Faltam oito dias até às eleições e a palavra de ordem na coligação é não cometer erros. Na verdade, faltam 10, mas entre a comitiva que acompanha Pedro Passos Coelho e Paulo Portas pelas voltas de Portugal costuma-se dizer que “só faltam oito, porque os dois últimos dias antes do dia de reflexão [que se vão centrar no Porto e em Lisboa] já não contam”. A maratona já passou a prova de fogo a sul, onde encontrou pequenas manifestações organizadas e onde se resguardou do contacto com a população, e aterrou hoje no norte, em Viana do Castelo, com confiança renovada. As sondagens sopram a favor, os dados do INE nem por isso, mas Passos e Portas desvalorizam. “A partir daqui é mais fácil”, ouve-se dizer.

Assim que Passos põe os pés na rua, em Arcos de Valdevez (terra de maioria laranja), é recebido por uma multidão. Estava tudo preparado para o receber, com flores compradas para efeitos de distribuição, e gente vinda de longe só para ver o primeiro-ministro. Equipados a rigor, com bandeiras e lenços azuis e laranja ao pescoço, foi a primeira vez que, além do tradicional grito de “Portugal! Portugal!” (entoado pelos jotas), se gritou “Vitória! Vitória!”.

O mote foi depois aproveitado por Paulo Portas, ao almoço em Ponte de Lima, que sublinhou a expectativa real de a coligação ter “maioria absoluta no distrito de Viana”. Se o mesmo se aplica ou não ao país era a pergunta que se impunha. “Acho que os portugueses no dia 4 de outubro têm uma opção nítida para fazer: Portugal precisa de estabilidade para poder aproveitar o momento de confiança. Isto significa que o país tem de ser governável. Caminhamos para melhor, mas para podermos fazer isso é preciso estabilidade”. Foi a resposta possível. Para bom entendedor, palavra “estabilidade” basta.

Mas para chegar lá, à tão desejada maioria absoluta, Portas sabe que é preciso convencer aqueles que “não concordam com tudo o que aconteceu e com todas as nossas propostas, mas que percebem que a estabilidade e a confiança estão do nosso lado”. O truque está nos indecisos. E numa altura em que as sondagens jogam a favor da direita, junta-se a crença de que, segundo fonte da campanha, a coligação tem “mais capacidade para atrair os indecisos do centro”, porque o eleitorado descontente é menos atraído por “demagogia” e “radicalismos”.

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Ponto de viragem: agora o futuro

À chegada ao norte, onde a caravana ficará até ao dia 2 de outubro, reina a ideia de que, depois de uma pré-campanha centrada no passado e no passa culpas, agora é tempo de falar de futuro. Não necessariamente de promessas, mas “da visão que temos para o futuro do país”, diz Passos aos jornalistas em Arcos de Valdevez. O passado, de qualquer forma, ficou lá atrás: “Perdemos cada vez menos tempo a falar do que ficou para trás, as pessoas já têm um entendimento cristalino sobre o que fizemos”, reiterou minutos depois em Ponte de Lima.

“Um faz o contraponto necessário com o PS e o outro fica mais livre para falar de futuro”, é assim que, segundo fonte da campanha, se organiza a coligação, com Portas a ficar com o papel de “snipper”, como apontou o deputado socialista Pedro Nuno Santos.

Nem os números do défice atrapalham a estratégia de falar num futuro otimista. Os números do INE conheceram-se logo de manhã – empréstimo ao Novo Banco fez défice do ano passado crescer para 7,2% do PIB, e défice até junho de 2015 foi de 4,7%, bem longo dos 3% desejados – mas Passos e Portas alinharam logo o discurso por cima. Quanto ao Novo Banco, “dados servem apenas para fins contabilísticos e não afetam a vida das pessoas”, e quanto ao défice para 2015, mantém o otimismo – ficará abaixo dos 3% sem medidas adicionais.

Certo é que a paisagem combina com o otimismo. Esta quarta-feira foi, de facto, a primeira vez que Passos foi erguido em ombros, juntamente com o ministro da Segurança Social, Luís Pedro Mota Soares – já que Portas estava ausente a fechar o acordo para a Web Summit e só se juntaria à comitiva pela hora de almoço. O difícil no meio de tudo foi ver o líder do PSD – mesmo com os pés longe do chão. Fora do perímetro onde todos se atropelavam para dar flores a Passos, várias eram as pessoas, na sua maioria idosos, que ficavam a ver o cortejo passar, mas sem meter o nariz. Muitas queixavam-se por não conseguir chegar lá, outras, na verdade, nem tentavam. Também não teriam nada de bom a dizer ao primeiro-ministro.

“Nem tentei ir ali para o meio”, diz ao Observador uma pensionista, que olha para o cenário com ar de reprovação. “Mas se fosse, dizia-lhe para ter juízo”. A história repete-se outras vezes. Outro senhor, que foi emigrante em França, e que também não se arrisca a ir para o meio da confusão, não está satisfeito com a visita. “Querem-nos comer a reforma que nos custou tanto a ganhar”, diz, sublinhando que se recusa a pôr dinheiro nos bancos portugueses. Nem tudo é bom, mas a palavra de ordem é clara: fazer uma campanha positiva, mais acesa, e com menos palavras complicadas. “Não é preciso aumentar o ritmo, basta deixar tudo como está. Se não houver erros, estamos bem assim”, diz fonte da campanha. Só faltam oito dias.