“Não nos roubem o Natal”, “Com os valores de Abril e a Luta de Maio: A lura continua!” ou “Os nossos filhos têm direito ao Natal” – são algumas das frases que se leem em faixas e placas espalhadas entre os cerca de 50 trabalhadores que desde as 07:00 estão concentrados junto aos estaleiros da Rechousa.

O representante da Comissão de Trabalhadores (CT), José Martins avançou, aos jornalistas, que a falta de pagamentos, nomeadamente da totalidade do mês de novembro e do subsídio de férias, “arrasta-se no tempo”, não sendo “virgem nem inédita”. Já sobre o anúncio de despedimento de meio milhar de pessoas, o responsável confessou ter “esperança” de uma reversão, deixando apelos ao Governo socialista de António Costa.

“Fala-se sobre o setor financeiro, fala-se de mais um banco em dificuldades, mais um auxílio do Governo, mas relativamente à construção civil e outros setores importantes, de que é que se fala? Rigorosamente nada. Temos cerca de 275 mil a 300 mil na construção civil e estamos à espera que todos emigrem?”, questionou.

José Martins recordou que a Soares da Costa é uma empresa centenária que, disse, “subiu como subiu graças aos trabalhadores” que “vestem a camisola”, pelo que a situação atual “agoniante”, acrescentou.

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“O lema da empresa era ‘nós ganhamos pouco mas é certinho’ e neste momento continua pouco mas já não é certo (…). Como diria [Fernando] Pessoa ‘quando a alma não é pequena, tudo vale a pena’. O novo primeiro-ministro tem aqui uma boa oportunidade de mostrar aos portugueses que é diferente do Governo que saiu. Nesse sentido há sempre esperança”, disse.

Na carta enviada pela Soares da Costa à CT, a construtora justifica o despedimento coletivo com a crise em Portugal e Angola, apontando “repercussões nefastas” para a empresa da crise e a “estagnação do mercado de construção”, mas os trabalhadores vincam “não ter culpa” desta situação e criticam as administrações.

“Caíram pessoas de para-quedas aqui que não sabem o que é isto. Há muita falta de respeito com os trabalhadores. Não acredito que isto [número de despedimentos] fique por aqui”, referiu António Cardoso, funcionário da Soares da Costa há 30 anos, setor de metalomecânica.

Também Hélder Costa, há 14 anos a trabalhar na carpintaria da Soares da Costa, criticou o “impasse ao longo dos anos”, apontou “má gestão” e vincou pedidos feitos às câmaras do Porto e de Vila Nova de Gaia que para que intercedam junto do Governo.

“Exigimos o pagamento de salários em atraso em Portugal, Angola e Moçambique” é outra das mensagens escritas numa das faixas, sendo que sobre a situação em território angolano o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (SITE-Norte) disse ter conhecimento de “situações dramática” de cinco meses em atraso.

“E as famílias em Portugal estão numa situação muito complicada (…). Não há dinheiro para pagar salários e subsídios, não sabemos onde vão buscar dinheiro para um despedimento coletivo”, referiu Luís Pinto. Tanto a CT como o SITE-Norte falaram esta manhã de cerca de 400 trabalhadores que atualmente estão em regime de inatividade.

A Soares da Costa é controlada em 66,7% pela GAM Holdings, detida pelo empresário angolano António Mosquito, que entrou no capital da construtora no final de 2013, sendo os restantes 33,3% da SDC – Investimentos (ex-Grupo Soares da Costa).