Alguns dos investigadores mais prestigiados do mundo na área da oncologia estarão entre os milhares de académicos cujas pensões estão a ser investidas na indústria do tabaco. A revelação é do The Guardian e promete abalar o meio académico e científico britânico.

De acordo com a investigação do jornal britânico, o Universities Superannuation Scheme — um fundo de pensões que alberga académicos e staff das universidades de todo o Reino Unido — fez investimentos milionários (211 milhões de libras, cerca de 277 milhões de euros) na British American Tobacco, detentora de marcas como a Lucky Strike. E este nem sequer é o único investimento controverso, continua o The Guardian: entre 2014 e 2015, o fundo investiu um total de 344 milhões de libras (cerca de 452 milhões de euros) na petrolífera Shell.

Muitos destes investigadores são financiados pela Cancer Research UK (CRUK), mas trabalham em universidades cujo sistema de pensões está integrado no Universities Superannuation Scheme. “Isto significa que, mesmo que apenas de forma indireta, e através do nosso tempo e trabalho, o dinheiro da CRUK está a ser investido no crescimento e no apoio à indústria do tabaco”, afirmou uma investigadora ao The Guardian. “A ideia de que todos nós temos a nossa pensão investida na British American Tobacco é ultrajante”.

Os responsáveis da CRUK já reagiram às revelações do The Guardian. “Muitas pessoas ficariam chocadas se soubessem que as suas pensões estão investidas em ações de empresas ligadas ao setor do tabaco — especialmente aqueles que lutam para desenvolver curas para doenças causadas por esta indústria letal. [No entanto], os próprios fundos de pensão da CRUK [não têm investimentos] no setor do tabaco. Mas muitos dos nossos pesquisadores trabalham em instituições em que esse não é o caso”, afirmou um dos porta-vozes da CRUK.

Os representantes das principais universidades britânicas fizeram questão de garantir que o Universities Superannuation Scheme é um “investidor responsável” que leva em conta “questões sociais, éticas e ambientais” e que tem desenvolvido um trabalho importante junto da indústria tabaqueira no sentido de regular eficazmente as campanhas de marketing envolvendo produtos tabagistas.

Também os responsáveis do Universities Superannuation Scheme vieram a terreiro defender o trabalho desenvolvido por aquele fundo. “A fim de assegurar a diversificação adequada” e a sustentabilidade do fundo “investimos numa ampla gama de empresas e ativos”, explicam, em comunicado. “[Temos trabalhado] com as empresas onde investimos no sentido de melhorar os padrões éticos, ambientais e de gestão”, asseguram.

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