Palavras duras do socialista António Galamba. Num artigo de opinião publicado no jornal i, o segurista critica aqueles que, no PS, querem “transformar derrotados em vencedores, sem cuidar do ridículo“. A conclusão só pode ser uma, tira-a António Galamba: a “vergonha na cara morreu”.

Em causa está o resultado dos candidatos da área socialista nas eleições presidenciais. Para o ex-deputado do PS, crítico de primeira hora do rumo que os socialistas tomaram nos últimos meses – guerra interna, derrota nas legislativas, aliança à esquerda, indefinição em torno dos candidatos nas presidenciais e o resultado nessas eleições -, o que aconteceu a 24 de janeiro foi uma derrota inequívoca do PS. Não há outra leitura possível, sublinha António Galamba.

“Perante a ausência de estratégia política e a proliferação de candidaturas à esquerda, o secretário-geral apelou ao voto dos socialistas nos dois candidatos considerados: Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa. E o povo socialista não correspondeu. Aliás, entre as legislativas e as presidenciais, considerando os candidatos objeto do apelo de António Costa, o PS perdeu quase meio milhão de votos“, escreve o socialista.

Apoiante de Maria de Belém na corrida presidencial, António Galamba reconhece a derrota da ex-Presidente do PS, mas, ainda assim, não resiste em dar uma alfinetada à direção socialista – e a António Costa, claro. “Como não padeço de nenhuma maleita que transforma derrotas em vitórias, é uma evidência que (…) Maria de Belém teve um resultado muito aquém das expetativas”.

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Pequeno parênteses para voltar a criticar a direção socialista. “Apesar de ter perdido a segunda eleição seguida, António Costa que não assumiu as responsabilidades políticas como líder do PS, escondeu-se atrás do biombo de primeiro-ministro e falou depois do presidente eleito. Definitivamente, a tradição já não é o que era”.

Ora, denuncia António Galamba, parece haver um “aparente contágio da sociedade pela tradicional atitude eleitoral do PCP: tudo é vitória mesmo quando se perde“. E, numa mensagem implícita aos que dizem que o segurismo morreu com a derrota de Maria de Belém, o ex-vice-presidente da bancada socialista responde: “Só morre quem desiste de pensar e agir em coerência com os seus valores, os seus princípios e a sua visão do mundo”.

A terminar, uma radiografia daquilo que António Galamba acredita terem sido os últimos meses de governação socialista e uma referência à expressão “poucochinho”, que Costa utilizou para descrever a vitória de António José Seguro nas eleições europeias. Tudo para deixar um recado: o PS que se cuide.

“No atual quadro político, sem a adequada atenção para o poder local, com os fundos comunitários embrulhados, com o Governo nos gabinetes a responder a perguntas, requerimentos e concertações com os parceiros políticos e com reversões de medidas para os que sempre estiveram dentro do sistema, até parece que a declaração de princípios de alguns se resume a ‘conquistar e manter o poder’. É poucochinho para a exigência da empresa que o país tem no horizonte e pode levar a que, para o PS, não haja duas sem três, derrotas“.