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O verão chega, o calor aperta e o calendário fica com mais espaços em branco que o normal. É altura de compras, de esvaziar a carteira cheia e de aproveitar a altura para ir às compras. Os adeptos anseiam por estrelas, craques de nome conhecido para inflacionarem as expetativas. Os clubes sabem-no, mas, de vez em quando, fintam o que os sócios pretendem e, com olhos de ver, buscam por quem saiba jogar à bola, fale português e tenha potencial para crescer aos pulos. Os dragões fizeram-no e foi assim que alguém chamado André André voltou ao Porto e, uns meses depois, fez o que nunca ouvira o pai a contar-lhe: decidiu um clássico.

O André graúdo devia ter uma história atrás da outra para contar ao filho, mas nunca lhe disse o que era marcar um golo para abater o Benfica — em 41 jogos contra os encarnados, nunca o fez. O André miúdo fê-lo à primeira e provou que é bom apostar em portugueses e, sobretudo, pô-los a jogar. O clássico de domingo teve nove portugueses em campo (seis titulares) e isso é de saudar: a época passada nenhum duelo entre os rivais teve mais de três jogadores nacionais a arrancarem uma partida. E tudo melhora quando é um português a resolver um dos jogos mais importantes do campeonato.

O clássico valeu a pena porque ser português como já não o era há muito e por mostrar que este campeonato vai ser mais animado que o costume. A derrota do Benfica obriga Rui Vitória a mexer-se para não deixar os encarnados perderem o embalo de uma liga que, para variar, parece que será discutida outra vez a três e não apenas a dois. A ida de Jorge Jesus para o Sporting já o antevira e, mesmo ainda titubeante aqui e ali, os leões ainda só não venceram um jogo (como os dragões) e mantêm-se na liderança partilhada do campeonato. Devem um obrigado a Fredy Montero, colombiano que é prova viva de como um avançado vive da confiança pois, com ela, parece jogar o dobro. E marcar, também — os últimos dois golos que o Sporting marcou foram dele (ao Lokomotiv e, agora, ao Nacional) e do banco saiu para dar à equipa o que Téo Gutiérrez não tem dado em campo, a titular.

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O que o Braga deu ao campeonato foram golos. Os minhotos marcaram cinco ao Marítimo (5-1) e mostraram, de vez, como o estilo paciente, de ter a bola no pé com calma, sem pressas, fazendo-a rodar de um lado para o outro do campo para tentar adormecer o adversário e, do nada, atirar um passe para as costas da defesa, pode dar resultados. Já se nota bem a mão de Paulo Fonseca numa equipa que teve de montar com base num plantel que não parece ter a qualidade que sempre teve em temporadas anteriores. Mas agora já está com os mesmos pontos do Benfica e o Estoril, equipa que consegue estar no quarto lugar com apenas quatro golos marcados. É obra. Tanto quanto a que Quim Machado tem fabricado em Setúbal, onde parece estar a formar uma equipa à base do “podemos sofrer muitos golos desde que marquemos sempre mais um que o adversário”. Porque o Vitória já sofreu 11 este campeonato e já marcou 12 — o que lhe dá o segundo melhor ataque, a segunda pior defesa e o 13.º lugar na liga. E muito entusiasmo nos jogos, está visto.

desilusão

Cinco jornadas, nem um mês e meio de bola a rolar e já dois bancos balançaram. O primeiro foi o da Académica, que no domingo ficou sem José Viterbo. O treinador que a época passada pegou numa Académica perdida a meio do campeonato e prometeu cortar o bigode se a mantivesse na primeira liga demitiu-se, após arrancar esta liga com cinco derrotas. E sim, ainda estava de bigode. A despedida aconteceu logo na conferência de imprensa após a partida com o Boavista (0-2), em Coimbra, e até levou lágrimas aos olhos de José Eduardo Simões, presidente do clube.

No dia seguinte, sem lágrimas à vista, foi a vez de Armando Evangelista dizer adeus ao Vitória de Guimarães. O treinador que pegou no legado deixado por Rui Vitória não fez melhor que somar três derrotas, três empates — o último apareceu este fim de semana (2-2), com o Vitória de Setúbal — e uma vitória. Demitiu-se, deixa os vimaranenses instáveis como não estavam há muito e já se fala que Sérgio Conceição poderá suceder-lhe no cargo. Esta é das tradições que Portugal não larga por nada, a de abdicar cedo de técnicos quando os primeiros resultados não são os desejados. As tais chicotadas, como tanto se diz.

O Moreirense está a dar o exemplo, ao continuar, tranquilo, com Miguel Leal, treinador que fez a equipa dar muitos nas vistas durante a temporada passada e que, nesta, tem quatro derrotas e um empate nas primeiras cinco jornadas.

frase

“Campeões sem sofrimento só na PlayStation.” Já se sabe que Jorge Jesus tem queda para dizer coisas que ficam no ouvido, frases bombásticas pela originalidade dos argumentos ou o inusitado do raciocínio. Esta surgiu após o Sporting tardar em marcar um golo (aos 86′) a um Nacional da Madeira que jogou quase uma hora com menos um jogador e nunca mostrar futebol de encantar. E tem razão. É muito rara a equipa que chega ao final da época sem que, pelo meio, ganhe uma ou outra partida sem brilho e a sofrer.

Depois disse ainda que está “a 100%” com o presidente e que concorda com “o que o presidente achar melhor para os interesses do clube”. Isto sobre o caso de André Carrillo, peruano que parece que não jogará mais no Sporting enquanto não quiser renovar o contrato com o clube. E estas palavras de JJ deram a certeza de uma coisa: que é Bruno de Carvalho a decidir tudo nesta divergência e o treinador não o vai contrariar.

resultados

Vitória de Setúbal 2-2 Vitória de Guimarães
Tondela 0-1 Estoril Praia
Paços de Ferreira 0-3 Rio Ave
Académica 0-2 Boavista
União da Madeira 0-0 Arouca
FC Porto 1-0 Benfica
Belenenses 2-0 Moreirense
Sporting de Braga 5-1 Marítimo
Sporting 1-0 Nacional da Madeira

A equipa mais portuguesa do campeonato conseguiu, por fim, ganhar. O Belenenses de Sá Pinto (26 portugueses num plantel com 28 jogadores) registou a primeira vitória, enquanto o União da Madeira continua a ser a equipa que, a par do FC Porto, menos golos sofre — apenas dois em cinco jornadas.