— Olhe que não pode passar por aqui, respeite a família e o protocolo.
— Não posso? Mas eu vou por ali, furo o protocolo. Quero dizer adeus ao bochechas. Sabe quem é o bochechas?
— Então não sei?! Mas esteja lá sossegado, que é a hora da família.
A conversa entre dois cidadãos, ele com 80 anos feitos, mais arisco, ela, a caminhar para lá, mas mais cautelosa, ouvia-se no cemitério dos Prazeres junto ao jazigo 3820. No momento silencioso em que estava a ser depositada a urna de Mário Soares, lado a lado com os restos mortais de Maria de Jesus Barroso, vários eram os populares que queriam passar as barreiras de segurança para presenciar o último adeus. Mas a família tinha pedido privacidade naquele momento e, embora não pudesse impedir ninguém de avançar, havia quem zelasse pelo pedido. Era o caso daquela mulher, de rosa amarela na mão, que falava alto para tentar travar as investidas de quem queria contornar o cemitério para chegar mais perto do jazigo.
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