Dezassete antigas ministras francesas lançaram um apelo inédito contra o silêncio e a impunidade face ao assédio sexual, após a demissão de um dos vice-presidentes do parlamento francês alvo de acusações desse tipo.

“Chega. A impunidade acabou. Não nos calaremos mais. Denunciaremos sistematicamente todos os comentários sexistas, os gestos inapropriados, os comportamentos impróprios. Encorajamos todas as vítimas de assédio sexual e de agressões sexuais a falarem e a apresentarem queixa”, escreveram as ex-ministras de todos os quadrantes políticos no apelo publicado no semanário Journal du Dimanche.

“Pedimos aos nossos partidos e grupos políticos para verificarem se tais atos foram cometidos e, se for o caso, para ajudarem as vítimas a esclarecer a verdade”, adiantam.

Na semana passada, oito mulheres, entre as quais quatro eleitas, acusaram o deputado ecologista Denis Baupin, casado com a ministra da Habitação, Emmanuelle Cosse, de assédio e agressão sexual.

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Baupin rejeitou “as alegações”, mas demitiu-se do cargo de vice-presidente do parlamento, enquanto o Ministério Público de Paris abriu um inquérito.

Cinco anos após as revelações sexuais sobre o ex-diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) Dominique Strauss Kahn, que enfrentou acusações de agressão sexual em Nova Iorque (abandonadas devido a declarações contraditórias da alegada vítima, que chegou depois a um acordo com o político francês), as antigas ministras consideram que “desta vez, é demais”.

Entre as signatárias estão as ecologistas Cécile Duflot, Corinne Lepage, Dominique Voynet, as ex-ministras de direita Roselyne Bachelot, Nathalie Kosciusko-Morizer, Valérie Pécresse e de esquerda Elisabeth Guigou, Aurélie Filippetti e Fleur Pellerin.

Assinaram também o apelo a atual diretora do FMI e ex-ministra de direita Christine Lagarde e Monique Pelletier, ministra sob a presidência de Valéry Giscard d’Estaing (1974-1981) e que acaba de romper o silêncio 37 anos depois de ter sido agredida por um senador.

As ex-ministras defendem a “extensão dos prazos de prescrição” em relação à agressão sexual, atualmente de três anos, a possibilidade das associações competentes poderem apresentar queixa em vez das vítimas e também que o Ministério Público receba instruções para “processar sistematicamente em caso de assédio”.

A ministra dos Direitos das Mulheres, Laurence Rossignol, lembrou hoje no canal France 3 que as duas primeiras propostas estão em processo de adoção ou elaboração.

Um dos raros homens a intervir hoje no debate foi o primeiro-ministro Manuel Valls, que através da rede social de mensagens curtas Twitter expressou o seu apoio à iniciativa das antigas ministras.