Abu Malik al-Shami é um combatente rebelde sírio de dia e um artista de intervenção à noite. Os murais que pinta em edifícios destruídos nos arredores de Damasco traçam um retrato do conflito no país, e já lhe valeram o título de “Banksy da Síria”. O artista já pintou 32 murais no bairro de Darayya, nos arredores de Damasco (veja alguns na fotogaleria acima). “Alguns ainda têm as cores e as linhas, mas outros já perderam muitos dos detalhes, devido aos bombardeamentos contínuos na cidade”, diz Al-Shami ao portal Syria Direct.

O primeiro mural apareceu em 2014, depois de Al-Shami ter deixado a escola para se juntar ao Exército Livre da Síria. Era nas ruínas de uma casa destruída, e mostrava uma rapariga a apontar para um coração, a ensinar um soldado antes de seguir para a batalha. Acaba por ser uma memória da sua própria vida. Al-Shami, atualmente com 22 anos, deixou os estudos para se juntar aos protestos contra o regime de Bashar al-Assad. Em 2013, juntou-se ao Exército Livre da Síria, em Darayya — no primeiro dia aprendeu a usar uma arma, e no segundo foi enviado para a frente de batalha.

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“Quando cheguei a Darayya, fiquei completamente chocado. Havia destruição total em todo o lado, e, naquela altura, o regime bombardeava ao acaso e atacava as pessoas. A situação era miserável, insuportável. Tudo colapsava”, recorda o artista sírio. E as lojas de produtos artísticos estavam em ruínas. Para encontrar ferramentas para trabalhar, Al-Shami pediu autorização ao dono de uma das lojas para procurar nos escombros por tintas e pincéis, escreve a BBC.

Quando começou a pintar os murais, receou que as pessoas não gostassem de ver as pinturas nos destroços. Mas a reação foi o oposto do esperado. “As pessoas começaram a perguntar pelos murais, a dar ideias e dicas de bons locais para pintar. Fizeram críticas para que as pinturas ficassem mais completas”, recorda ao Syria Direct.

O mural que captou a atenção mundial foi uma pintura chamada Hope [Esperança]. Retrata uma criança, com um vestido azul, em cima de um monte de caveiras e capacetes militares, enquanto escreve a palavra ‘esperança’. “Mostra que há sempre alguma coisa bela à nossa espera, apesar de toda a dor que experienciamos”, conta.

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