Um dragão aqui, uma bruxa acolá. Ao centro, uma torre erguida de tijolo em tijolo, a romper pelas nuvens. O cenário descrito tem tudo de fantástico mas diz respeito a um projeto bem real: o quadro de rotinas Deedoo, da autoria da psicóloga clínica Olga Reis — que já antes esteve à conversa com o Observador a propósito da arte do desfralde — promete desenvolver a autonomia das crianças. É, ao mesmo tempo, um convite à organização dos afazeres do dia a dia e um brinquedo.

Descompliquemos. O Deedoo convida os mais novos a cumprir rotinas. A eles cabe-lhes a função de assinalar no quadro as tarefas realizadas com recurso a 17 ímanes coloridos que viajam da coluna “vou fazer” para aquela onde se lê “já fiz”. Cada íman está associado a uma tarefa por cumprir, desde lavar as mãos a preparar a mochila para a escola. A ideia é criar hábitos e, consequentemente, melhorar as relações lá de casa.

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O quadro de rotinas é composto por 17 ímanes, sendo que cada íman diz respeito a uma tarefa por cumprir. DR

“A implementação de rotinas desde cedo ajuda a prevenir muitos problemas”, começa por dizer Olga Reis, que se apressa a explicar que estas geram segurança, diminuem a ansiedade e até reduzem situações de desorientação. A longo prazo, a ausência de rotinas pode mesmo estar na origem de pessoas com pouca resistência à frustração, ditas mais “frágeis”.

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Uma rotina bem planeada ajuda na formação de bons hábitos que, uma vez incorporados, evitam castigos e “agressões” (como palmadas). A psicóloga lembra que a sequência de tarefas contribui para a independência, responsabilidade e autoestima de uma criança, embora não precise de ser uma coisa rígida, pelo que a definição de horários e compromissos deve ser feita com afetividade. “Devem-se explicar aos mais novos que as rotinas podem ser alteradas.”

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O quadro divide-se em duas colunas – “vou fazer” e “já fiz” -, e O Deedoo é o primeiro produto de uma marca prestes a nascer. DR

Brincar com o quadro não é coisa que se faça sem a orientação dos pais, os quais têm o dever de explicar para que serve e como funciona. O jogo que não é jogo destina-se a crianças a partir dos três anos (as ilustrações pretendem ajudar sobretudo quem ainda não lê) e tem uma utilidade pedagógica que promete estender-se até à adolescência.

Por esse motivo, nem todas as tarefas se adequam a todas as idades: com crianças mais pequenas devem ser criadas rotinas em torno da alimentação, higiene e horas de deitar; à medida que o tempo passa ganham maior destaque atividades que incluam a arrumação do espaço, a organização dos objetos de uso pessoal ou ainda a participação em tarefas familiares.

A dualidade “a fazer” e “feito” é encarada pelos mais novos como um desafio e cada certinho na lista das tarefas é visto como uma conquista. Porque todas as vitórias devem ser celebradas, o quadro vem com estrelas que têm como único propósito servirem de reforço positivo. E se ao fim de cinco estrelas a criança tiver direito a pedir uma prenda — cada família faz a sua própria combinação –, Olga Reis sugere que os pais incentivem os filhos a pedir um programa em vez de um brinquedo.

Deixem-nos escolher uma atividade, nunca lhes deem um brinquedo”, apela. É neste ponto que a psicóloga esclarece que caso as crianças peçam por objetos, é porque em causa pode estar um défice na relação pai e filho. Ou seja, “são crianças que não estão habituadas a brincar com os pais. A procura do brinquedo é uma chamada de atenção.”

Por enquanto o Deedoo é apenas um quadro de rotinas que pode ser adquirido no site www.deedoo.pt por 29,90 euros (portes incluídos), mas há planos de crescimento. Olga Reis conta que a ideia é fazer do nome carinhoso uma “marca de produtos que procurem envolver a família e melhorar as relações debaixo do mesmo teto”, pelo que mais novidades estarão a caminho.