O tema era a possibilidade de um referendo para determinar se o Reino Unido devia ou não ficar na União Europeia (UE), mas o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair aproveitou para esclarecer, afinal, quem é que apoia nestas eleições. “Só para que entendam isto e o percebam inteiramente: eu apoio-o a 100% para levar o nosso partido até à vitória.” Falava, é claro, de Ed Miliband.

Pode parecer uma verdade de La Palice que Tony Blair, o último trabalhista que ocupou o número 10 de Downing Street, declarar o seu apoio ao homem escolhido pelo partido de ambos para voltar a conquistar a mesma morada. Mas, parecendo uma evidência, não o é.

Patrick Wintour, editor de política do “The Guardian”, resumiu a situação recorrendo a uma metáfora. “O homem que liderou os trabalhistas em três vitórias eleitorais é visto por algumas partes como aquele familiar mais velho que toda a gente prefere que não seja convidado para um casamento na família, mas que também toda a gente sabe que criaria mais alarido se ninguém lhe dissesse nada e que, por isso, fica sentado na mesa posta de parte para os familiares distantes.”

Essa distância tornou-se óbvia durante o debate eleitoral de 2 de abril – o primeiro de três, mas o único em que Miliband estará frente a frente com David Cameron, primeiro-ministro e líder trabalhista. Um dos pontos em que Cameron mais insistiu quando se dirigiu a Miliband foi o estado em que o seu governo encontrou a economia britânica quando iniciou o seu mandato em 2010. O trabalhista evitou o tema, reclamando de o conservador estar “sempre a tentar falar do passado e a esquecer o futuro”.

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O ponto mais baixo da economia durante o período de governação trabalhista (1997-2010) foi em 2009, ano em que se registou uma recessão de 4,3%. Em 2010, o ano da passagem de testemunho dos trabalhistas para os conservadores, a economia cresceu 1,9%.

“Pior período para economia depois da guerra”

Não foi por acaso que Tony Blair escolheu para tema principal da sua intervenção a defesa da permanência do Reino Unido na UE. Este é, de todos os temas fraturantes desta campanha, aquele em que mais concorda com Miliband. Blair evocou até um argumento ao qual o candidato trabalhista tem feito referência: o das consequências negativas que uma saída britânica da comunidade europeia teria na economia. “O argumento económico contra a saída da UE é óbvio. Mais de metade das nossas trocas comerciais são com a Europa”, disse o antigo primeiro-ministro, perante apoiantes do Partido Trabalhista em Sedgefield, o círculo eleitoral que elegeu Blair sempre que ele foi a votos.

Se os britânicos votarem a favor de uma saída da UE, Blair disse que isso traria o maior período de “ansiedade, reconsideração de opções e de instabilidade” desde a Segunda Guerra Mundial. Por isso, falou da “periclitante fragilidade do apoio público para fazer uma escolha sensata” e acusou Cameron, de prometer um referendo “apenas para conseguir votos ao [partido eurocético] do UKIP” e para “satisfazer a insistente eurofobia de um grupo que nunca estará satisfeito”.

No início da campanha eleitoral, Blair fez um donativo de 106 mil libras (137 mil euros) ao seu partido. O valor não é aleatório: são mil libras por cada círculo eleitoral em que uma vitória trabalhista não é certa mas necessária para atingir uma maioria parlamentar depois das eleições de 7 de maio de 2015.

Tony Blair não tem estado diretamente envolvido na política britânica desde que cedeu o lugar de primeiro-ministro ao seu número dois, o escocês Gordon Brown.