As subidas do salário mínimo (em relação ao salário mediano) estão a fazer aumentar o desemprego no país. Esta é a conclusão de um relatório de Isabel Vansteenkiste, chefe de missão pelo Banco Central Europeu (BCE) para Portugal, publicado esta segunda-feira no site do BCE.

O relatório procura saber até que ponto “a crise deixou cicatrizes permanentes no mercado laboral português”, recorrendo para isso a um indicador conhecido como a curva de Beveridge (um rácio entre a taxa de desemprego e o número de ofertas de emprego). A partir desse indicador, a economista belga defende que os vários aumentos de salário mínimo, em relação ao salário médio, nos últimos 9 anos, agravaram a taxa de desemprego em quatro pontos percentuais.

Nas conclusões do relatório, a economista diz que em Portugal o emprego foi penalizado, desde 2008, pela inversão (negativa) do ciclo económico, isto é, a recessão, pela crise no setor da construção e pelo salário mínimo relativamente elevado, em relação ao salário mediano.

No início do programa da troika, houve um acordo de concertação social para congelar o salário mínimo em 485 euros por mês, nível onde se manteve até outubro de 2014. Nessa altura, aumentou para 505 euros por mês. “Mas entre 2008 e 2011 o salário mínimo tinha aumentado uma série de vezes, o que provocou um aumento do rácio entre o salário mínimo e o salário mediano, durante esse período” — segundo a economista, esse aumento no período entre 2008 e 2011, durante a governação de José Sócrates, contribuiu para um aumento da taxa de desemprego de cerca de dois pontos percentuais.

Depois, no período do resgate, com o salário mínimo congelado, houve uma queda do salário mediano, o que fez agravar o rácio em mais dois pontos percentuais. Os dados analisados por Isabel Vansteenkiste já não incluem as subidas do salário mínimo de 2016 e 2017. A economista defende que sem estes aumentos do salário mínimo, a taxa de desemprego de 2016 poderia ter-se aproximado dos 7%. Estamos no início de 2017 e a taxa ainda está nos 10%.

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