O ex-primeiro ministro socialista da Espanha, Felipe González, afirmou esta quarta-feira em entrevista ao jornal El País que PSOE e o PP não devem impedir ninguém de governar. Segundo o político, “não se deve negar a possibilidade de um Governo se eles [os outros partidos] não podem fazê-lo”.

A afirmação do histórico socialista deixa forte pressão para Pedro Sánchez, líder do PSOE. Ao afirmar que “nem o PP nem o PSOE deveriam impedir que o outro governe”, o ex-líder histórico socialista deixa a ferro e fogo a estratégia de Pedro Sánchez – que logo após as eleições de dezembro deixou claro que votaria contra um Governo do PP, vencedor das eleições.

González critica, no entanto, a atitude do partido de Mariano Rajoy após perceber que não teria votos para se fazer eleger. “O PP não leu o resultado como é: uma derrota. Não só por perder 60 deputados, mas também pela sua rejeição no Parlamento”. E dispara: “Ninguém tem direito a dizer ao chefe do Estado nem que aceita nem que se retira, como fez Rajoy. É de uma irresponsabilidade difícil de qualificar”.

Mas o grande alvo de González é possível aliança de Pedro Sánchez com o Podemos. “A leitura errónea também afeta o PSOE, que sofreu uma derrota clara e deveria ter considerado a vontade dos cidadãos”, justifica.  González acredita que se deve contar com o PP para fazer “as reformas que Espanha precisa”. “Parece-me indiscutível que se dialogue com o PP”, assegura.

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A declaração contraria a posição de Sánchez sobre um governo liderado por Rajoy, conforme publicação feita esta quarta-feira na sua página pessoal: “Rajoy é parte do problema e não da solução política da Espanha”, disse.

González também não parece concordar com um governo de bloco central. “A proposta de uma grande coligação PSOE, PP e Ciudadanos nasce de um fracasso e não se imagina a governabilidade a médio prazo”. O ex-primeiro ministro espanhol também discorda de uma aliança entre o PSOE e Ciudadanos. “Se falamos de um governo do PSOE com o Ciudadanos, deve haver fundamentos programáticos e deputados para apoiá-los”, defende. E a verdade é que só os deputados do PSOE e do Ciudadanos não chegam para uma maioria parlamentar.

Também não faltaram críticas ao partido de Pablo Iglesias. “Os dirigentes do Podemos, em relação aos seus votantes, querem liquidar, não reformar, o marco democrático de convivência e, ao mesmo tempo, [liquidar] os socialistas”. E continua:

Podemos atua a partir de posições parecidas as dos seus aliados na Venezuela, mas escondem-no de maneira oportunista. São puro leninismo 3.0″, sentencia.

A afirmação coincide com  uma publicação realizada esta quarta-feira por Iglesias na sua conta no Twitter. “Tomara que o PSOE se distancie de [José María] Aznar e [Felipe] González e escute as pessoas que querem um Governo de mudança e progresso”, lê-se.

A polémica da distribuição dos assentos parlamentares

E se parece que continua longe uma solução de governo, também há discussão sobre a distribuição dos assentos no hemiciclo.

Pablo Iglesias entregou esta quarta-feira ao presidente do Congresso espanhol, Patxi López, uma proposta de distribuição das bancadas no hemiciclo, como alternativa ao ordenamento aprovado esta terça-feira pela Mesa do Congresso. Segundo noticia o jornal El País, a diferença entre as duas propostas está na localização dos deputados do Podemos: o partido de Iglesias reividica três assentos da primeira fila, quatro da segunda fila, cinco da terceira fila e seis na quarta e quinta filas – todas ocupadas pelo PSOE. Na distribuição aprovada pela Mesa, o Podemos senta-se apenas nas quatro fileiras mais elevadas no hemiciclo.

Esta é imagem do ordenamento do Congresso espanhol aprovado esta terça-feira, entregue aos meios de comunicação social de  Espanha:

E esta é a proposta do Podemos partilhada nas redes sociais do partido:

Íñigo Errejón, número dois do Podemos, qualificou de “fraude aos eleitores” a decisão da Mesa do Congresso. “É um abuso que mandem aos representantes de cinco milhões de eleitores ao galinheiro”, afirmou esta terça-feira aos jornalistas em citação do jornal El País.

Já a primeira vice-presidente do Congresso, Celia Villalobos, do partido Partido Popular (PP), amenizou a polémica e disse que a Mesa não poderá tomar em consideração a proposta do Podemos, já que a decisão da distribuição de assentos corresponde aos distintos grupos parlamentares.

“Na Mesa temos a nossa responsabilidade, mas no final das contas são os parlamentares através dos seus grupos, que decidem. Teria que ser um acordo de todos os grupos, que estejam de acordo com uma distribuição diferente. Já posso dizer, pela experiência que tenho na Mesa, que até agora não se produziu nada”, afirmou à publicação.

Como funciona a distribuição de assentos

Segundo relata o jornal El País, o plano para a distribuição dos assentos parlamentares foi proposto por Villalobos. Ela terá negociado com o PP, PSOE e Ciudadanos antes de apresentá-lo à Mesa. O Podemos terá ficado de fora das conversas. A publicação conta que o partido de Iglesias esteve reunido com a deputada esta segunda feira para negociar questões administrativas como a distribuição de gabinetes no Congresso, mas não foi mencionado o ordenamento do hemiciclo.

A proposta de Villalobos foi apovada pela Mesa do Congresso com os votos favoráveis dos dois deputados do PP, dos dois deputados do Ciudadanos e da representante do PSOE, Micaela Navarro. O presidente do Congresso, Patxi López, não votou para “manter uma posição institucional” e para que “se busque outra solução com acordo nas próximas semanas”, descreve a publicação. Os dois representantes do Podemos, Gloria Elizo e Marcelo Expósito, votaram contra, mas foram vencidos pela maioria.

O El País destaca que não existe nenhum regulamento específico sobre a distribuição de assentos parlamentares no hemiciclo. A questão costuma ser resolvida no início da legislatura e respeita a tradição de localizar o PP à direita e o PSOE à esquerda. Cabe aos partidos nacionalistas e ao Grupo Misto os lugares localizados no centro do Congresso.

Os resultados eleitorais das últimas eleições legislativas trouxeram, no entanto, um novo desafio para a distribuição dos assentos. O partido Izquierda Unida deixou de sentar-se detrás do PSOE e passou a integrar o Grupo Misto como resultado da eleição de apenas dois deputados. Os 65 deputados do Podemos e os 40 deputados do Ciudadanos passaram a ocupar lugares no Congresso antes pertencentes ao PSOE e PP, respetivamente.