É um passos atrás na polémica ordem executiva anti-imigração de Donald Trump. Depois de este sábado se terem multiplicado os casos de cidadãos naturais de países muçulmanos que foram impedidos de entrar nos EUA, mesmo tendo vistos válidos de residência, um porta-voz oficial da Casa Branca vem a público dizer que aqueles que têm autorização de residência (green card) não serão travados à entrada.

De acordo com o New York Times, Reince Priebus, chefe de gabinete da Casa Branca, defende o decreto presidencial que está por detrás de toda a polémica anti-refugiados e anti-imigração muçulmana, apesar de agora vir dizer que a lei não inclui os que têm autorização de residência. “Em relação aos que têm autorização de residência, sigam em frente, a lei não os afeta”, disse. Isto apesar de ao longo do dia de ontem vários terem sido os casos de pessoas que ficaram retidas em aeroportos mesmo tendo autorização de residência nos EUA. Foi o caso, por exemplo, dos dois iraquianos que foram detidos pelas autoridades no aeroporto J. F. Kennedy, sendo que um deles tinha servido como intérprete para o exército norte-americano durante mais de dez anos, na guerra do Iraque.

Mas nem por isso a Casa Branca tem dúvidas sobre a lei. Reince Priebus diz ainda que os agentes que estão nas fronteiras têm “autoridade discricionária” para deter e interrogar viajantes suspeitos que venham de determinados países. No programa “Meet the Press”, do canal NBC, o responsável da Casa Branca defendeu que a ordem executiva de Trump estava ser levada a cabo de forma suave e tendo em vista a proteção dos norte-americanos dos ataques terroristas.

Durante a entrevista televisiva, Priebus disse várias vezes que os que têm visto não têm de se preocupar, mas que os restantes, e mesmo os cidadãos americanos que viagem para os EUA vindos de um país de maioria muçulmana, vão ser sujeitos a um escrutínio apertado no controlo de fronteiras. “Se for um cidadão americano que vem da Líbia para os EUA, por exemplo, vai estar sujeito a um interrogatório apertado quando chegar ao aeroporto”, avisou logo, acrescentando depois que os agentes das autoridades fronteiriças têm “autoridade discricionária” para deterem quem quer que considerem ser suspeito.

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Esta hiper-vigilância, disse, vai continuar durante os próximos meses para os cidadãos que venham dos sete países identificados como de maioria muçulmana — Iraque, Irão, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iémen — até haver um “sistema melhor”. A ordem executiva de Donald Trump estabelece que todos os refugiados estão proibídos de entrar no país durante 120 dias, assim como proíbe durante 90 dias a entrada de todos os cidadãos naturais daqueles sete países.

109 detidos e 200 pessoas impedidas de voar

Segundo números da Casa Branca, a aplicação do decreto anti-imigração já levou, desde sexta-feira, à detenção de 109 pessoas nas fronteiras e impediu cerca de 200 pessoas de voarem para os Estados Unidos.

O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, indicou este domingo que dos 325.000 estrangeiros que chegaram aos Estados Unidos no sábado “109 pessoas” passaram por um controlo reforçado para “garantir que as pessoas que deixamos entrar no nosso país vêm com intenções pacíficas”, declarou hoje ao canal ABC. “Não queremos deixar que se infiltre alguém que procure prejudicar-nos. É tudo. Sei que em alguns casos isto vai causar inconvenientes”, adiantou.

Sean Spicer justificou a ausência de um anúncio prévio que conduziu a uma situação caótica nos aeroportos, em particular em Nova Iorque, pela necessidade de “garantir que as pessoas não chegassem em massa antes de ser aplicado (o decreto)”.

Cerca de 200 outras pessoas foram impedidas de embarcar para os Estados Unidos, segundo disse a conselheira de Donald Trump Kellyanne Conway também num programa televisivo, do canal Fox News. Segundo o jornal New York Times, no sábado à noite 81 pessoas tinham obtido autorização para entrar nos Estados Unidos após as “verificações extremas”.

Este domingo, com a controvérsia a aumentar, também o próprio Donald Trump justificou os motivos que o levaram a assinar o decreto presidencial, dizendo, no Twitter, que o país “precisa imediatamente de fronteiras fortes e de vigilância extrema” para não acontecer o mesmo que está a acontecer na Europa: uma “trapalhada horrível”.

No sábado ao final do dia, perante os protestos e os processos judiciais que foram interpostos, Donald Trump já tinha afirmado aos jornalistas que considerava que a medida “estava a funcionar muito bem”.