que atuam no campeonato português. Foi este o critério seguido, embora pudéssemos ter optado por outro. É importante realçar que há jogadores noutros campeonatos que poderiam perfeitamente estar neste grupo, e até terem sido chamados para o jogo com a Sérvia”, explicou Fernando Santos.

No meio campo há Adrien Silva, homem dos penáltis do Sporting (13 dos 20 golos que marcou pelos leões foram assim) que se estreou pela seleção nacional contra a Argentina, em novembro, e já conta com uma mão cheia de convocatórias. Ao contrário de Danilo Pereira, trinco e capitão do Marítimo, que trata tão bem a bola como a rouba dos outros. O médio não tem parado de mostrar coisas boas nas duas últimas épocas, depois de andar uns anos à deriva (empréstimos ao Aris Salónica, da Grécia, em 2011, e ao Roda, da Holanda, em 2012) desde que aguentou o meio campo da seleção sub-20 que, em 2011, foi vice-campeã mundial.

A estes se juntam André André, capitão do Vitória que mora em Guimarães, que leva 13 golos marcados esta época (dez de penálti) e se estreia também nas convocatórias, e Pizzi, do Benfica, que da última vez que fora convocado — em agosto de 2013, quando cumpriu a segunda internacionalização, frente à Holanda — ainda era extremo e não o médio centro em que Jorge Jesus o transformou no Benfica.

Na frente, para marcar golos, cruzar a bola e inventar ou acabar jogadas, Fernando Santos convocou três homens. Um deles é Lucas João, o luso-angolano que está a explodir no Nacional da Madeira desde que a temporada entrou em 2015: o avançado vai com sete golos marcados desde janeiro, quando antes, até à época dobrar a esquina dos anos, não tinha marcado nenhum. E só tem 21 anos. O outro homem dos golos será Rui Fonte, irmão de José, defesa central do Southampton que também está convocado, que no Natal trocou o Benfica B por um empréstimo ao Belenenses. O avançado, de 24 anos, tem 17 golos marcados na segunda liga e um feito na primeira.

E para fechar esta fornada há Ukra, o único extremo da lista. Feito no FC Porto, teve de esperar até aos 27 anos para aterrar na seleção nacional, depois de três anos de empréstimos ao Braga (e uma lesão das graves pelo meio num joelho) e de um par de épocas no Rio Ave, onde tem dado nas vistas e tido uma sequência constante de jogos. Vai com seis golos esta temporada e 42 jogos já feitos.

Em breve poderão aparecer ainda mais novidades: Fernando Santos revelou que poderá acrescentar jogadores dos sub-21, consoante “o que for sendo observado durante esta semana de trabalho”. Uma coisa é certa: quem jogar contra a Sérvia não estará em campo contra Cabo Verde. Uma garantia que poderá deixar que vários destes jogadores cumpram a primeira internacionalização pela seleção portuguesa.