É uma miscelânea de idiomas o que se ouve hoje no Santuário de Fátima, onde já se encontram centenas de emigrantes portugueses para participar na peregrinação que lhes é dedicada, onde renovam os pedidos de trabalho e saúde.

Aqui, depositam as mágoas por terem de deixar o país e a família, agradecem o trabalho que conseguiram lá fora e reiteram os pedidos de muita saúde e a manutenção dos empregos.

“Saí de Portugal um bocado magoada, mas vou fazendo as pazes. É o meu país, mas não tem condições”, lamentou à agência Lusa Cláudia Fidalgo, de 31 anos, que repetiu há três anos, com os dois filhos, os passos que o marido deu em 2010, com destino à Suíça.

Quando o marido fez as malas, despedindo-se do trabalho que tinha, já se notava que era difícil o orçamento familiar conseguir pagar as despesas todas que o casal, residente em Estarreja, distrito de Aveiro, tinha de suportar.

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“Estava tudo muito caro”, declarou Cláudia Fidalgo, explicando que, embora as autoridades suíças estejam mais rígidas, “muitos jovens portugueses” continuam a fazer-se à vida, como eles, naquele país.

De férias no país, a visita a Fátima, no distrito de Santarém, é obrigatória. “É uma questão de fé, de agradecimento”, declarou Cláudia.

Para o Canadá partiu há quatro anos Luciana Gouveia, de 29 anos, que deixou Braga com o marido, “para tentar melhorar a vida” da família, que ganhou, naquele país, um novo membro, o Rodrigo, de três anos.

“Viemos visitar a família, mas não podemos deixar de vir a Fátima”, disse a jovem que “bebe” no templo mariano “coragem para enfrentar mais um ano de trabalho”.

Depois de Luciana, foram o irmão Hélder e a mulher, a partir para França, onde nasceu entretanto a filha de ambos.

Os pais de Luciana e Hélder ficaram sozinhos, continuando a ver outros jovens, outras famílias a trilhar os caminhos da emigração.

João Gouveia, de 53 anos, é o rosto da revolta, por estar longe dos filhos e dos netos e de ter uma família dividida.

“Os impostos a subir, os miúdos a emigrar”, afirmou, não conseguindo travar as lágrimas nos olhos e a revolta que lhe vai no coração “contra os políticos” que levaram o país à crise.

Já Albina Dias, de 46 anos, saiu há 22 para o Luxemburgo, deixando Valongo, Porto, porque a necessidade de emprego falava mais alto.

As saudades da família mata-as por este mês e, por estes dias, também as de Fátima.

“Tenho muita fé e não consigo vir a Portugal sem vir a Fátima”, afirmou, adiantando encontrar, a cada ano de regresso, “as pessoas um bocado tristes e sem trabalho” e desejando que “acabe esta dificuldade do desemprego” para quem cá fica.

Da mesma geração de Albina, partiu José Carlos, de 45 anos, para França.

Já lá vão 25 anos que deixou a vila da Feira, mas regressa sempre ao país e a Fátima onde a devoção o leva a pedir “ajuda para todos”.

Do Portugal que reencontra, ano após ano, diz agora “estar a melhorar”, mas como ele continuam a sair muitos por causa do trabalho.

A peregrinação dos migrantes a Fátima, presidida pelo bispo das Forças Armadas e de Segurança, Manuel Linda, começa às 18:30, na Capelinha das Aparições.

Coincidente com a peregrinação internacional de 12 e 13 de agosto, as cerimónias terminam na quinta-feira.